Alzheimer, desafios e esperança

Enfermidade degenerativa, progressiva e sem cura, a Doença de Alzheimer compromete as atividades cerebrais causando o declínio das funções cognitivas como memória, linguagem e percepção, mudanças no comportamento, personalidade e humor, levando o paciente à dependência para atividades instrumentais e, no decorrer da evolução, para atividades básicas da vida diária.

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Enfermidade degenerativa, progressiva e sem cura, a Doença de Alzheimer compromete as atividades cerebrais causando o declínio das funções cognitivas como memória, linguagem e percepção, mudanças no comportamento, personalidade e humor, levando o paciente à dependência para atividades instrumentais e, no decorrer da evolução, para atividades básicas da vida diária.

Aproximadamente 50 milhões de pessoas sofrem de Alzheimer no mundo. No Brasil, são cerca de 1,2 milhão, com custo aproximado per capita podendo chegar a R$ 40 mil por ano. O número de portadores é crescente. Projeções apontam que, em 20 anos, poderemos ter o dobro de pessoas com a doença, principalmente devido ao envelhecimento da população.

Segundo a Alzheimer’s Disease International (ADI – Associação Internacional de Alzheimer), os países em desenvolvimento serão responsáveis por mais de 2/3 dos enfermos até 2050. A mesma ADI já mostrava que, em 2010, os custos para as Américas eram de cerca de US$ 235,8 bilhões por ano com a doença, incluindo despesas médicas, sociais e de cuidados informais.

Com o aumento dos casos, os sistemas de saúde e de assistência social podem entrar em colapso se o Estado e a iniciativa privada não fizerem um planejamento adequado, levando em conta a perspectiva de aumento de incidência e prevalência. Os problemas relacionados aos recursos para o tratamento de pacientes e familiares de portadores de Alzheimer são tão relevantes que até o Fórum Mundial de Economia, em 2017, chamou a doença de um dos principais agravantes à crise na esfera da Saúde no século 21.

Em muitos países, já há Planos Nacionais de Demência que visam melhora da educação sobre o problema, do diagnóstico e tratamento médico, do apoio a cuidadores, do tratamento domiciliar e a novas pesquisas. Urge em nosso País uma ampla discussão entre entidades médicas e não-médicas, associações de pacientes e representantes do Estado para a implementação efetiva de um Plano Nacional de Demência no Brasil.

É possível prevenir e diminuir a incidência das demências em geral levando uma vida saudável, com controle adequado de fatores de risco cardiovasculares, como diabetes, hipertensão, dislipidemia, sedentarismo. Programas de atividade física regular, aumento da escolaridade da população, assim como estímulos para a manutenção de uma vida ativa após a aposentadoria, são outros fatores que devem ser levados em conta.

A boa notícia é que os medicamentos sintomáticos específicos para tratamento da DA estão disponíveis nas farmácias do Sistema Único de Saúde. A memantina, indicada nas fases moderada e avançada da doença, também foi incorporada no SUS em portaria de novembro de 2017. Também é alvissareiro saber que há muita pesquisa de qualidade, realizada nas mais conceituadas universidades e centros médicos do mundo, visando detectar as causas e encontrar tratamentos eficazes.

A expectativa é que, por um lado, haja aperfeiçoamento e descoberta de novas medicações que possam influir na evolução natural da doença. Por outro, que sejam implantadas medidas efetivas de prevenção e acolhimento de cuidadores e pacientes, que possam diminuir os custos médicos, sociais e afetivos dessa doença. Que assim seja.

Marcio L. F. Balthazar, coordenador do Departamento Científico de Neurologia Cognitiva da Academia Brasileira de Neurologia

Publicado na edição 703 da Revista da APM – setembro/2018