Fórum Conadem: atuação da mulher médica é pauta do CMG

Especialistas apresentaram dados de estudos conduzidos pela AMB em relação à feminilização da Medicina e abordaram a violência contra a mulher

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A Medicina vem se tornando cada vez mais feminina e este dado é comprovado pela Demografia Médica do Brasil 2025, demonstrando que, a partir deste ano, as mulheres já serão maioria na profissão. Para falar sobre os principais desafios enfrentados enquanto médicas, o Congresso de Medicina Geral da Associação Médica Brasileira realizou o Fórum Conadem no segundo dia de evento, 25 de julho.

O presidente da AMB, César Eduardo Fernandes, salientou que a entidade tem plena consciência do contingente de médicas em atuação no País atualmente, reforçando que a tendência é que o número cresça gradativamente no decorrer dos próximos anos. “Temos que nos preocupar com a mulher médica e por isso a AMB deu todo o suporte para que a pesquisa Conadem fosse realizada.”

Pesquisa Conadem

Luciana Rodrigues Silva, 1ª vice-presidente da Associação Médica Brasileira, apresentou dados da Pesquisa Conadem – Comissão Nacional em Defesa dos Direitos no Trabalho da Mulher Médica da AMB. Conforme relembrou, a AMB está engajada em fornecer proteção às médicas, já que na primeira gestão de César Fernandes, de 2021 a 2023, foi criado um canal para que elas pudessem denunciar qualquer espécie de violência. Agora, na segunda gestão, houve o desenvolvimento desta comissão.

“Os nossos objetivos visam a igualdade e a proteção da mulher no exercício da Medicina. A mulher médica aspira ter oportunidades semelhantes as de um homem, ela não quer ficar à frente e nem atrás, mas ao lado dele. Ela quer ser ouvida, se livrar da culpa e ser respeitada na sua profissão, por seus pares, gestores e colegas. Na Demografia Médica deste ano, nós vimos que já há um número maior de mulheres nas diversas áreas da profissão. Entender essa transformação é essencial para que possamos avaliar os desafios futuros”, pontuou.

Silva demonstrou que a mudança de paradigma é observada tanto na graduação quanto na residência médica. “Quando se trata de especialistas, o número de mulheres também começa a crescer de maneira bastante significativa. […] Então, nós precisamos documentar as desigualdades, barreiras impostas e o impacto disso para elas – além de buscar o que é preciso ser feito para mudar.”

A médica relembrou que, atualmente, a Associação Médica Brasileira está conduzindo três estudos diferentes. O primeiro deles, com o objetivo de quantificar a presença de mulheres médicas em diretorias de entidades e as diferenças regionais. “Os resultados preliminares mostram que apenas 28% das entidades têm mulheres em posição de diretoria.”

“Homens ocupam 71% das diretorias das entidades médicas, enquanto eles representam 30% da população médica geral, ao passo que somente 28% das mulheres estão em diretorias, embora representem quase 50% da categoria. Entre presidentes de entidades médicas, 80% são homens e apenas 20% mulheres”, demonstrou.

O segundo trabalho é sobre as barreiras e limitações da atuação da mulher em diretorias de entidades médicas ou em posição de status, no intuito de investigar barreiras enfrentadas e limitações estruturais e culturais. Já a terceira pesquisa se consolida como um inquérito nacional sobre a feminilização da Medicina, traçando um perfil sociodemográfico das médicas, analisando suas trajetórias e condições de trabalho.

“Com esses estudos, pretendemos dar visibilidade às desigualdades de gênero, que ainda estão presentes na Medicina, e, assim, produzir evidências qualificadas para que possamos lutar por políticas públicas que possam apoiar a mulher e incentivar mudanças nas práticas de gestão das entidades médicas, valorizando a diversidade e a equidade. Pretendemos reconhecer e fortalecer trajetórias da liderança feminina para que sirvam de exemplo para as novas gerações do nosso País, contribuindo para uma Medicina mais justa, plural e representativa”, complementou.

Violência

Em seguida, a advogada Ivani Pereira Baptista dos Santos trouxe dados estarrecedores sobre a violência contra a mulher. Ela relembrou que as formas de violência se dividem entre física, sexual, patrimonial, moral e virtual, aproveitando para falar como cada uma delas se especifica e o tempo de pena dessas agressões.

“Nós precisamos conceituar o que é a violência para entender o seu significado e podermos nos fortificar. A Lei Maria da Penha (nº 11.340/2006) foi criada pela luta contra a violência à mulher e define como qualquer ação ou omissão baseada em motivo que cause morte, lesão, sofrimento físico, sexual, psicológico ou dano patrimonial”, relembrou.

De acordo com a advogada, o Fórum Brasileiro de Segurança Pública aponta que houve um crescimento de 61% nos feminicídios – um contexto em que a cada dez casos, sete mulheres foram mortas dentro de casa pelo companheiro ou ex-companheiro.

“É importante estarmos cientes desses cenários não só na Medicina, mas na violência contra a mulher como um todo. O médico, muitas vezes, é a porta para uma vítima denunciar o que está acontecendo com ela e existem alguns sinais comportamentais de que devemos estar alertas, como repetição constante, evitar contato visual, não gostar de ficar falando, sentir desconforto ou irritabilidade, impaciência e, em alguns casos, as vítimas podem arrancar o próprio cabelo, ter dificuldade de concentração, hipervigilância e fala acelerada”, explicou.

Para Ivani, é possível ajudar as vítimas por meio da criação de um ambiente seguro e da escuta ativa. Ela também relembrou que a Lei nº 13.931/2019 instituiu a notificação compulsória em casos de violência contra a mulher – ou seja, é obrigação legal, independente da vontade da vítima, notificar casos de suspeita ou de confirmação de violência.

A especialista aproveitou para demonstrar que os casos de violência contra a mulher médica também se consolidam como uma triste realidade, em que 51,44% delas relatam agressões verbais ou físicas no ambiente de trabalho – seja por pacientes, colegas ou gestores –, mas que não denunciam por meio de represália e descrédito.

“Isso traz impactos emocionais e profissionais, inclusive abandono da atividade profissional. As médicas também precisam ser protegidas, porque a violência de gênero atinge quem cuida. A cada mulher salva da violência, evitamos um feminicídio. Médicos são agentes de transformação social e o cuidado começa com o olhar atento”, concluiu.

Fotos: Divulgação