Dor pélvica crônica não visceral

Por ocasião da II Jornada de Dor na Mulher, que ocorrerá neste sábado, 10 de março, convidamos os especialistas Telma Regina Mariotto Zakka e Diego de Toledo para escrever um artigo sobre o tema que será discutido no evento. A jornada ocorrerá na sede da Associação Paulista de Medicina (APM) e contará com webtransmissão. As inscrições podem ser feitas clicando aqui. Boa leitura!

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Por ocasião da II Jornada de Dor na Mulher, que ocorrerá neste sábado, 10 de março, convidamos os especialistas Telma Regina Mariotto Zakka e Diego de Toledo para escrever um artigo sobre o tema que será discutido no evento. A jornada ocorrerá na sede da Associação Paulista de Medicina (APM) e contará com webtransmissão. As inscrições podem ser feitas clicando aqui. Boa leitura!

Por Telma Regina Mariotto Zakka e Diego de Toledo

A dor pélvica crônica (DPC) não visceral apresenta-se como dor persistente, de duração prolongada, não se relaciona com o ciclo menstrual e frequentemente associa-se as disfunções cognitivas, comportamentais, sexuais e emocionais, assim como a sintomas urinários e intestinais, disfunção sexual, ginecológica e do assoalho pélvico1. A dor localiza-se na pelve, na parede abdominal anterior distalmente à cicatriz umbilical e/ou nas regiões lombares e glúteas, com duração mínima de seis meses, resulta em incapacidade física e emocional e necessita de cuidados médicos2.

Sua prevalência é elevada: entre 2% e 16% da população mundial e entre 14% e 24% das mulheres durante a idade reprodutiva3. Sua etiologia relaciona-se a lesões ou disfunções de órgãos ou estruturas de naturezas ginecológicas, urológicas, gastroenterológicas, vasculares, neurológicas, ligamentares, musculares, articulares ou peritoneais localizadas na pelve. Também pode decorrer de doenças sistêmicas, inflamatórias, oncológicas, metabólicas, funcionais, neuropáticas, desmodulatórias ou psicológicas3. A intensidade e as características da dor modificam-se em decorrência de estímulos externos e internos, como ovulação, menstruação, síndrome pré-menstrual, evacuação, micção, coito, clima, emoções, etc.2 Os fatores de risco para a instalação de DPC são: a idade (menacme), história de abuso sexual, moral ou físico, doença inflamatória pélvica, gestação, parto e cirurgias abdominais e pélvicas2.

Dentre as doenças associadas ou determinantes de DPC destacam-se a endometriose, as aderências víscero-pélvicas, a síndrome do intestino irritável, a cistite intersticial, a síndrome da bexiga dolorosa e as anormalidades musculoesqueléticas e do sistema nervoso2,4,5.

Dentre as causas musculoesqueléticas que podem gerar DPC, destacam-se as anormalidades das articulações sacrilíacas, coxofemorais, sínfise púbica e do cóccix, que cursam com ampla distribuição de dor referida e espasmo reflexo dos músculos piriforme e glúteo, decorrentes de doenças degenerativas, inflamatórias, infecciosas, neoplásicas, sobrecargas mecânicas, eventos traumáticos, posturas inadequadas ou transtornos emocionais5. Uma das causas mais frequentes de DPC não visceral é a síndrome dolorosa miofascial (SDM) do abdome e assoalho pélvico3,5.

A dor pélvica crônica, portanto, constitui uma afecção multifatorial geralmente mal diagnosticada e tratada. Justificam as dificuldades diagnósticas a diversidade das características, fatos e eventos que podem comprometer a susceptilidade individual destas doentes, a diversidade das estruturas presentes na pelve e o amplo arcabouço musculoesquelético que a envolve, sustenta e protege. A DPC gera fadiga, disfunção do sono, compromete as atividades da vida diária, altera o apetite, a imunidade e as funções neuroendócrinas e determina o uso de medicamentos. No âmbito emocional gera sentimentos negativos, déficit de memória e de concentração, baixa autoestima e isolamento, ansiedade e depressão, assim como compromete as relações pessoais e o relacionamento sexual. A DPC gera um ciclo autossustentável que deve ser esvaecido para melhorar o desempenho daqueles que dela padecem4,5.

Referências
1. Mordecai, L.; Baranowski, A. Societal Impact of abdominal and pelvic pain. In: Abdominal and Pelvic Pain. Eds.: Messelink, B.; Baranowski, A.; Hughes, J. 2015. (1): 3-11.
2. American College of Obstetricians and Gynecologist (ACOG) – Committee on Practice Bulletins No. 51. Chronic pelvic pain. Obstet Gynecol. 2004. 103 (3): 589-605.
3. Simons D. C.; Travell, J.; Simons, L. Myofascial pain and dysfunction. The trigger point manual. Upper half of body. Baltimore: William & Wilkins. 1999. 1-10.
4. Bonica, J. J. General considerations of pain in the pelvic and perineum. In: Bonica, J. J., editor. The management of Pain, 2nd ed. Philadelphia: Lea Febiger. 1990. 1283-1312.
5. Engler, D.; Baranowski A.; Borovicka J.; Cotrell A. et al. Guidelines on Chronic Pelvic Pain. European Association of Urology. 2014. (9) 115-117.