Troca de experiências marca despedida da Comitiva de Moçambique

Os integrantes do projeto, que retornaram ao país natal na sexta-feira, 17 de fevereiro, agora têm um novo grande desafio à frente: replicar as técnicas aprendidas e adaptá-las de acordo com a sua realidade

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Após três semanas de realizações de diversas atividades voltadas para a gestão hospitalar, foi encerrada a temporada de treinamento da Comitiva de Moçambique no Brasil. Os integrantes do projeto, que retornaram ao país natal na sexta-feira, 17 de fevereiro, agora têm um novo grande desafio à frente: replicar as técnicas aprendidas e adaptá-las de acordo com a sua realidade, para assim, proporcionar qualidade na saúde para toda a população de Moçambique.

Para o último encontro desta fase, os gestores moçambicanos estiveram no Cefor São Paulo (Centro de Formação de Recursos Humanos para o SUS-SP), em que foram condecorados com o certificado de conclusão do treinamento e promoveram uma grande troca cultural entre Brasil e Moçambique. O projeto, que é uma iniciativa internacional trilateral envolvendo a Secretaria de Estado da Saúde de São Paulo-SESSP, a Agência Brasileira de Cooperação (ABC) e a Agência de Cooperação Internacional do Japão (JICA) com envolvimento do Programa Compromisso com a Qualidade Hospitalar-CQH (projeto de responsabilidade social da Associação Paulista de Medicina-APM) contou com um detalhado planejamento, possibilitando, assim, o seu sucesso.

De acordo com Maria Aparecida Novaes, coordenadora de Recursos Humanos da Secretaria de Saúde do Estado de São Paulo, a concretização da primeira etapa do projeto passa uma sensação de dever cumprido, principalmente pelo fato de se constituir em um grande desafio, já que foi a primeira vez que a Secretaria da Saúde do Estado de São Paulo internacionalizou uma ação de capacitação nesta área.

“O principal aprendizado que tivemos foi a oportunidade de revisão dos nossos processos com a visão que eles trouxeram de Moçambique. Quando você tem um visitante, ele tem uma percepção diferente daquela que temos na rotina. Nós revisitamos as nossas certezas para tentar implementar e apresentar um novo conceito. A expectativa é que possamos perceber a intervenção do nosso projeto nos indicadores de saúde da população de Moçambique, como redução da mortalidade e melhor mapeamento de epidemiologias. Se conseguirmos esse resultado é porque o projeto, de fato, foi efetivado”, comentou.

O coordenador-geral da Agência Brasileira de Cooperação-ABC, Wófsi Yuri Guimarães de Souza, relembrou que por meio do trabalho de colaboração realizado com o grupo durante o período em que passaram no país, espera que Moçambique possa dar seguimento a tudo o que foi compactuado, se tornando uma referência para outros países do continente africano que também precisam de desenvolvimento na gestão hospitalar e na gestão pública de Saúde. “Vocês são um instrumento importante de ação e de mudança, estamos muito gratos pela dedicação. A aproximação e o entendimento do que o projeto poderá desenvolver, ganha uma nova dimensão a partir desse período em que houve um trabalho muito intenso e muito importante”.

Próximos passos

Atualmente, Moçambique está passando por uma fase de transformação em seu sistema de Saúde. Uma das ideias do país, é implementar uma organização nos moldes do Sistema Único de Saúde, que será adaptado de acordo com a sua própria realidade. Sendo assim, a vinda ao Brasil permitiu que os representantes pudessem conhecer na prática a atuação do SUS em diferentes instituições, para assim, reproduzir os pontos que possam ser efetivos e interessantes para obter resultados positivos e melhorar a qualidade na gestão.

A capacitação que trouxe os moçambicanos ao Brasil constitui como parte de um conjunto de atividades dentro do programa, que está dividido em quatro principais resultados. Eles se separam entre o início do processo de melhoria da qualidade hospitalar por meio da implantação do Programa CQH no Hospital Central de Maputo; instalação de uma central de regulação; capacitação de gestores em três áreas específicas (pneumologia, imaginologia e neonatologia); e contribuição na mudança da mentalidade em relação ao sistema de Saúde, assimilando os ensinamentos obtidos para assim, deixá-lo mais humano, inclusivo e público, respeitando todas as diversidades.

Josué Ferreira Nunes, da Agência Brasileira de Cooperação-ABC explica que o processo é contínuo e as equipes participantes situadas no País retornarão para Moçambique a fim de examinar como está sendo a elaboração do projeto.

“Para uma questão de gestão hospitalar, todos dependem da eficiência, principalmente na questão da regulação. Nós começamos a plantar uma semente no sistema hospitalar e geral, para que eles se comuniquem entre si e entendam a realidade um do outro, porque para um lado ter eficiência, ele depende que o outro também tenha, está tudo interligado. Em relação à capacitação que está sendo feita agora, eles não vão fazer exatamente como é o SUS, mas vão adaptar de acordo com a realidade deles, que tem muita coisa diferente. E é bom que eles vejam a diferença para assim, saberem que podem adaptá-las como lhes for mais adequado”, explicou.

O coordenador do Programa CQH, Milton Osaki agradeceu a ABC, a Secretaria de Saúde do Estado de São Paulo-SESSP e a JICA a oportunidade do modelo de gestão CQH contribuir neste projeto de cooperação internacional.

Maria Aparecida Novaes salientou a importância da representatividade. “Ter recebido o convite para participar deste projeto está além da minha posição, do lugar que eu ocupo aqui, mas principalmente, é a oportunidade pela irmandade que compartilhamos. Esse desenho foi nosso e eu estou extremamente agradecida pelo o que nós conseguimos construir. Sabemos que na década de 2050 a população da África vai dobrar e isso aumenta a nossa responsabilidade. Portanto, levem com vocês a nossa possibilidade de continuidade do projeto”.

Concluindo a cerimônia de encerramento, cada um dos participantes da Comitiva de Moçambique descreveu o que a oportunidade significou para eles, relembrando de que forma querem repassar os ensinamentos obtidos nas últimas semanas ao retornarem para o país. Eles também celebraram a recepção no Brasil por meio de uma homenagem a todos os membros que contribuíram para a interlocução entre os dois países, trazendo um pouco da cultura moçambicana para uma roda de grandes celebrações em prol das conquistas até então obtidas.