A Associação Paulista de Medicina promoveu, no último dia 18 de julho, a terceira edição do Cine Debate, com a exibição do filme “Despedida em Grande Estilo” (EUA – 2017). Protagonizado por Morgan Freeman, Michael Caine e Alan Arkin, o longa retrata a história de três amigos que enfrentam dificuldades financeiras e decidem assaltar um banco.
Para refletir sobre o filme, o psiquiatra e coordenador do Cine Debate, Wimer Bottura Junior, convidou a ginecologista e obstetra Tânia das Graças Mauadie Santana e o psicólogo clínico e nutricionista Nadir Reis Brito, que discutiram em torno do tema “O caro preço da vingança”.
“Uma das intenções do Cine Debate é instrumentalizar todos nós para que tenhamos filtros com as manipulações da mídia. Adoro cinema, mas identifico como ele é poderoso para gerar pensamentos inadequados”, alertou Wimer.
Reflexões dos especialistas
Para Tânia Santana, este é um filme de comédia, mas que permite refletir sobre temas importantes da realidade. “Basta observar como idosos e aposentados são tratados atualmente. Existem países que eles até são respeitados e vivem sem os familiares. Já no nosso País, infelizmente, não é assim que funciona, por isso é fundamental pensarmos sobre o cuidado com os idosos”, explicou.
A médica também indagou aos participantes sobre o que vem à mente quando estão diante de uma situação de injustiça. Segundo ela, muitas vezes, se pensa em vingança, que pode ou não se concretizar. “Em situações delicadas, é possível que a pessoa perca a razão, a censura e a ética e acabe cometendo algo grave. O filme retrata exatamente essa sensação de injustiça, uma vez que os personagens, movidos pela indignação, resolvem agir por conta própria. Como eles estão com uma idade avançada, acreditam que não têm nada a perder e não sabem quanto tempo ainda têm de vida”, acrescentou. A médica também citou a amizade que unia os três e destacou a abordagem da sexualidade no filme.
O psicólogo Nadir Reis Brito agradeceu a oportunidade de participar do Cine Debate pela terceira vez. “Gostei muito do que a Tânia falou e acredito que cada um de nós traz um olhar diferente sobre algum aspecto do filme. Pensando nisso, separei três pontos que nos conectam com a realidade atual. O primeiro é o próprio enredo, que traz diversos conteúdos relevantes; o segundo é a questão dos idosos, porque vivemos em uma era de crescente longevidade, mas ainda enfrentamos muitos desafios culturais e sociais em relação a isso; e o terceiro ponto se refere aos princípios e valores pessoais de cada indivíduo, que usamos como referência para julgar e agir”, comentou.
De acordo com Brito, cada pessoa vai entrelaçar a trama do filme com sua própria experiência de vida, sua história, seus medos e suas fantasias. “Como se trata de um roubo, vamos usar julgamentos de princípios e valores morais que cada um tem. O que é interessante é que o filme nos permite viver todas essas sensações e emoções – visual e auditiva – e, muitas vezes, essa parte afetiva e emocional acaba nos envolvendo na história. Neste aspecto, a obra, que foi rodada em 2017, está mostrando um retrato do Brasil em 2025, uma vez que estamos vivendo a perda das aposentadorias. O desafio é aprender a lidar com a realidade no dia a dia, conforme ela surge.”
Nadir complementou que a trajetória humana é marcada por ganhos e perdas. Para ele, à medida que há o envelhecimento, são acumuladas perdas em diversos aspectos. “No entanto, a idade mais avançada também nos permite ampliar o olhar humano e ser mais compreensivos. Nosso grande desafio é lidar com as perdas sem deixar de cultivar a esperança, o otimismo e ter atitudes de pensamento positivo. Um grande ensinamento que podemos tirar é que o sofrimento faz parte da vida. Não significa que o desejamos, mas é necessário reconhecer que ele existe. Quando aceitamos a realidade, conseguimos lidar melhor com ela. Assim, evitamos estados profundos de depressão e ansiedade, que surgem quando resistimos ao que a vida nos apresenta”, concluiu.
Fotos: Alessandra Sales
