Diabetes: mulher tem maior risco de morte precoce

O diabetes tipo 2 causa maior impacto na mortalidade e na redução da expectativa de vida de mulheres, pessoas mais jovens e fumantes.

O que diz a mídia

O diabetes tipo 2 causa maior impacto na mortalidade e na redução da expectativa de vida de mulheres, pessoas mais jovens e fumantes.

Isso é o que indica uma pesquisa apresentada, nesta semana, na reunião anual da Associação Europeia para o estudo do Diabetes (EASD), em Estocolmo, na Suécia. Segundo a análise, feita com dados britânicos, uma mulher com a doença metabólica tem 60% a mais de risco de morte prematura do que uma pessoa sem a complicação clínica.

Adrian Heald, principal autor do estudo, conta que a investigação procurou “determinar a maneira como os fatores demográficos e de estilo de vida subjacentes se relacionam com o risco de morrer com diabetes tipo 2”. Para isso, os pesquisadores analisaram dados de saúde de pessoas com a doença crônica residentes em Salford, na Inglaterra, colhidos entre 2010 e 2020. A amostra foi composta por 11.806 indivíduos com, em média, 66,2 anos, sendo 55% homens.

A expectativa desse público foi comparada à da população em geral com o mesmo perfil e sem a doença. No período analisado, morreram 3.921 pessoas com diabetes tipo 2 e 2.135 sem. Segundo os autores, isso representa um risco 84% maior de morte precoce entre quem tem o problema metabólico.
Três grupos com diabetes apresentaram maior vulnerabilidade: mulheres, pessoas com menos de 65 anos e fumantes.

A possibilidade de falecimento prematuro foi maior em mulheres do que em homens com a doença: 96% contra 74%. Esse dado chamou a atenção da equipe porque, geralmente, o diabetes tem um efeito maior sobre a saúde masculina. Foi observado que uma mulher diabética tem 60% mais risco de morrer precocemente do que alguém sem a doença independentemente do gênero. No caso dos homens, a taxa cai para 44%.

Heald detalha uma possível explicação para esse resultado. “Até agora, pensamos que isso se refere a mulheres que manifestam diabetes tipo 2 mais tarde do que os homens em termos de idade, enquanto já abrigam uma carga crescente de fatores de risco cardiovascular. Além disso, existem alterações no manuseio de lipídios e na composição corporal na menopausa que aumentam os processos aterogênicos — o conjunto de alterações nos níveis de gordura no sangue característicos do diabetes.”

Na avaliação de Antonio Chacra, endocrinologista do Hospital Sírio-Libanês de São Paulo, essa diferença na vulnerabilidade pode estar relacionada à jornada dupla de atividades enfrentada por muitas mulheres: “Ao longo do tempo, a população feminina passou a ocupar cada vez mais os postos de trabalho. Antigamente, era mais comum que os homens carregassem essa função de provedor. Só que as mulheres ainda são mais sobrecarregadas do que os parceiros por causa da visão da sociedade de que elas são as únicas responsáveis pelos cuidados da casa e dos filhos.
Consequentemente, elas sofrem mais de estresse, um agravante do diabetes”.

Estilo de vida

O estudo também aponta que a doença metabólica teve grande impacto na esperança de vida daqueles acometidos por ela quando estão mais jovens. Geralmente, o diabetes surge na meia-idade e na velhice, mas vem se tornando comum em fases anteriores da vida. A análise mostra que pacientes com menos de 65 anos tiveram um risco 93% maior de morte precoce e viveram oito anos a menos do que indivíduos da população em geral na mesma faixa etária sem a doença. Em contraponto, os mais velhos, a partir dos 65 anos, perderam menos de dois anos de expectativa de vida.
“Essa maior incidência está relacionada ao estilo de vida.

A população tem diminuído a prática de atividade física e a adesão a uma alimentação mais saudável. Com o estresse da vida mais moderna, esses fatores têm elevado o número de pessoas com diabetes tipo 2”, argumenta a endocrinologista Michele Borba, de Brasília.

Porém, o maior impacto na mortalidade e na redução da expectativa de vida esteve ligado ao tabagismo. Pessoas com diabetes tipo 2 fumantes foram 2,5 vezes mais propensas a morrerem prematuramente durante a década analisada. Indivíduos com esse perfil viveram, em média, 10 anos a menos do que a população em geral — a taxa foi de três anos a menos para não fumantes e ex-fumantes com diabetes.

Os números se agravam se o tabagista for uma mulher diagnosticada antes dos 65 anos com diabetes: um risco 3,75 vezes maior de morrer de forma precoce, além de viver 15 anos a menos do que uma adulta sem diabetes da mesma idade. “O consumo de cigarro é mais um item que se soma e potencializa a resposta inflamatória”, esclarece Borba.

Para reduzir a maior suscetibilidade, a adesão ao tratamento o quanto antes fará diferença na qualidade e na expectativa de vida.

Uma vez que se tem a doença estabelecida, é fundamental saber como evitar a sua evolução, afirmam os especialistas. “Em primeiro lugar, se o diabético estiver com excesso de peso, precisa ser controlado. Também tem que diminuir o estresse no trabalho fora e dentro de casa, tentar levar uma vida mais tranquila. Se for sedentário, é necessário que comece a fazer exercício físico”, indica Chacra.

Fonte: Correio Braziliense