Falta de informação é obstáculo a vacinação infantil

A falta de conhecimento em relação ao calendário vacinai influencia na baixa cobertura de imunização entre crianças, mostra pesquisa inédita

O que diz a mídia

A falta de conhecimento em relação ao calendário vacinai influencia na baixa cobertura de imunização entre crianças, mostra pesquisa inédita. E leva, muitas vezes, à desconfiança nas vacinas. A taxa de vacinação infantil vem enfrentando queda nos últimos anos, que se agravou desde a pandemia da Covid.
Segundo estudo realizado pelo Instituto Locomotiva, a pedido da Pfizer, ao menos 68% das mães participantes admitem que já se sentiram confusas sobre a imunização dos filhos. Quando perguntadas sobre os motivos que mais atrapalham a vacinação infantil, 45% apontaram, mais uma vez, a desinformação sobre o calendário.
Como parte do cenário de dúvidas, 17% das mães declararam falta de confiança nas vacinas. E16% das mulheres ouvidas afirmaram que não levam seus filhos para tomar todas as vacinas recomendadas para suas faixas etárias.
— A percepção de risco é um dos principais fatores desmotivadores da vacinação, e se relaciona com o próprio sucesso das vacinas. Elas tanto eliminam as doenças que as pessoas se questionam para que vacinar se não convivem mais com as doenças, ou se as vacinas podem dar reações —diz o pediatra Renato Kfouri, presidente do Departamento de Imunologia da Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP).
Kfouri conta que, além das baixas coberturas que colocam em risco a reintro- duçào de várias doenças, o país enfrenta desigualdade nas coberturas vacinais entre os diferentes municípios, além de altas taxas de abandono, ou seja, crianças que não completam o esquema vacinai, o que, para ele “é tão ruim quanto não vacinar”. Quase metade das crianças brasileiras que começam a imunização não concluem todas as doses necessárias de proteção para diferentes doenças.
Dificuldades para chegar aos locais de vacinação (39%) ou a percepção de que os horários de funcionamento dos postos de saúde seriam restritos (39%) também foram indicados como entraves no estudo.
O levantamento ouviu duas mil mães de crianças e adolescentes com até 15 anos em todas as regiões do país.
—A pesquisa reflete os desafios e medos das mães de vacinarem seus filhos, eouvimos as mães porque não faltam estudos que mostram que são elas as principais responsáveis por levar as crianças ao posto —explica Renato Meirelles, presidente do Instituto Locomotiva.
Além das dificuldades de informação sobre as vacinas, a pesquisa indica o impacto da sobrecarga materna na imunização dos filhos. Pelo menos seis em cada dez mães ouvidas (66%) relataram que já atrasaram a vacinação dos filhos ou deixaram de imunizá-los por motivos como falta de tempo, distância até o local da aplicação, perda da car- teirinha ou dificuldades para se lembrarem das datas.
A maioria das mães (56%) relata que, com as demandas do dia a dia, acaba esquecendo as datas de vacinação dos filhos. E isso reflete, muitas vezes, no cuidado delas com a própria saúde: parte considerável da amostra (27%) indica que está com a própria vacinação desatualizada.
Ainda de acordo com o estudo, 79% das mães ouvidas afirmam que gostariam de receber alguma ajuda para lembrar e organizar as datas de vacinação dos filhos.
A possibilidade de vacinar os filhos na escola seria a medida ideal para 76% das entrevistadas. Redução no deslocamento e economia são citados como benefícios.
Caso essa alternativa fosse adotada, 77% das mulheres acham que não atrasariam a imunização dos filhos, e 82% concordam que assim mais crianças estariam com a vacinação em dia.
A diretora médica da Pfizer Brasil, Adriana Ribeiro, lembra que as quedas nas coberturas vacinais preocupam desde 2015, e o problema se agravou na pandemia.
— Há alguns anos, a baixa cobertura vacinai parecia um problema distante do Brasil, mas hoje vemos que não é assim —alerta.
O estudo mostra ainda como o desafio da imunização se acentua nas camadas mais vulneráveis, em especial mulheres negras, de menor renda ou com filhos estudando em escolas públicas.

Fontes: O Globo/Elisa Martins.