No intuito de contribuir com a promoção de notáveis iniciativas sociais, a Associação Paulista de Medicina realizou, no dia 26 de julho, o evento Voluntariado Médico em Foco. Na ocasião, foram recebidas as organizações Associação Lar São Francisco de Assis na Providência de Deus, Sementes da Saúde e Expedicionários da Saúde, que tiveram a possibilidade de apresentar os trabalhos realizados e como a sua atuação vem contribuindo para populações em situação de vulnerabilidade social.
Para o presidente da APM e idealizador do evento, Antonio José Gonçalves, falar sobre voluntariado médico vai de acordo com as principais diretrizes da instituição – que são a boa formação e a boa assistência à população. “A ideia é que a Associação Paulista de Medicina seja o centro de união dos médicos e consiga apoiar todas essas entidades, que fazem um trabalho maravilhoso e extremamente necessário para a nossa sociedade. Sintam-se acolhidos aqui nesta casa, acho que vamos ter muitos bons resultados cumprindo o nosso papel de responsabilidade social.”
Jorge Carlos Machado Curi, diretor de Reponsabilidade Social da APM, salientou que eventos deste porte engrandecem a Medicina. “Eu acho que, para o médico, que tem como principal finalidade fazer tudo que estiver ao seu alcance em benefício dos pacientes, este princípio de poder atuar no voluntariado é fundamental. Eu admiro e parabenizo aqueles que fazem e dão sequência permanente a esse trabalho. É essencial mantermos o preceito da compaixão e acho que, neste sentido, associativismo e voluntariado são interligados.”
Paulo Fontão, diretor adjunto de Responsabilidade Social, destacou que a ideia é que sejam realizados mais eventos com o mesmo intuito de apresentar mais instituições voluntárias. “Nós estamos muito felizes em ter este evento sobre voluntariado médico. Quando começamos a organizá-lo, nos deparamos com muitas outras associações médicas que fazem o voluntariado, então imaginamos que tem que ter outros tantos, para que a gente consiga compartilhar a ação e a experiência de muitas outras instituições.”
Antes de dar início às apresentações, os médicos Gilberto Natalini, Henrique Francé e Nacime Mansur foram homenageados pela sua atuação à frente do projeto “Os Médicos de Cangaíba – Viver é gostar de gente”. “Isso nos refresca a alma e nos mostra a importância de continuar fazendo o nosso trabalho. Estamos há 50 anos realizando o voluntariado e o fazemos com muita satisfação”, descreveu Natalini.



Associação Lar São Francisco de Assis na Providência de Deus
A Associação deu início às suas atividades na cidade de Jaci, município no interior de São Paulo, em 1985, com foco em ser uma comunidade terapêutica para dependentes químicos. O trabalho da entidade começou a ganhar destaque, se expandindo para outras cidades e atualmente conta com hospitais lares, administração de hospitais, gestão de ambulatórios médicos e de farmácias de alto custo, entre outras funções.
O Frei Francisco Belotti, fundador e presidente da instituição, relembrou que foi durante a vinda do Papa Francisco ao Brasil, em 2013, durante a Jornada Mundial da Juventude, no Rio de Janeiro, que o pontífice questionou se a Associação estava presente na região Amazônica e ao ouvir que não, reforçou que deveriam ir para lá.
“Em agosto de 2019, tivemos a oportunidade de inaugurar o primeiro barco hospital, chamado Papa Francisco. No final deste ano, vamos ultrapassar 1 milhão de atendimentos” relembra Belotti. O barco realiza consultas, exames e cirurgias de média complexidade, permitindo que a população ribeirinha tenha acesso à Saúde de qualidade por meio de atendimentos que abrangem diversos municípios dessa localidade.
“Também criamos as ‘ambulanchas’, lanchas transformadas em uma pequena UTI, que têm a possibilidade de pegar a pessoa recém-operada, instruída, medicada e totalmente orientada e levá-la até o local em que ela mora. O amor se multiplica, hoje, já temos três embarcações e a quarta está em processo de estruturação. Assim, vamos trabalhando para amenizar situação da região Amazônica. E eu queria deixar uma coisa muito clara, esses projetos só conseguem ficar em pé porque existe uma classe chamada médicos. Fazer o bem é a melhor coisa do mundo, seja para quem for”, destacou.

Sementes da Saúde
Moniquelly Barbosa da Silva é cirurgiã geral e fundadora da ONG Sementes da Saúde. Para ela, o voluntariado não é uma escolha, mas sim, uma responsabilidade compartilhada enquanto seres humanos. “O nosso objetivo é ser um facilitador para que boas pessoas encontrem bons propósitos e consigam fazer esse trabalho.”
A paixão pelo voluntariado surgiu junto da vontade de ser médica e foi durante algumas aulas da graduação que descobriu a Missão Benin – o que a fez despertar para a necessidade de fazer a diferença. Assim, em 2015 fundou a Sementes da Saúde. “Nós buscamos levar atendimento de qualidade a quem mais precisa, pautando na honestidade, integridade e responsabilidade, com aceitação das diversidades e comprometimento com a excelência. Só este ano, temos mais de 120 voluntários participando ativamente das atividades e mais de 18 mil atendimentos.”
A médica relembrou que os projetos se dividem entre Sementes na Rua, Sementes no Cárcere, Sementes na Infância e Sementes no Mundo. No Brasil, a ONG tem uma forte concentração na região Norte, atuando em parceria com o barco hospital, além de realizar ações em Benin e, pela primeira vez, em 2025, em Angola.
“Também temos muitos desafios, primeiro de ter o compromisso e a dedicação por um período longo, é difícil manter a regularidade. A adaptação cultural e social é muito grande, além de ser desafiador o trabalho em equipe, com pessoas que nunca se viram. Uma frase que eu sempre falo é que temos que fazer a diferença na vida dessas pessoas. Quem tiver esse propósito e essa vontade, inicie esse trabalho”, disse.

Expedicionários da Saúde
A organização teve início quando um grupo de médicos que costumava fazer caminhadas ao redor de todo o mundo alcançou o Pico da Neblina, no Amazonas, em 2002, e na descida encontrou uma aldeia Yanomami, em que começaram a conversar com os seus habitantes e perceberam a realidade daquela localização, que, em termos de Saúde, necessitava de uma atenção especial – principalmente em cirurgia.
O cofundador e atual presidente da Expedicionários da Saúde, Ricardo Affonso Ferreira, explicou como funciona a atuação do grupo na prática. “Nós montamos um hospital, que é uma barraca grande, com centro cirúrgico, e cuidamos da população indígena que vive geograficamente isolada na região Amazônica. Normalmente, uma expedição conta com um número de 70 a 100 voluntários e temos de tudo, médicos, cozinheiros, dentistas e, principalmente, enfermeiros.”
Ferreira relembrou que a ONG já realizou 55 expedições, totalizando mais de 76 mil atendimentos, 10 mil cirurgias, 148 mil exames, 8 mil óculos doados e mais de 300 voluntários. “O nosso foco é cirúrgico e temos uma ampla atenção na área de Oftalmologia, em que fazemos muitas cirurgias de catarata, pterígio e hérnia. O centro cirúrgico é bem equipado e os instrumentos bem modernos. Fazemos três expedições por ano e é uma coisa maravilhosa, porque pegamos indivíduos que estão completamente cegos e no dia seguinte estão enxergando.”
A ONG também tem projetos que envolvem diferentes áreas da Saúde, como o Mulheres na Floresta, que visa fazer o rastreio do câncer de colo de útero; o Floresta em Movimento, que dá próteses a vítimas amputadas por acidentes ofídicos; realiza missões emergenciais, como no terremoto do Haiti e durante a Covid, além de fornecer serviços de Clínica Médica, Odontologia, Pediatria, entre outros.

Texto: Julia Rohrer