Tertúlia Acadêmica homenageia memória de médicos em Sessão da Saudade

A primeira Tertúlia Acadêmica da Academia de Medicina de São Paulo (AMSP) ocorreu na sede da Associação Paulista de Medicina, na quarta-feira, 08 de fevereiro

Últimas notícias

A primeira Tertúlia Acadêmica da Academia de Medicina de São Paulo (AMSP) ocorreu na sede da Associação Paulista de Medicina, na quarta-feira, 08 de fevereiro. O tradicional evento marcou a transição da presidência da entidade, de modo que José Luiz Gomes do Amaral passou o cargo para Hélio Begliomini. Por meio da “Sessão da Saudade”, os presentes relembraram a trajetória de vida de notáveis membros da instituição que faleceram no decorrer do último ano.

Os homenageados do dia foram Álvaro Eduardo de Almeida Magalhães, Carlos Alberto Salvatore, Geraldo Antonio de Medeiros Neto, José Pindaro Pereira Plese, Luís Garcia Alonso, Lygia Busch Iversson, Munir Miguel Curi e Vladimir Bernik.

Álvaro Eduardo de Almeida Magalhães

Iniciando as apresentações, esteve a atual diretora da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP), Eloísa Silva Dutra de Oliveira Bonfá, relembrando Álvaro Eduardo de Almeida Magalhães, um dos grandes nomes da Radiologia no complexo do Hospital das Clínicas (HC). O médico, que se tornou membro da Academia em 1967, teve uma atuação de pioneirismo e ocupou importantes cargos, como professor livre-docente e titular da FMUSP, vice-diretor e diretor desta instituição, e membro do Conselho Deliberativo do HCFMUSP.

“Ele foi o responsável por trazer a primeira máquina de ressonância magnética para um hospital público no Brasil, um grande avanço para a época. Também trouxe a primeira ultrassonografia e tomógrafo para o HC, além de ter sido o criador do serviço de punção em agulha fina para o diagnóstico de câncer. Considerava que a maior realização de sua vida foi a criação, em 1994, do Instituto de Radiologia do HCFMUSP, que hoje é uma grande potência. Álvaro Magalhães tinha a frase ‘nada resiste ao trabalho’ como seu lema de vida”, disse Bonfá.

Carlos Alberto Salvatore

José Maria Soares Júnior, professor do departamento de Ginecologia e Obstetrícia da FMUSP, foi responsável por apresentar a trajetória de Carlos Alberto Salvatore, figura fundamental para a fundação e desenvolvimento do departamento da instituição. Nascido em 1917, de uma família italiana, Salvatore se destacava pelo empenho e dedicação, foi um ótimo atleta, excelente pianista e exímio médico. Entrou na Escola Paulista de Medicina, em 1942 e os estágios internacionais realizados pelo médico foram grande destaque em sua carreira, já que teve a oportunidade de conhecer e conviver com figuras brilhantes da Ginecologia, passando por algumas das maiores instituições de ensino do mundo.

“Enquanto estava na Europa, pôde aprimorar ainda mais seus conhecimentos. Ao voltar para o Brasil, fez o doutorado focado na cristalização do muco cervical, que, para quem trabalha com esterilidade, foi revolucionário. Na FMUSP, atuou como chefe de enfermaria, chefe de residência médica em Ginecologia e Obstetrícia e professor titular. Foi condecorado com uma série de prêmios e chegou a ser recebido pelo papa no Vaticano. Professor Salvatore sempre foi um personagem muito ilustre e uma pessoa que convivia na sociedade dando o seu ensinamento, a sua opinião e sua luz”, relembrou.

Geraldo Antonio de Medeiros Neto

Em seguida, Tarcísio Eloy Pessoa de Barros Filho rememorou a atuação de Geraldo Antonio de Medeiros Neto, destacando que o humor do colega de profissão era um dos traços mais valiosos de sua personalidade. Medeiros se formou na Faculdade de Medicina da USP em 1959 e passou um tempo em Harvard, após ganhar uma bolsa de estudos, a fim de realizar pesquisas na Clínica de Tireoide da instituição. Ao voltar para São Paulo, assumiu a turma de Clínica Médica da USP, dedicando a sua carreira aos estudos voltados à tireoide.

“Ele foi um dos grandes defensores da iodação do sal para a prevenção de doenças crônicas, esta era uma bandeira que ele defendia. Foi criador de uma ONG que realizou um trabalho em muitos países em desenvolvimento que tinham dificuldades em efetuar este procedimento. Chegou a trazer e presidir o Congresso Mundial da Obesidade no Brasil e foi responsável pela publicação de muitos livros e artigos. Infelizmente, Medeiros nos deixou em janeiro de 2022 e pelas voltas que o mundo dá, tive a oportunidade de ser seu aluno, colega, virei seu médico e pudemos nos tornar grandes amigos”, descreveu.

José Pindaro Pereira Plese

Dando continuidade às apresentações, esteve o neurocirurgião Luis Fernando Pinheiro Franco recordando a atuação do colega de mesma especialidade, José Pindaro Pereira Plese. Conforme disse Franco, Pindaro era um homem muito justo e correto. Exemplo disso, foi quando encontrou um residente, sem experiência, se preparando para operar um aneurisma cerebral e lhe disse “homem, torna-te o que és”, compreendendo o anseio do jovem em realizar o procedimento, mas indicando a sua falta de habilidade para efetuar uma técnica tão delicada, mostrando que, no tempo certo, aquele aluno poderia participar da cirurgia.

“Pindaro galgou postos de auxiliar de ensino, professor, mestre e doutor. Por meio de suas teses de doutorado, fez uma série de contribuições à Neurocirurgia, publicando 18 trabalhos científicos em periódicos nacionais e cinco em revistas estrangeiras. Foi autor de 28 capítulos de livros e ministrou oito conferências, congressos, jornadas e cursos médicos. Participava de diversas entidades médicas e ingressou na AMSP em dezembro de 1994, sendo o primeiro ocupante da cadeia 110. Ele nos deixa o exemplo de um homem inteligente, simples, bondoso e compreensível”, destacou.

Luís Garcia Alonso

Posteriormente, Adagmar Andriolo assumiu as apresentações, evidenciando a história de Luís Garcia Alonso. O médico, que faleceu em agosto de 2022, aos 52 anos de idade, se formou em Ciências Médicas pela Santa Casa de Misericórdia de São Paulo, especializando-se em Genética Médica e sendo um grande precursor da área, que até então ainda estava em desenvolvimento no País. Graças aos seus conhecimentos e por meio de suas teses de mestrado e doutorado, Alonso pôde atuar em diversos cargos de relevância na Associação de Assistência à Criança Deficiente (AACD).

“Ele desenvolveu um algoritmo que serve de apoio para as craniossinostoses isoladas, permitindo tomada de decisões mais seguras e simples, e, assim, diferenciar pelo menos duzentas diferentes causas de síndromes que cursam com essa dismorfia. Suas atividades mais significativas incluem a descrição de mutações vigentes dos receptores de fatores de crescimento, além de ter sido o relator do primeiro caso na literatura da Síndrome de Crouzon, descrevendo especificamente a mutação do gene responsável por ela. Nem mesmo o AVC ocorrido em 2016 abateu o ânimo da sua dedicação e de sua vontade de ajudar, lutando bravamente contra as limitações decorrentes desta enfermidade, sem perder o bom humor e o senso de responsabilidade”, expressou.

Lygia Busch Iversson

O atual presidente da Associação Médica Brasileira (AMB), César Eduardo Fernandes, falou sobre a acadêmica Lygia Busch Iversson, formada em Medicina pela FMUSP, especializada em Pediatria e Saúde Pública. De acordo com Fernandes, apesar de não ter convivido com a médica, possui uma imensa admiração por seu trabalho e legado, revivendo o fato de a história de Iversson na Academia ser singular e muito especial, já que ela ocupou a cadeira que tem o próprio pai, Reynaldo Kuntz Busch, como patrono, dando continuidade à uma primazia de conhecimento e dedicação à Medicina.

“Lygia foi médica pediatra e atuou como sanitarista, implantando e dirigindo a sessão de Epidemiologia do departamento Regional de Saúde da Grande São Paulo. Exerceu funções na Secretaria da Saúde em bairros da periferia de São Paulo, experiência que a sensibilizou para a importância de ações preventivas de Saúde Pública, especialmente em relação à população mais carente, consolidando sua convicção e dedicação a esse tema. Ela alinhou o interesse pela pesquisa e a carreira docente, contribuindo para a formação de toda uma geração de sanitaristas e pesquisadores em epidemiologia”, evidenciou.

Munir Miguel Curi

O cirurgião plástico Juarez Moraes Avelar memorou Munir Miguel Curi. Para Avelar, a relação entre ambos sempre foi muito frutífera, de modo que conviveram por mais de 35 anos, oportunidade que os possibilitou se tornarem não apenas colegas de profissão, mas grandes amigos pessoais. Curi atuou como presidente da Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica – Regional São Paulo, conduzindo o destino da sociedade por meio de sua competência e dedicação vigorosa, cumprindo amplos calendários de eventos científicos com uma brilhante organização.

“Munir foi autor de numerosos artigos e capítulos de livros. Era uma figura de destaque em diversos eventos de Cirurgia Plástica e outros setores da Medicina, inclusive sobre o tratamento de calvície, além de ser um exímio professor de anatomia. Juntos, publicamos o livro História da Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica e um dos meus próximos livros será relatando o tratamento da calvície no Brasil nos próximos anos, baseado em seus estudos. Ele nos deixa uma memória brilhante, com muitos legados e faço esse relato com muita felicidade, mas com muita tristeza, por conta da saudade”, declarou.

Vladimir Bernik

Finalizando as apresentações do dia, esteve o psiquiatra Guido Arturo Palomba, que recordou grandes lembranças de Vladimir Bernik. Palomba, que foi aluno de Bernik, destacou que o médico foi um grande escritor de livros e artigos, participando de bancas e presidindo congressos, por meio de uma vida muito laboriosa. Durante suas aulas, Bernick ensinava seus estudante estimulando a leitura de desenhos, o que o configurava como um mestre da psicanálise.

“Me formei, perdi o contato com Bernick e depois de 25 anos, enquanto eu estava no consultório, ele me ligou e exigiu a minha presença em uma perícia que ia realizar. Fui e lá estava ele, ainda ensinando e mesmo depois de tanto tempo, eu pude aprender lições extremamente valiosas. Depois disso, eu nunca mais me separei do professor e pude estar com ele até os seus últimos dias de vida, obtendo inúmeros aprendizados. Ele era uma pessoa extraordinária e foi uma felicidade tê-lo comigo”, completou.

José Luiz Gomes do Amaral concluiu a tertúlia, se despedindo da presidência da AMSP com emoção. “Esta é a minha última tertúlia nesta posição, então eu tenho que agradecer o imenso apoio que vocês me deram nessas duas gestões. Foi muitíssimo prazeroso e tivemos apenas anos de satisfação. A Academia nunca me deu nenhum descontentamento e cada reunião foi ficando melhor, só tivemos satisfação, em função do ambiente que se criou. Os senhores representam harmonia, então fica o meu muitíssimo obrigado. Espero continuar na Academia durante muito tempo, em uma outra função, pois serei substituído com muitas vantagens pelo meu querido Hélio Begliomini”.

Fotos: Marina Bustos