Desenvolver o planejamento estratégico para uma entidade de classe envolve análise profunda dos cenários externo e interno, assim como um exame detalhado das necessidades e reais expectativas. A Associação Médica Brasileira – com auxílio de uma consultoria especializada – se reuniu, em dezembro de 2023, em Salvador/BA, com diretores e representantes das Federadas e das Sociedades de Especialidades com a finalidade de definir suas próximas ações estratégicas (para o triênio 2024/2026) em prol da classe médica e da Saúde no Brasil.
A participação das Federadas favoreceu a regionalidade do processo. Por conta disso, a Associação Paulista de Medicina está adaptando o conteúdo do planejamento para sua realidade – entendendo que, para estabelecer os objetivos estratégicos, é preciso considerar não apenas as demandas imediatas, mas também as tendências emergentes no setor de Saúde, mudanças regulatórias e as expectativas da sociedade em relação à prestação de serviços.
De acordo com o presidente da entidade, Antonio José Gonçalves, o planejamento estratégico desempenha papel crucial em meio ao cenário dinâmico e desafiador da Medicina, “identificando oportunidades para enfrentar desafios e alcançar objetivos a longo prazo, o que irá fortalecer a representatividade da APM”. Os 13 pilares a seguir representam os fundamentos essenciais nos quais a estratégia é construída e sustentada.
1) Filiação de Jovens Médicos
Aumentar a filiação de jovens médicos – Uma das metas urgentes das entidades médicas é incentivar a participação ativa dos médicos jovens nos movimentos associativos. Em outubro de 2023, a AMB criou a Comissão Nacional do Médico Jovem (CNMJ), com o propósito de amplificar a voz dos médicos jovens e entender suas reais necessidades. Este é um momento significativo para evidenciar a relevância deste grupo no contexto do associativismo.
E em complemento a esta iniciativa, a Diretoria de Responsabilidade Social da APM está criando um Comitê de Médicos Jovens [confira matéria na pág. 27]. O objetivo do grupo é tratar dos principais desafios enfrentados pelos médicos que estão dando os primeiros passos em suas carreiras, como a dificuldade de inserção no mercado de trabalho e a precarização dos vínculos empregatícios na Medicina.
2) Participação nas Políticas Públicas/SUS
Aumentar a participação da APM nas Políticas Públicas de Saúde/SUS – Trata-se de uma prioridade intensificar a participação da APM nas políticas públicas de Saúde, especialmente no âmbito do Sistema Único de Saúde (SUS). E para fortalecer sua representatividade junto aos órgãos reguladores e à sociedade em geral, a Associação está trabalhando para estar mais presente na Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo e nas Câmaras Municipais das cidades em que possui Regionais.
Garantir melhores condições de trabalho para os médicos e uma Saúde mais eficaz para a população estão entre as questões relevantes da classe médica. E uma das bandeiras neste sentido é a criação de uma Carreira de Estado para os médicos.
A atenção primária é o grande foco das ações, sendo que o Projeto HiperDia, iniciativa da Secretaria de Estado da Saúde de São Paulo (SES-SP) com apoio da APM, denota este compromisso ao integrar a atenção primária e especializada no tratamento da hipertensão arterial e do diabetes mellitus, por meio da capacitação de médicos.
3) Relacionamento com operadoras de planos de saúde e Reforma Tributária
Aumentar o relacionamento com as operadoras de planos de saúde na busca de sustentação do sistema de saúde suplementar e remuneração médica justa, além de garantir as melhores condições em relação à Reforma Tributária – Em 2012, a APM criou e desde então lidera a Comissão Estadual de Saúde Suplementar, que reúne suas Regionais e as sociedades de especialidades paulistas para definição da pauta e negociação de honorários médicos com as principais operadoras de planos de saúde.
Desde 2022, o grupo se uniu à AMB em uma Comissão Nacional, que reúne as demais Federadas e sociedades de especialidades nacionais. Entre os itens constantes das negociações estão o resgate da Classificação Brasileira Hierarquizada de Procedimentos Médicos (CBHPM) como referência para os honorários e as discussões sobre contratualização e modelos de remuneração médica.
4) Fortalecimento da Especialização Médica
Ações para o fortalecimento da Especialização Médica junto às sociedades de especialidades e campanhas de esclarecimento à população e aos gestores – Fortalecer a residência e a especialização médica como partes fundamentais para assegurar um sistema de Saúde eficaz e de elevada qualidade envolve programas bem definidos, com docentes altamente qualificados, inseridos em ambientes de prática clínica adequados e com supervisão contínua de especialistas certificados.
Para garantir o bem-estar da população, é essencial que as sociedades de especialidades médicas e demais partes envolvidas unam esforços para assegurar uma formação especializada sólida aos médicos, fortalecendo e conferindo ainda mais valor aos títulos de especialistas. Da mesma forma, tais títulos devem ser revalidados periodicamente, de forma a manter o profissional atualizado. São medidas cruciais para garantir a competência e a qualidade dos serviços prestados, promovendo uma assistência médica mais eficaz e segura para todos os cidadãos.
5) Relação com Médicos Generalistas
Construir um mailing específico e uma política de relacionamento, de benefícios e de educação continuada da APM com os médicos não especialistas (generalistas) – De acordo com a Demografia Médica 2023, o Brasil contava com 192.634 médicos generalistas em 2022, representando 37,5% do total em atividade no País. Em São Paulo, são 57.918 (35,4% do total).
Por isso, a APM apoia iniciativas como o Programa de Educação para Médico Generalista do Brasil (Progeb) da AMB, que tem como alguns desdobramentos o “Tratado de Medicina Geral” – destinado aos médicos generalistas de todo o País. O livro abrange mais de 250 capítulos, abordando os principais temas enfrentados no cotidiano dos atendimentos, com a contribuição de cerca de 800 especialistas recomendados pelas 54 sociedades de especialidade brasileiras.
Além disso, em julho deste ano ocorre o 2º Congresso de Medicina Geral da AMB, evento que busca promover a integração entre médicos especialistas e generalistas. Representa um momento crucial para compartilhar experiências e elucidar desafios diários, além de propiciar debates e aprendizados relevantes.
6) Avaliação de Escolas Médicas
Elaboração de modelos de avaliação autônomos e independentes das escolas/egressos de Medicina e dos programas/egressos da residência médica – Há anos, a APM e as demais entidades médicas lutam pela qualificação do ensino e formação médica, uma vez que a abertura indiscriminada de escolas já vem prejudicando a sociedade. Neste sentido, é preciso uma acreditação obrigatória das escolas médicas e dos hospitais de ensino por organizações independentes e uma avaliação obrigatória dos graduandos. Além do Revalida, para os profissionais formados no exterior, é importante manter testes do progresso e um exame nacional para os estudantes brasileiros, de forma a comprovar que estão aptos a atender nossa população.
7) Integração do Modelo Associativo
Fortalecimento e Integração do Movimento Associativo/Novo Modelo Associativo para APM, Regionais e sociedades de especialidades – Além de aumentar a divulgação de suas ações e exigir o cumprimento estatutário de associação simultânea nas Regionais, a Associação Paulista de Medicina trabalha para ampliar a parceria com as sociedades de especialidades a fim de desenvolver eventos e cursos de educação continuada para a classe médica.
Também é crucial a captação de acadêmicos e jovens médicos, estreitando os laços com as faculdades de Medicina, ligas acadêmicas e Associação de Médicos Residentes. Afinal, são esses médicos o futuro da profissão e do associativismo.
8) Proteção do Ato Médico
Ações para proteção do Ato Médico e da Mulher Médica – Para a APM, a Lei 12.842/2013 é uma grande conquista para a sociedade, uma vez que busca zelar pela vida e bem-estar dos pacientes, os afastando daqueles que exercem a Medicina de forma ilegítima, praticando atos nocivos e, muitas vezes, irreversíveis.
No caso das mulheres médicas, a APM lançou recentemente um canal de apoio jurídico – uma vez que identificou em pesquisa que a maioria delas já sofreu e ainda sofre preconceito e assédios no ambiente de trabalho e estudo. Além disso, também está sendo criado o Comitê de Mulheres na Medicina, ligado à Diretoria de Responsabilidade Social [confira matéria na pág. 26].
9) Representatividade nas Regionais
Fortalecimento da Representatividade Política da APM e Regionais – Sendo a capilaridade da APM sua grande força, ter Regionais cada vez mais fortes é de extrema importância. Por isso, é primordial que os representantes do interior se façam presentes nas mais diversas esferas de poder de suas cidades, interagindo com as autoridades. É ainda necessário descentralizar o núcleo de atuação parlamentar pelas regiões e enfatizar o foco na Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo (Alesp). A APM também tem buscado se relacionar com influenciadores da área da Saúde e mantém um grupo de trabalho em sua Diretoria para análise de projetos de lei relacionados à área.
10) Regulamentações do Cremesp e CFM
Regulamentações do Cremesp (Conselho Regional de Medicina do Estado de São Paulo) e CFM (Conselho Federal de Medicina) – As mais diversas normas que interferem na vida profissional do médico são acompanhadas de perto pela APM, que busca contribuir com as regulamentações sempre que possível e levá-las ao conhecimento de seus associados, por meio de publicações em seus canais de comunicação, webinars e outros.
11) Marketing e Comunicação Institucional
Aprimoramento da Comunicação e Marketing com os médicos e da Comunicação Institucional – Periodicamente, a APM monitora seus canais de comunicação e ações de marketing, de forma a estar antenada com as muitas novidades que surgem todos os dias. O objetivo é levar as principais mensagens, de forma clara e assertiva, aos diversos públicos, como associados, ex-associados, não associados, outros profissionais da Saúde e sociedade em geral – considerando ainda a pluralidade das pessoas em relação à idade, gênero, raça etc.
12) Educação Médica Continuada
Incremento das ações e da divulgação da Educação Médica Continuada – Sendo um de seus pilares de atuação, a Associação Paulista de Medicina busca ampliar e consolidar suas atividades de Educação Médica Continuada, como os eventos e publicações científicas (São Paulo Medical Journal e Diagnóstico e Tratamento), webinars e o Instituto de Ensino Superior (IESAPM).
13) Estrutura Física da APM e Regionais
Melhoria da Estrutura Física da APM e Regionais – Há quase 10 anos, a APM mantém um planejamento
importante de melhoria e modernização da estrutura física de sua sede social, Hotel Fazenda e Regionais, de forma a estar sempre adaptada às diversas normas vigentes de segurança e acessibilidade. Além disso, busca sempre melhor aproveitar os espaços físicos, com a locação de algumas estruturas para sociedades de especialidades e outros parceiros e consequente geração de renda extra.
Matéria publicada na edição 743 (Março/ Abril de 2024) da Revista da APM