Palavra do presidente: Princípios da boa formação

Por Antonio José Gonçalves, presidente da APM

Artigos e Entrevistas

Boa parte da discussão sobre a qualidade de formação dos médicos – seja com a abertura desenfreada de faculdades e de vagas ou pela possibilidade de “flexibilizar” a residência – passa pela dificuldade e pelo tempo necessário para formar professores.

Além dos seis anos de graduação em Medicina, as residências variam entre dois e cinco anos, mais o tempo do mestrado e do doutorado, sendo, portanto, impossível formar professores de Medicina de qualidade em um tempo inferior a 10 ou 12 anos.

Conforme o estudo “Brasil: Mestres e Doutores” – produzido pelo Centro de Gestão e Estudos Estratégicos (CGEE), ligado ao Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI) –, em 2021, o País tinha 27 mestres para cada 100 mil habitantes e 10,2 doutores para cada 100 mil habitantes.

Entre 2013, ano em que foi criado o Mais Médicos e começou o aumento explosivo de faculdades de Medicina, e 2021, receberam o título de mestrado 79.150 brasileiros, considerando todas as Ciências da Saúde; no doutorado, foram 33.172 novos títulos na área.

Ao mesmo tempo, foram abertos mais de 150 novos cursos de Medicina, em uma conta que claramente não fecha… Se considerarmos que também é de extrema importância os concursos de livre-docência para a formação de médicos com excelência, os números são ainda menores e desanimadores.

Quem está ensinando Medicina nestas faculdades abertas nos últimos anos, sendo a imensa maioria delas privadas, com visão voltada primeiramente ao lucro de grandes grupos educacionais?

O produto dessa equação estamos vendo todos os dias nos plantões de hospitais e de UBSs Brasil afora, passando por erros diagnósticos, aumento dos custos da assistência com pedidos exagerados de exames, pacientes cada vez mais insatisfeitos e descrédito da nossa milenar profissão perante a sociedade.

Que mantenhamos as forças para continuar lutando pela qualificação da educação médica, o que passa pela valorização do mestrado, doutorado e livre-docência!

Publicado na edição 750 (Maio/Junho de 2025) da Revista da APM