Congresso Paulista de Medicina do Sono: confira os destaques da abertura do evento

Nesta sexta-feira, 27 de maio, o Comitê Científico de Sono da Associação Paulista de Medicina promoveu o XIX Congresso Paulista de Medicina do Sono (CPSONO), de forma híbrida, com transmissão ao vivo a partir do Centro de Convenções Frei Caneca.

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Nesta sexta-feira, 27 de maio, o Comitê Científico de Sono da Associação Paulista de Medicina promoveu o XIX Congresso Paulista de Medicina do Sono (CPSONO), de forma híbrida, com transmissão ao vivo a partir do Centro de Convenções Frei Caneca.

Andrea Cecilia Toscanini, presidente do Congresso e do Comitê da APM, deu as boas-vindas aos participantes e ressaltou as novidades da edição 2022. “Este ano, buscamos trazer um formato diferente, com o intuito de termos mais discussões e interações com todos os presentes. O formato arena traz proximidade entre os palestrantes e congressistas, para que possamos aprender juntos.”

De acordo com ela, a proposta principal de aprendizado do evento é começar ouvindo a queixa do paciente, perguntando qual sua dor e dificuldade em dormir. “Com isso, começaremos a construir nosso raciocínio clínico e hipóteses diagnósticas. Isso que viemos fazer aqui hoje, aprender juntos. Nós, da comissão organizadora, temos esse intuito, vamos ouvir as queixas dos pacientes, desdobrá-las dentro da Medicina do Sono e, ao longo das lições aprendidas no evento, serão apresentados exames e como diagnósticos e tratamentos podem ser feitos para cada tipo de problema”, acrescentou.

Também compõem a comissão organizadora do XIX Congresso Paulista de Medicina do Sono: Tatiana de Aguiar Vidigal (1ª secretária do Comitê), Álvaro Pentagna (2º secretário), Alexandre Pinto Azevedo (coordenador Científico), Erika Treptow e Maurício Bagnato.

Vigília-sono

Logo após a abertura, Andrea Toscanini coordenou a primeira mesa do evento, sobre Dificuldade para adormecer ou manter o sono. Fernando Stelzer, neurologista do Hospital das Clínicas da FMUSP/Ribeirão Preto, ministrou a primeira aula do evento, sobre os fatores envolvidos na transição vigília-sono.

Segundo ele, essa transição pode ser regulada pela quantidade de luz a que somos expostos ao longo do dia, por meio de um hormônio chamado melatonina (que ajuda a promover o início do sono). “A maioria das pessoas tem uma tendência ou características de fatores do interior do corpo (intrínsecos) ou de fora do corpo (extrínsecos). Deitar não significa fechar os olhos e dormir, vários pacientes que apresentam dificuldades para dormir se deitam com o intuito de descansar, mas devido à insônia, ficam por horas nas redes sociais, assistindo programas de TV ou ouvindo música, o que piora o quadro consideravelmente”, enfatizou o palestrante.

Diversos estudos apontam que a poluição sonora piora significativamente a qualidade do sono, podendo também acarretar piora no desempenho físico, mental e psicológico. Entretanto, segundo Stelzer, há sons que ajudam os pacientes a relaxar e dormir. “É muito fácil pensar que ruído atrapalha o sono, mas muitos pacientes têm buscado por aplicativos de ruídos para

dormir. Estudos apresentam uma diretriz sobre o uso de som e sono, sendo concluído que em Unidades de Terapia Intensiva (UTI), o uso de dispositivos sonoros pode trazer melhora ao sono do paciente, pois bloqueiam o barulho vindo dos aparelhos.”

Por outro lado, de acordo com o médico, a maioria das pesquisas aponta que o uso de som de ambientes ou barulhos específicos, como chuva e trovoadas, é pior para determinados indivíduos, retardando e piorando a qualidade do descanso. Em tese, a ideia defendida é a de que quanto mais silencioso o quarto, melhor o sono.

Outro ponto importante citado por ele foi a prática de exercícios físicos antes de dormir. Apesar de promover a liberação de substâncias relaxantes para o organismo, após a realização dos exercícios, o corpo leva cerca de duas horas para retornar à temperatura normal, o que diminui a eficiência do sono. “Sempre recomendamos a prática de exercícios físicos na parte da manhã, pois, quando feitos em horários noturnos, podem atrapalhar ou retardar o sono. Além disso, quando realizados de manhã, observa-se uma redução no quadro de insônia e grande melhora na qualidade e quantidade de sono”, aconselhou o especialista.

Finalizando a aula, o neurologista ressaltou que o estresse é uma grande influência para a piora do sono. Devido à alta adrenalina produzida para encarar certas adversidades, consequentemente são apresentados sintomas de tensão muscular, irritabilidade e insônia. “Estresses do dia a dia estão totalmente relacionados ao sono, um exemplo é quando o indivíduo está passando por um momento familiar difícil, desemprego ou até mesmo a pandemia. O estresse irá fazer com que sua qualidade de sono diminua, mas o interessante é que, com a resolução do problema, o indivíduo volta a dormir normalmente sem desenvolver um quadro de insônia.”

Despertares noturnos

Em seguida, Israel Brasil, neurologista e coordenador do Ambulatório de Sono do Instituto de Assistência Médica ao Servidor Estadual de São Paulo (IAMSPE), falou sobre o manejo adequado dos despertares noturnos. Dividindo sua apresentação em três partes, pontuou sobre as principais causas, como e porquê os despertares acontecem.

“Podemos entender o despertar a partir de seu parâmetro de duração. Existem despertares ultracurtos (segundos), espontâneos curtos (minutos) e longos e consistentes (fim do sono). Por conta desses diferentes aspectos, surgem os conceitos arousal (despertar) e awakening (vivência comportamental/consciente). Podemos descrevê-los como tempo de vigília de 3 a 15 segundos e, acima disso, um despertar, respectivamente”, iniciou.

De acordo com o palestrante, o despertar não é um fenômeno totalmente patológico, mas também fisiológico: “Devemos considerar alguns aspectos como número, quantidade de despertares, quando o despertar acontece e grau de cognição que o paciente apresenta. Todos os fatores são influenciados pela arquitetura do sono, fase circadiana, idade e distúrbios do sono”.

Por conta destes dois fenômenos, tem-se discutido sobre o que pode estar desencadeando os despertares nos pacientes e a persistência da vigília do sono. As principais causas citadas são rotina, ambiente e transtornos de sono, causas físicas e psicológicas e alteração de ritmo, idade ou jet lag. “É interessante destacar que esses sintomas são relatados pelos pacientes sem serem as principais causas do problema. Em geral, dizem que nem sempre a causa citada para o despertar é o que faz o paciente interromper o sono. Quase 90% dos despertares estão relacionados a doenças respiratórias, muito mais frequentes nas mulheres”, pontuou.

Israel Brasil também acrescentou que a anamnese dever levar em consideração o número de despertares, duração, momento da noite, grau de vigília, gatilhos e o que se faz durante o despertar. “Entre os sintomas apresentados pelos pacientes, podemos notar roncos, dores, alucinações, sonhos, vontade de urinar, parestesias, dispneia e palpitações. Além de todos os sintomas e fatores predisponentes, precipitantes e perpetuadores, o médico deve ser realizar a avaliação de comorbidades, sendo elas físicas e patológicas, e não deixar de considerar idade e cronotipo.”

O especialista ainda enfatizou a importância de abordar fatores intrínsecos e extrínsecos que impactam na transição da vigília-sono e entender se estão relacionados a fatores predisponentes e perpetuantes da insônia. Já para o tratamento, afirmou que são usadas técnicas de relaxamento, controle de estímulos, higiene do sono (exposição à luz e ambiente do sono) e otimização no tratamento das comorbidades.

Insônia

Alexandre de Azevedo, psiquiatra e assistente do Programa de Transtornos do Sono do Instituto de Psiquiatria do Sono do HC/FMUSP, baseou sua palestra no tema “O significado da queixa eu não durmo”. “Quando atendemos um paciente que se queixa de não conseguir dormir, o desafio ocorre quando o indivíduo não consegue informar a quantitativa ou localizar propriamente onde está sua dificuldade para dormir, mas se queixa persistentemente de não conseguir descansar”, explicou.

O especialista ressaltou dois distúrbios do sono pouco citados pelos pacientes, mas que podem contribuir para a piora do sono, sendo eles o sono não restaurador e o sono paradoxal. No aspecto não restaurador, o transtorno é caracterizado pela insônia crônica, dificuldades para adormecer ou manter o sono por pelo menos um mês, o que resulta em extrema exaustão durante o dia. Já o paradoxal, ou sono REM, é fase da noite necessária para o descanso psíquico, em que ocorrem os sonhos. Os olhos fechados se movimentam rapidamente e a atividade cerebral fica acelerada, gerando ondas beta (frequências mais baixas, associadas a atividades neuronais mais tranquilas, incluindo o estado de sono, de meditação e de relaxamento).

“São aqueles que têm pior continuidade de sono, ou seja, os que apresentam sono fragmentado e, por incrível que pareça, os que têm despertares breves ao longo da noite, ao

contrário daqueles que permanecem acordados por mais tempo durante o descanso. Sendo assim, indivíduos que despertavam brevemente várias vezes (4 a 5 minutos) têm uma percepção de sono pior do que aqueles que perdem o sono e permanecem acordados”, afirmou.

O psiquiatra trouxe ao público que os parâmetros identificados em maus dormidores se baseiam em identificações de variáveis relacionadas à continuidade do sono, menor latência do sono, sono insuficiente mais frequente, despertares noturnos, problemas comportamentais vigília-sono e sonhos desagradáveis são os que interferem na qualidade do sono.

“Quando atendemos um paciente que se queixa por não dormir, é essencial não focarmos somente na quantificação de horas de sono ou quanto tempo o indivíduo demora para conseguir dormir, precisamos ir além. Devemos levar em consideração a investigação do cronotipo do paciente, presença de corticoides, reposição hormonal e explorar outras queixas não relacionadas à insônia, que podem também levar a uma má percepção sobre o sono e não objetivamente alteração na quantidade de horas dormidas”, destacou Azevedo.

Cronotipos

A palestra final da primeira mesa foi ministrada por Andrea Toscanini, que também é médica do Sono do HC/FMUSP, sobre o tema “Quando a falta de sono não é insônia: cronotipos”. Ela pontou que, apesar de 75% dos brasileiros se queixarem de um sono ruim, nem sempre a condição está relacionada à insônia.

“Além da má percepção do sono ou sono fragmentado, podemos ter outras questões envolvidas dentro da queixa ‘eu não consigo dormir’. Existem algumas dicas quem podem nos fazer raciocinar por um lado diferente. Uma delas é quando o paciente conta que convive com a insônia desde a infância, alguns diagnósticos são constantemente citados, e a partir deste momento, é preciso parar e ouvi-lo”, comentou a especialista.

Outros fatores importantes a se observar, segundo ela, são o uso constante da “soneca” quando coloca o celular para despertar, não comer pela manhã para preferir dormir, sonolência, cansaço, dores pelo corpo e maior atividade e alerta na parte da noite. “Com isso, o paciente entende que, se quando todos estão dormindo durante o seu momento mais ativo, consequentemente seu quadro é de insônia, mas não é bem assim”, complementou.

Andrea também pontuou os fatores que impactam no timming e duração do sono, sendo eles ambiente, exposição à luz, escalas sociais, tarefas profissionais ou escolares e uso de substâncias. “Existem padrões, os quais chamamos de cronotipos, de preferência e predisposição para dormir em horários específicos. A maioria da população possui o padrão, normalmente intermediário, em que existe adequação fisiológica ao ambiente.”

Entretanto, acrescentou: “Os que não estão dentro dos padrões são chamados de vespertinos, que têm propensão ao sono atrasado, já os matutinos são os que apresentam sono antecipado. Os matutinos também acham que possuem insônia, mas sua insônia é porque acordam cedo,

antes da maioria das pessoas. A principal queixa de insônia são os cronotipos, e mais ainda quando estão ligados a uma queixa, a partir daí podemos ter um transtorno”.

É importante saber o ritmo circadiano, que vai além da preferência de dormir e acordar, sendo o resultado da combinação de uma série de fatores genéticos, comportamentais e sociais. Todos esses fatores impactam no cronotipo, e no sono isso reflete não somente no horário de dormir e acordar, mas também na duração do sono.

“Transtornos relacionados ao ritmo circadiano são dessincronizações entre os ritmos de vigília-sono internos e externos, muitas vezes caracterizados pelo atraso e avanço do sono. Com esta anamnese, podemos afirmar que isso não é insônia, sendo preciso um novo diagnóstico, tratamento e cuidado”, finalizou.

Cursos de imersão

Quem quiser se aprofundar em alguns temas pode se inscrever nos Cursos de Imersão do CPSONO 2022, que têm como tema global “A importância do sono na prática clínica”. Eles ocorrem no dia 30 de julho, das 8h30 às 17h30, também de forma híbrida – na sede da APM, com transmissão on-line.

Estão disponíveis os cursos Distúrbios respiratórios do sono e tratamento cirúrgico; Distúrbios do Sono e modulação metabólica; Distúrbios do Sono e impacto cardiovascular e respiratório e Cognição e humor no idoso: o papel do sono.

As inscrições custam R$ 400,00 para cada curso, com 5% de desconto até o dia 26 de junho. Comprando dois cursos, há o desconto de 10%; três cursos, 15%; e os quatro cursos, 20%. Associados da APM possuem 30% de desconto em todos os cursos. Acesse o hotsite e inscreva-se.