Ainda não se inscreveu para a Jornada “A dor de ouvir a dor”, no dia 21/5? Saiba mais sobre o evento

O intuito do evento, em resumo, é explorar as dificuldades e desafios dos médicos como indivíduos diante das suas próprias histórias e narrativas e as dos que os procuram para aliviar seu sofrimento

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O primeiro dos grandes eventos de 2022 do Comitê Científico de Dor da Associação Paulista de Medicina (APM) está chegando. No próximo dia 21 de maio, das 8h30 às 19h, acontece a Jornada “A dor de ouvir a dor”, cuja programação foi cuidadosamente escolhida para proporcionar um encontro inovador.

O intuito do evento, em resumo, é explorar as dificuldades e desafios dos médicos como indivíduos diante das suas próprias histórias e narrativas e as dos que os procuram para aliviar seu sofrimento. A programação ocorre de forma híbrida, na sede da APM e com transmissão on-line.

Segundo Telma Zakka, presidente do Comitê, a jornada foi idealizada a partir de uma reflexão feita ao lado de sua filha, Camila Zakka – também organizadora do encontro –, sobre as diferenças entre ouvir e escutar os relatos dos doentes.

“Os médicos ouvem ou escutam as queixas? Como eles elaboram estas queixas e quanto eles se envolvem com os relatos de fatos que corroboram para a sua dor? O médico tem dor emocional? Quem cuida dele? Ele simplesmente esquece o que os doentes contam? Muitas horas de conversa pautaram essas respostas, e vamos reproduzir os bons momentos em reflexões dos aspectos emocionais do médico ao ouvir a dor dos seus doentes”, adianta a médica.

Relação entre médicos e pacientes

Os estudos conduzidos sobre o crescente número de ações judiciais movidas contra profissionais de Saúde têm em comum a ruptura na relação médico-paciente, na maioria das vezes manifestada como comunicação médico-paciente insatisfatória. Quem informa o diagnóstico é a advogada Camila Zakka. Entre os problemas indicados pelos participantes, surgem afirmações como: os médicos não ouvem, não falam abertamente, tentam enganá-los ou não os alertam sobre problemas de longo prazo.

“Claramente, esses estudos reforçam o conhecido princípio de que a boa comunicação é a pedra angular da relação médico-paciente. Ouvir é um processo passivo, involuntário e sensorial pelo qual percebemos os sons. É uma resposta fisiológica que não requer atenção, intenção, concentração ou foco. Escutar, por sua vez, é um processo ativo, voluntário e intencional que nos permite dar sentido às palavras e aos sons que ouvimos. Em contrapartida, podemos desenvolver uma resposta emocional ao que ouvimos. Escutar com a intenção de entender é a tão famosa escuta ativa”, analisa a especialista.

De qualquer forma, ela entende que ouvir a dor não é uma tarefa nem fácil, nem trivial. Não raro, nestes momentos, os médicos e profissionais de Saúde se deparam com respostas emocionais desagradáveis diante da intensidade da dor e sofrimento dos pacientes.

“Para escutar a dor, devemos, ao mesmo tempo, lançar mão de recursos acumulados e experiências passadas e estar abertos à possibilidade do novo. Por isso, encontramos na arte, na literatura e na música não apenas a representação das mazelas que afligem o homem, desde os seus primórdios, mas a transformação de profundo sofrimento em obras que dão sentido ao inexplicável. Assim, atentos à desafiadora realidade da área da Saúde, claramente agravada nos últimos dois anos, idealizamos este evento”, completa Camila Zakka.

Exposição de arte

O evento não apenas discutirá arte, mas proporcionará a oportunidade de apreciá-la in loco. Isso porque o médico e artista plástico Wagner Kuroiwa irá montar uma exposição com suas obras no saguão da sede da Associação Paulista de Medicina. A mostra ficará disponível por mais um mês após o evento, que teve a sua identidade visual baseada na ilustração “Quadro negro”, de autoria de Kuroiwa.

Em relação ao tema do evento, o artista diz que a dor sempre esteve presente nas manifestações artísticas. “Podemos vê-la nas pinturas rupestres, seja como ilustração ou narrativa, seja pela dor do artista que, inconscientemente, retrata seu estado de espírito, sua alma.”

Para montar a exposição, Kuroiwa procurou em trabalhos anteriores e atuais identificar aqueles que guardavam relação com o tema, selecionando alguns com essa abordagem. “Por exemplo, em 1992, resolvi ilustrar ditos populares sobre o sangue: cortar o sangue, sangue pisado, sangue azul etc. Fiz hemácias cortadas, com marcas de passos. Afinal, são imagens da hemólise, da cianose, circunstâncias que ensejam dor e sofrimento”, detalha.

O artista, formado pela Escola Paulista de Medicina da Universidade Federal do Estado de São Paulo (EPM/Unifesp) e especialista em Saúde Pública e Direito Sanitário pela Universidade de São Paulo (USP), diz que também fez inúmeras obras sobre radiografias, todas com lesões. “Por outro lado, apresentarei as diferentes técnicas que utilizo: aquarela, bico de pena, pastel, bordado, entalhe em madeira e acrílico sobre tela. Algumas pinturas foram elaboradas durante a pandemia, e assim podemos falar da dor coletiva.”

Abordagem musical

Uma das palestras da jornada irá discutir a relação entre música e dor e será ministrada por Paulo Bedaque, bacharel e licenciado em física, mestre em Educação e autor de livros nas áreas de ciências, física, matemática, astronomia, educação e mitologia grega.

O professor ganhou destaque no ramo musical sobretudo por um projeto realizado, em 2014, para a Johnson’s em conjunto com uma agência de publicidade. Para homenagear o Dia das Mães, ele foi requisitado como matemático e físico a transformar os dados de um ultrassom em notas musicais para construir uma sinfonia.

“Bolei um filtro e uma função matemática para transformar um número em uma frequência. Sou um tecladista amador e fui tocando várias frequências para entender qual dava samba na mão de um compositor, que transformou no que foi batizado de Sinfonia da Vida. Foi uma repercussão gigante. Recebi e-mail de vários lugares do mundo, de mães que queriam repetir o projeto.”

Em função, disso, Bedaque recebeu um convite da Faculdade de Medicina da USP para falar sobre o tema para os alunos de doutorado, no curso de narrativa para médicos, ministrado por Fabiana Buitor Carelli, também palestrante da jornada “A dor de ouvir a dor”.

Além de contar um pouco sobre o projeto, a palestra de Bedaque focará em outros temas como educação, mitologia grega e astronomia. “Vou partir da ideia de Schopenhauer, que Freud também desenvolveu, sobre o desejo. Em que sentido? De que é o que nos move. Queremos comer, viajar, dormir, amar, eu quero, eu quero, eu quero… quando um desejo é realizado, vem outro desejo. Isso traz o que Schopenhauer chamou de sofrimento. A vida é uma eterna busca de desejos. Então, nossa vida é sempre de falta. E é por isso que não pode existir vida sem sofrimento”, antecipa o professor.

Confira a programação completa e inscreva-se para o evento neste link.