Diabetes Mellitus ganha destaque no webinar da APM

A Associação Paulista de Medicina promoveu, na última quarta-feira, 7 de junho, webinar sobre o tema “Diabetes Mellitus – Abordagem diagnóstica, doença renal e novos tratamentos”, em parceria com a Regional de Assis

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A Associação Paulista de Medicina promoveu, na última quarta-feira, 7 de junho, webinar sobre o tema “Diabetes Mellitus – Abordagem diagnóstica, doença renal e novos tratamentos”, em parceria com a Regional de Assis. “É prazer revê-los em mais um webinar da APM para discutirmos um tema tão relevante e importante para a sociedade”, destacou o presidente da APM, José Luiz Gomes do Amaral, que foi o apresentador do evento.

O presidente da APM Assis e diretor de Eventos da APM Estadual, Roberto de Mello, foi o moderador, e iniciou sua participação agradecendo a oportunidade dada às Regionais: “É uma grande iniciativa, para que possamos levar um pouco de Ciência para o interior e grandes centros, além de mostrar para todos os associados os assuntos que a APM vem atuando”.

O webinar foi dividido em três partes. A primeira contou com palestra da endocrinologista e doutora em Ciências da Saúde pela Universidade de São Paulo, Maria Carolina de Castro Rocha Betônico. “Agradeço o convite e também aos membros da APM. Diabetes é um tema que gosto muito e falar disso é extremamente relevante.”

Na ocasião, a médica fez uma abordagem da pessoa jovem com diabetes mellitus. Segundo ela, trata-se de uma doença epidêmica, sendo que mais de 10% da população tem diabetes, conforme as últimas estatísticas. “É necessário suspeitar em casos de necessidade de doses baixas de insulina (menor 0,5 UI/kg), sem histórico de cetoacidose, anticorpos negativos, histórico familiar de Diabetes Mellitus de início precoce, sinais clínicos de Lipodistrofia (perda de gordura localizada) e obesidade ou resistência insulínica”, disse.

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Tipos de diabetes

Qual é a importância do diagnóstico de um outro tipo de diabetes, além dos comuns DM1 e DM2? A primeira coisa, segundo Maria Carolina, é em relação ao tratamento. “Isso porque os pacientes com Diabetes tipo 1 serão insulinizados com uma terapia que a gente chama de ‘basal-bolus’. Neste caso, eles terão que usar insulina de longa duração, em múltiplas aplicações diárias nas refeições para cobrir a quantidade de carboidratos. Se tenho algum outro tipo de diabetes, a insulinização será diferente ou até esses pacientes poderão responder bem às drogas orais”, acrescenta.

Além disso, a endocrinologista reforçou que o prognóstico destes pacientes muda. Pacientes com diabetes do tipo homonogênico ou familiar têm uma evolução mais branda em relação aos pacientes com DM1. Alguns com prognóstico mais reservado evoluem mais para doença renal, têm mais associação com mortalidade cardiovascular. E alguns ainda com condições associadas, como má formação renal, alterações de ácido úrico e gota, entre outras.

“O diagnóstico correto faz com que tenhamos uma perspectiva não só do tratamento, mas com relação à gravidade da doença. É importante fazer uma avaliação durante a coleta da história, para conhecer bem o paciente que estamos diante. Precisamos saber também os medicamentos usados por ele, sempre com um olhar amplo, para descobrir se faz uso de algum que possa alterar a glicemia”, complementou.

O Mody (Maturity Onset Diabetes of the Young), embora não se enquadre nem no tipo 1 e nem no tipo 2, é um dos menos comuns de diabetes. “Parece um tipo 2 em uma pessoa jovem, com hiperglicemia com início precoce (abaixo de 25 anos), histórico familiar de 2 a 3 gerações com DM antes dos 25 anos, anticorpos antipancreáticos negativos e peptídeo C detectável (maior que 0,6 ng/dl) após cinco anos do diagnóstico de DM. Cerca de 90% dos pacientes que têm Mody, normalmente, são tratados como DM1 ou DM2, e com isso perdem o timing do tratamento”, destacou a palestrante.

Existem vários tipos de Mody, e cada um tem uma apresentação diferente:

  • Mody GCK – hiperglicemia leve não progressiva (Mody 2)
  • Mody HNFIA, HNF4A, ABCC8, KCNJII – com sensibilidade a sulfonilureias (Mody 3)
  • Mody HNFIB – com manifestações extrapancreáticas

“Existe uma calculadora americana de risco de Mody, na qual você preenche os dados do paciente e consegue ter um percentual do risco de ter um diabetes diferente”, enfatizou.

O Diabetes Lipoatrófico, normalmente, é uma história familiar positiva. Os pacientes portadores têm uma distribuição diferente de gordura, e quando se tem a forma congênita, pode ser extremamente grave, por se tratar de uma resistência insulínica. Entre as complicações estão hipertrigliceridemia, acantose nigricante, hipertensão, síndrome dos ovários policísticos e doença hepática gordurosa não alcoólica.

“Quando a gente fala na abordagem em pacientes jovens e há dúvida sobre a apresentação clássica, alguns exames podem auxiliar, como colesterol total e frações, triglicerídeos, ácido úrico, magnésio, dosagem de anticorpos e de peptídeo C e imagem de abdômen”, finalizou.

Novos tratamentos

A docente da Disciplina de Clínica Médica e Endocrinologia e Metabologia na Fundação Educacional do Município de Assis, Maria da Penha Belavenuta, também agradeceu aos participantes a oportunidade de integrar o grupo do webinar.  “É sempre muito bom poder falar de uma doença tão prevalente, que muitas vezes acabamos não tratando adequadamente. Nesta segunda apresentação, trago os novos tratamentos para Diabetes Mellitus tipo 2 e o seu impacto na prática clínica.”

O DM2 é altamente prevalente e está associado a elevada mortalidade geral e cardiovascular. Cada vez mais, cresce o número de pessoas acometidas e, segundo projeção recente mencionada pela endocrinologista, em 2045 serão mais de 23,2 milhões de pessoas acometidas pela doença. “No Brasil, 8,8% das pessoas convivem com DM2. Quase um terço das pessoas com DM2 ainda não foram diagnosticadas. Além disso, 50% das pessoas com DM2 morrem de doença cardiovascular, aproximadamente. Isso porque ele aumenta em 2,5 vezes o risco de morte por doença cardiovascular.”

De acordo com a palestrante, a maioria dos adultos com diabetes tem pelo menos uma comorbidade – 40% têm pelo menos três. Entre elas, hipertensão, doença vascular periférica, doença periodontal, fibrilação atrial, insuficiência cardíaca, depressão, disfunção erétil, doença cardíaca isquêmica, apneia de sono, doença renal e doença cardiovascular ateroesclerótica.

Para Maria da Penha, o Diabetes Mellitus tipo 2 tem uma fisiopatologia bastante complexa e vários defeitos levam à hiperglicemia. “A gente costuma falar que cada droga usada tem o objetivo de contemplar um ou mais defeitos dentro desta complexa fisiopatologia. Resumindo, o paciente diabético tem uma redução do efeito das incretinas e da secreção da insulina, além de aumento da secreção da glucagon e da produção hepática de glicose, disfunção dos centros reguladores da fome e saciedade, redução de captação periférica de glicose e aumento da reabsorção renal da glicose e aumento da lipólise.”

Segundo ela, mesmo entre os pacientes que fazem o controle intensivo do diabetes, alguns podem evoluir para complicações. “Hoje, muitos medicamentos estão sendo indicados para pacientes de alto risco cardiovascular. Elas são consideradas drogas de primeira linha, mas com custos altos”, completou.

Doença renal do diabetes                   

Na terceira apresentação do webinar, sobre Doença renal do diabetes, o nefrologista Gustavo Navarro Betônico começou dizendo que a hipertensão lidera o ranking das doenças nos países em desenvolvimento. Já nos desenvolvidos, o diabetes está em primeiro lugar, assim como no estado de São Paulo.

“Isso gera um custo social muito grande, extremamente grande do ponto de vista econômico. Nas últimas décadas, o número de pacientes em diálise cresceu assustadoramente, e a conta que se faz é que se gasta em torno de 10 mil dólares por ano, por paciente”, introduziu. De acordo com o nefrologista, a doença renal diabética acomete uma faixa etária que ainda é muito economicamente ativa.

Entre as recomendações de rastreamento da Doença Renal do Diabetes estão imediatamente após o diagnóstico de DM2 e após cinco anos do diagnóstico em pessoas com DM1. “Porque a gente sabe exatamente quando o DM1 começou, mas não sabe quando iniciou o DM2. Por isso, é orientado que o rastreamento seja feito neste momento. Precisa tomar muito cuidado para fazer esse diagnóstico”, alertou.

Este rastreamento é feito com base na albumina e creatinina, além do cálculo da TFGe (Taxa de Filtração Glomerular estimada). “Para a gente não dar um diagnóstico de doença renal crônico antes da hora, é importante levar alguns pontos em consideração, como fatores que interferem na dosagem da albuminúria, febre, exercício intenso, insuficiência cardíaca descompensada, hiperglicemia grave, infecção urinária e hipertensão arterial não controlada”, finalizou.

Imagens: Reprodução webinar