Maria Rita de Souza Mesquita é referência na Obstetrícia e Ginecologia, com uma carreira marcada pelo compromisso com a Saúde da mulher. Atualmente, é presidente da Associação de Obstetrícia e Ginecologia de São Paulo (Sogesp), secretária geral adjunta da Associação Paulista de Medicina e 1ª secretária da Associação Médica Brasileira.
Já se passaram quatro década desde que se formou pela Faculdade de Medicina de Santo Amaro (Unisa). Sua escolha pela Ginecologia e Obstetrícia – especialidade que acompanha a mulher em todas as fases da vida – foi impulsionada por motivações pessoais e profissionais.
“A Obstetrícia, em particular, sempre me fascinou. Participar da gestação, do parto e do pós-parto é uma experiência transformadora, marcada pela emoção e pela renovação da vida. Desde a graduação, quando comecei a observar o milagre do nascimento, percebi a beleza e a força dessa área. Durante a residência, acompanhar o primeiro parto representou um marco importante em minha trajetória de vida. Tive também a oportunidade de detectar precocemente doenças nas mulheres, proporcionando o tratamento mais indicado e melhorando, com isso, a qualidade de vida dessas pessoas. Além disso, é extremamente gratificante cuidar das gestantes de alto risco com complicações que aumentam em demasia a mortalidade materna, como pré-eclâmpsia, diabetes e infecções”, afirma.
Ela fez mestrado e doutorado pela Escola Paulista de Medicina da Universidade Federal de São Paulo (EPM/Unifesp) em 1992 e 2003, respectivamente. Por aproximadamente três décadas, atuou como médica concursada técnico-administrativa no Departamento de Obstetrícia da Escola Paulista de Medicina, auxiliando no aprendizado prático dos médicos residentes. Ao longo da sua carreira, enfrentou muitos desafios que foram amenizados pelo amor que sempre teve à Medicina e pela oportunidade de salvar vidas e estar próxima de pessoas. “A Medicina exige entrega com longas horas de trabalho, plantões, decisões rápidas e muita responsabilidade, especialmente em emergências. A sobrecarga realmente é um dos grandes desafios, além da necessidade de você tomar decisões assertivas”, relata.
A presidente da Sogesp reitera que cada paciente é único e o processo de diagnóstico e tratamento das doenças pode ser desafiador. “A Medicina lida com a complexidade do corpo humano e nem sempre as respostas são claras e imediatas, e aprender a lidar com essas incertezas e buscar soluções de forma contínua são atitudes fundamentais”, detalha.
Atualização Científica
Desafio recorrente na área médica é a constante evolução da Medicina e os médicos – principalmente os mais jovens – precisam estar atentos às novas pesquisas científicas, tecnologias e tratamentos que vão surgindo regularmente.
“É importante se atualizar e aprender continuadamente para melhor oferecer os cuidados aos pacientes. Tive a honra de participar de congressos, cursos de atualização e, como especialista, compartilhar conhecimentos com residentes. A docência sempre me acompanhou e proporcionou a oportunidade de transmitir experiência prática às novas gerações. Também é bastante desafiador lidar com a dor, o sofrimento e a perda das pacientes. Exige resiliência emocional e empatia, a fim de construir uma relação de confiança entre médico e paciente, oferecendo apoio emocional como parte fundamental do trabalho médico”, destaca.
Segundo Maria Rita, existe um acesso desigual aos serviços de Saúde para a população, como a falta de recursos, burocracias e as dificuldades no sistema público. “Muitas vezes, elas são frustrantes e podem impactar na qualidade do atendimento. Ultrapassar essas dificuldades nem sempre e muito fácil para o médico que quer atuar dando benefícios para a sociedade sempre que possível.”
No entanto, ela reforça que trabalhar em equipe com outros profissionais da Saúde é essencial. “Em resumo, os desafios da Medicina me ensinaram a ser mais resiliente, a buscar conhecimento de forma contínua e valorizar a relação médico-paciente. Esta especialidade me dá a oportunidade de vivenciar momentos únicos e a possibilidade de fazer a diferença na vida de muitas pacientes”, complementa.
Mestres
Diversos profissionais marcaram sua trajetória profissional. Durante a graduação, conheceu professores dedicados que despertaram seu interesse pela Saúde da mulher e pela complexidade da reprodução humana. Já na residência médica, no Hospital e Maternidade Leonor Mendes de Barros, contou com preceptores fundamentais para sua formação.
“Figuras essenciais para minha formação, porque eles compartilharam seus conhecimentos clínicos e cirúrgicos, me guiaram nas situações mais desafiadoras e transmitiram a paixão pela especialidade. Alguns deles se tornaram verdadeiros modelos de profissionalismo e ética médica na minha profissão. Um dos grandes mestres que me levaram para a Escola Paulista de Medicina foi o professor Álvaro Nagib Atallah, que era clínico do meu plantão durante a residência médica”, recorda.
No departamento de Obstetrícia da EPM, foi recebida pelo professor Luiz Camano e orientada por esses professores renomados tanto no mestrado quanto no doutorado. “Pessoas que engrandeceram minha formação, além de muitas outras que nem consigo citar com receio de esquecer algum nome”, conta.
Com todos esses anos de atuação na Medicina, ela revela para o futuro da especialidade muitas expectativas, tanto nos avanços científicos quanto no atendimento humanizado das pacientes. “Essas mudanças, ao longo dos anos, estão sendo muito significativas e com certeza impactarão de forma positiva na Saúde da mulher. Avanços científicos promissores dentro da Medicina Genômica e personalizada na própria inteligência artificial; nas terapias minimamente invasivas; robótica – novas técnicas que proporcionam melhor precisão; melhor tempo de recuperação e melhores resultados para as pacientes; avanços também na área de imagem e diagnóstico por meio de novas tecnologias, como ultrassons de alta resolução e ressonância magnética; imunoterapia no tratamento de câncer; inovações na Saúde Reprodutiva, entre outras tecnologias.”
Paralelamente, cresce a valorização do atendimento humanizado com escuta ativa, empatia, consentimento informado e respeito às escolhas das mulheres. “Reforço a importância da formação contínua, do trabalho em equipe e da valorização da relação médico-paciente. A empatia e o respeito são elementos indispensáveis para uma prática médica de excelência”, comenta a diretora da APM.
Associativismo
A vida associativa de Maria Rita de Souza Mesquita começou em 1985, ano que se tornou associada da Associação Paulista de Medicina. Após a especialização, ingressou na Sogesp, motivada pelo desejo de fortalecer a união de ginecologistas e obstetras, valorizando a atuação profissional.
“Na vida associativa, tive vários momentos e iniciativas de grande satisfação e de representatividade, e um dos pontos que me dá mais orgulho é poder participar da Diretoria da Sogesp desde 2010, quando iniciamos um projeto e montamos a comissão de valorização profissional do ginecologista e obstetra da entidade e isso trouxe importantes conquistas”, relembra.
À frente da Presidência da Sogesp desde o início do ano, ela destaca que está sendo uma honra liderar uma entidade com tamanha representatividade e relevância. “Trabalhar em conjunto para fortalecer a nossa especialidade, com atualização científica, defesa profissional e influência positiva em políticas públicas é uma missão de grande responsabilidade e satisfação. Entre os grandes desafios está a organização do Congresso Paulista de Obstetrícia e Ginecologia, o maior evento da área no estado de São Paulo”, finaliza.
Matéria publicada na edição 749 (Março/Abril de 2025) da Revista da APM