Estudo revela hormônio protetor de danos da obesidade

Uma pesquisa inovadora, comandada pelo Instituto de Química da Universidade de São Paulo (IQ- USP) e publicada na revista científica Aging Cell, demonstra que o hormônio adiponectina contribui diretamente na preservação do equilíbrio das células beta, no pâncreas

O que diz a mídia

Uma pesquisa inovadora, comandada pelo Instituto de Química da Universidade de São Paulo (IQ- USP) e publicada na revista científica Aging Cell, demonstra que o hormônio adiponectina contribui diretamente na preservação do equilíbrio das células beta, no pâncreas. Uma de suas funções pode ser a chave para reverter danos da obesidade, relacionada à diabete tipo 2, no órgão.
Os primeiros testes realizados por pesquisadores no Laboratório de Metabolismo Energético do IQ-USP aplicaram a proteína em células beta incubadas com partes do sangue de dois grupos: ratos magros e obesos. Foram observadas alterações nas células beta, produtoras
de insulina localizadas no pâncreas. No primeiro grupo, o hormônio ajudou na proteção dessas células, enquanto no segundo, ela reverteu os danos provocados pela obesidade.
Em seguida, a pesquisa foi voltada para o soro (parte do sangue) humano. As respostas encontradas nas amostras foram as mesmas das presentes nos roedores.
—A primeira coisa nessa nova etapa é entender como isso acontecia não só em soros de ratos magros versus obesos, mas também como acontecia com sangue humano. Era algum componente que existia em comum. Notamos, então, que a falta deste hormônio no sangue faz as células beta funcionarem mal — explica Alicia Kowaltowski, professora do Departamento de Bioquímica
do IQ-USP e coordenadora da investigação.
Ao ter problemas em suas funções normais, a produtora de insulina danificada leva ao desenvolvimento de diabetes. No entanto, Ana Cláudia Munhoz Bo- assa, pós-doutoranda em Metabolismo Energético no Instituto de Química da Universidade de São Paulo
e autora da pesquisa, pontua que o hormônio sozinho não responde a todas as perguntas.
— Ela (a adiponectina) pode não ser o único fator que “falta” nas pessoas obesas para uma boa saúde do pâncreas—pontua.
A obesidade é uma doença metabólica crônica, que se caracteriza pelo acúmulo de
gordura corporal. Uma de suas consequências é o possível desenvolvimento de diabetes tipo 2, criando uma deficiência de insulina.
Segundo dados da Organização Mundial de Saúde (OMS) em 2022, mais de 1 bilhão de pessoas no mundo são obesas, sendo 650 milhões de adultos, 340 milhões de adolescentes e 39 milhões de crianças. A Federação Mundial da Obesidade prevê que na próxima década mais da metade da população mundial será afetada pela doença.
PROMESSAS
Enquanto os números relacionados à doença continuam aumentando, respostas que ajudem a tornar a vida e pessoas obesas melhor são a prioridade. Essa descoberta é crucial para a criação de fármacos com novos mecanismos
contra esse dano causado pelo desenvolvimento da obesidade. A pesquisa mostra um resultado animador para o futuro.
— A gente tem um novo caminho terapêutico. Como a adiponectina é o que está faltando, as pessoas pensariam “por que não coloca mais desse hormônio no corpo de obesos?” E muito difícil “colocar” artificialmente proteínas no sangue —esclarece Kowaltowski.
Contudo, de acordo com a pesquisadora, essa substância é o hormônio mais concentrado que se tem descrito no sangue. Por isso, seu manuseio e fabricação nào são simples. Além disso, por ser uma proteína, ela precisa ser injetada no corpo, como no caso da insulina.
— Mas, uma vez que a gente sabe que a adiponectina é um mecanismo, podemos olhar para as vias que ela afeta dentro das células e procurar outras maneiras, com fármacos, capazes de ativar a mesma coisa que esse hormônio — completa a especialista.

Fonte: O Globo