O segundo dia do 3º Congresso de Medicina Geral, promovido pela Associação Médica Brasileira (AMB), no Distrito Anhembi, em São Paulo, realizado na sexta-feira, 25 de julho, foi marcado por uma programação intensa de palestras e debates voltados à capacitação e atualização de médicos generalistas.
Um dos momentos marcantes foi a mesa-redonda dedicada ao tema “Associativismo e Ética Médica”, coordenada pelo vice-presidente da região Centro-Oeste da AMB, Etelvino de Souza Trindade, e pelo secretário-geral da AMB e diretor de Patrimônio e Finanças da Associação Paulista de Medicina (APM), Florisval Meinão.
Meinão agradeceu a oportunidade e ressaltou a importância de fortalecer as associações médicas como pilares fundamentais para a qualidade da formação e da prática profissional no País.
Etelvino de Souza Trindade também expressou seu agradecimento aos presentes. “Me sinto honrado em coordenar uma mesa com pessoas tão renomadas e importantes.”
Participaram da mesa-redonda o presidente da APM, Antonio José Gonçalves, os diretores de Defesa Profissional da APM e AMB, Marun David Cury e Carlos Henrique Mascarenhas, respectivamente, e a consultora técnica da CBHPM – AMB, Miyuki Goto.
O papel do associativismo na formação do médico especialista
Em sua apresentação, Marun Cury destacou o associativismo como ferramenta essencial de integração da classe médica, capaz de facilitar o cotidiano do profissional e impulsionar avanços coletivos. “A união faz a força e o associativismo serve à coletividade e facilita a vida do médico”, afirmou.
Cury trouxe dados relevantes extraídos da Demografia Médica no Brasil 2025, mostrando que o Brasil registra atualmente uma média de 45 mil novos médicos por ano, número que anteriormente era de 37 mil, um crescimento impulsionado principalmente pela abertura desenfreada de escolas médicas. “Só perdemos para a Índia. Hoje, temos uma média de 2,98 médicos por mil habitantes, índice que já ultrapassa a recomendação da Organização Mundial da Saúde (OMS). O grande desafio, agora, é interiorizar esses profissionais”, alertou.
Segundo ele, o País contabiliza hoje 448 escolas médicas, sendo que apenas 20,7% são públicas e 79,3% privadas. Desde 2014, as instituições privadas foram responsáveis por 91,5% das novas vagas abertas. “Entre 80% e 90% das demandas em Saúde são resolvidas na atenção primária, o que não elimina a necessidade de médicos preparados, mesmo que não especialistas, para lidar com os desafios do cotidiano clínico”, explicou.
O diretor de Defesa Profissional da APM revelou que 244 mil médicos não possuem título de especialista. ”Há um relativo menor interesse por parte dos médicos graduados em seguir a formação via Residência Médica. A limitação de o País formar todos os médicos especialistas reforça a possibilidade desses profissionais buscarem curso de Pós-Graduação Lato Sensu (PGLS) com menor duração e em formato EAD, por exemplo. E depois prestar o exame para o título de especialista como um atalho”, acrescentou.
Em complemento, Antonio José Gonçalves disse que os cursos de pós-graduação são de grupos comerciais que visam o lucro. “É preciso ter responsabilidade na formação médica.”
Evolução no tempo e o futuro do associativismo
Na segunda palestra deste painel, o presidente da Associação Paulista de Medicina destacou a trajetória de entidade, que este ano completa 95 anos. Atualmente, a APM conta com mais de 25 mil associados e possui ampla capilaridade em todo o estado, reunindo 69 regionais e suas respectivas unidades de negócio – Hotel Fazenda, Instituto de Ensino Superior da APM (IESAPM) e o Residencial APM. “Rubião Meira, um dos fundadores da entidade, não imaginava um futuro como esse para a APM, graças à união dos médicos.”
Gonçalves reforçou os pilares fundamentais do associativismo, destacando a defesa do bom exercício profissional do médico e da boa Saúde da população. “O associativismo é essencial para garantir representatividade e qualidade na Medicina, mas é necessário modernizar esse modelo e compor as sociedades de especialidades. As associações incentivam a boa assistência, com coragem e determinação”, pontuou.
O presidente também salientou a estrutura da APM, as vantagens de ser associado e a atuação política em questões primordiais, como a formação médica e a defesa profissional da classe. “Este congresso resgata e fortalece a classe médica. Com união somos imbatíveis, em prol de uma Medicina de qualidade”, evidenciou.
Papel da AMB na representação dos médicos nas instâncias oficiais
Carlos Henrique Mascarenhas iniciou sua participação citando a relação da AMB com as instituições de Governo. Ele falou da importância da articulação da entidade com órgãos como o Ministério da Saúde, Ministério da Educação e a Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS).
“Se pensarmos na AMB, temos uma longa história de representação dos médicos, grande respeitabilidade institucional, fonte oficial de conhecimento científico, proprietária da CBHPM (Classificação Brasileira Hierarquizada de Procedimentos Médicos), assento fixo em diversas posições oficiais em agências governamentais, alto nível de organização institucional e grande interação com sociedades de especialidades para o título de especialista”, relembrou.
O médico enfatizou a relação da AMB com a ANS, mencionando atuação contra glosas abusivas e interferências indevidas, participação em câmaras técnicas e audiências públicas, envolvendo discussão sobre remuneração e contratos dos médicos com planos de saúde e defesa do equilíbrio entre operadoras, prestadores e pacientes, e convite e co-participação de sociedades de especialidades na Comissão de Atualização do Rol de Procedimentos e Eventos em Saúde Suplementar (Cosaúde).
Em relação à AMB e às instituições de Governo, especificamente o Ministério da Educação, Mascarenhas comentou a participação ativa da entidade na regulação da formação médica, assim como na defesa da qualidade no ensino de Medicina. Destacou ainda a atuação da entidade junto ao Conselho Nacional de Educação (CNE) e ao Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (INEP) na definição de diretrizes curriculares e avaliações, além do posicionamento contrário à abertura indiscriminada de escolas médicas.
CBHPM e valorização do trabalho médico
Miyuki Goto abordou, na última palestra do painel “Associativismo e Ética Médica”, a importância da Classificação Brasileira Hierarquizada de Procedimentos Médicos (CBHPM) na valorização do trabalho médico.
Na ocasião, ela falou sobre a criação da CBHPM, elaborada com base em critérios técnicos, com a finalidade de hierarquizar os procedimentos médicos servindo como referência para estabelecer faixas de valorização dos atos médicos pelos seus portes. De acordo com a consultora técnica, os portes de cada procedimento não expressam valores monetários, apenas estabelecem a comparação entre os diversos atos médicos no que diz respeito à sua complexidade técnica, tempo de execução, atenção requerida e grau de treinamento necessário para a capacitação do profissional que o realiza.
Miyuki Goto explicou que o código e a descrição da CBHPM são a base da TUSS (Terminologia Unificada da Saúde Suplementar) na saúde suplementar. A ANS correlaciona os procedimentos cobertos no Rol. “Não devemos aceitar a desvalorização dos honorários médicos e as sociedades precisam estar unidas”, reforçou.
Marun Cury reforçou que todo segmento médico precisa se unir e somar forças. “Muitas vezes, não avançamos por falta de união da classe. Não adianta apenas lastimar tudo o que acontece em Brasília. Se não formos até lá, nada será resolvido”, concluiu.



Fotos: Divulgação