Diretora da APM aborda efeitos do álcool na menopausa

Maria Rita de Souza Mesquita concedeu entrevista à revista Minha Saúde, da ProTeste

APM na imprensa

A secretária-geral adjunta da Associação Paulista de Medicina, Maria Rita de Souza Mesquita, também presidente da Associação de Obstetrícia e Ginecologia do Estado de São Paulo (Sogesp) e 1ª secretária da Associação Médica Brasileira, concedeu entrevista à revista Minha Saúde, da ProTeste, sobre os efeitos de bebidas alcoólicas na menopausa. Confira a seguir.

Quais são os efeitos de bebidas alcoólicas na menopausa?

As alterações hormonais da menopausa podem influenciar os efeitos causados pela ingestão de álcool entre as mulheres

No Brasil, 28,2% dos brasileiros de todas as capitais do país consumiam bebida alcoólica em 2023, de acordo com dados do Observatório da Saúde Pública. Em 2021, por exemplo, esse percentual era de 27,6%. A ingestão nociva de álcool preocupa as autoridades de saúde que, de acordo com a plataforma do levantamento citado acima, é caracterizada como alcoolismo – uma doença crônica – relacionada a diversos fatores, como frequência do consumo, genética, ambiente e aspectos psicossociais.

Para compreender ainda mais sobre o cenário do consumo de álcool no Brasil, um levantamento do Datafolha mostrou que quando se trata do público feminino, 42% das mulheres fazem uso de bebidas alcoólicas, enquanto essa taxa é de 58% entre os homens. A pesquisa foi feita entre 08 e 11 de abril de 2025. Diante desses dados, um questionamento que pode surgir é: como a relação entre a menopausa e as bebidas alcoólicas afeta o organismo das mulheres?

Quando se trata da menopausa, os efeitos do consumo do álcool acabam se tornando mais intensos nas mulheres, por conta de fatores fisiológicos, hormonais e metabólicos, como explica Maria Rita de Souza Mesquita, Presidente da Associação de Obstetrícia e Ginecologia do Estado de São Paulo (SOGESP) e Diretora da Associação Paulista de Medicina (APM).

Um estudo publicado no periódico Alcohol Health and Research World destacou que a ingestão de álcool nesse período é capaz de influenciar a ocorrência ou o progresso de algumas doenças, devido aos níveis hormonais afetados nessa fase.

Maria Rita destaca que após a menopausa os hormônios protetores do organismo da mulher são reduzidos, principalmente o estrogênio. “A queda nos níveis de estrogênio aumenta o risco de doenças cardiovasculares, osteoporose e alterações metabólicas. Também há mais riscos de hipertensão arterial [pressão alta], além de elevar os níveis de triglicerídeos e interferir na absorção de cálcio – o que aumenta o risco de fraturas”.

Assim, de acordo com Maria Rita, dentre os efeitos de bebidas alcoólicas ocasionados pela menopausa estão:

1. Maior sensibilidade ao álcool
A presidente da SOGESP explica que, especialmente na pós-menopausa, a água no corpo e a massa magra são reduzidas. “Isso faz com que doses de álcool tenham efeitos maiores no organismo, promovendo risco elevado de intoxicação, quedas e confusão mental”.

2. Maior perda de massa óssea
Conforme Maria Rita, o álcool em excesso acelera o processo de perda de massa óssea, que é comum de acontecer nesta fase. Isso eleva as chances do desenvolvimento de osteoporose – doença que enfraquece os ossos – e fraturas.

3. Impacto sobre o sono, o humor e a saúde mental
A menopausa compromete a qualidade do sono e o álcool pode piorar esse quadro. A partir dessa condição, as mulheres podem apresentar sintomas de depressão e ansiedade que já são comuns durante e após a transição da menopausa, como explica Maria Rita.

“Com isso, há um risco maior de desenvolver dependência emocional do álcool como forma de ‘alívio’ para esses sintomas”.

4. Aumento do risco de câncer (principalmente de mama)
“O consumo de álcool na pós-menopausa eleva, significativamente, o risco de câncer de mama estrógeno-dependentes, por aumentar os níveis circulantes deste hormônio”, destaca Maria Rita.

5. Interações com medicamentos
O álcool é capaz de interagir com medicamentos, como os relacionados à reposição hormonal, antidepressivos e os que são usados para tratar osteoporose ou hipertensão arterial, como comenta Maria Rita. Assim, essa interação reduz a eficácia desses remédios ou pode, até mesmo, causar efeitos colaterais graves.

Bebidas alcoólicas: mitos e verdades
Além dos efeitos das bebidas alcoólicas durante a menopausa, vale compreender, no geral, os mitos e verdades referentes ao consumo de álcool. Maria Rita lista as seguintes frases e explica cada uma delas:

“Álcool faz mal somente quando ingerido em grandes quantidades”
Mito: Quantidades pequenas, assim como moderadas, são suficientes para danificar à saúde, especialmente quando o consumo é frequente. Isso pode ocasionar danos celulares, comprometimento hepático, alterações cerebrais, além do risco maior de câncer.

“Uma taça de vinho por dia faz bem ao coração”
Mito: Apesar da descrição no passado sugerir que o de vinho tinto pudesse ter efeitos cardiológicos benéficos por conta de alguns antioxidantes, os estudos científicos mais recentes demonstram que qualquer benefício potencial é superado pelos riscos maléficos da substância, que englobam câncer, hipertensão e dependência.

“A prática regular de exercícios e a alimentação saudável combatem os efeitos nocivos da ingestão de álcool”
Mito: Estilo de vida saudável, como dieta de qualidade e atividade física constante, não anula os efeitos nocivos ligados à ingestão de álcool.

“O álcool contribui para distúrbios de saúde mental”
Verdade: O álcool agrava quadros de ansiedade e depressão. Ele também está relacionado ao maior risco de suicídio, transtornos de humor e dependência química.

“O álcool é prejudicial durante a gravidez”
Verdade: O consumo de álcool durante a gestação pode causar a Síndrome Alcoólica Fetal, levando a malformações, déficits cognitivos e de aprendizado na infância.

“O álcool está entre os principais fatores de morte evitável no mundo”
Verdade: Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), o álcool é responsável por cerca de 3 milhões de mortes por ano em todo o mundo, além do aumento de acidentes de trânsito, violência, suicídios, overdose e doenças crônicas – como, por exemplo, a cirrose.

“Não existe quantidade segura de álcool para a saúde”
Verdade: Evidências científicas mostram que a ingestão de álcool está diretamente relacionada a efeitos maléficos à saúde. A recomendação da OMS e de sociedades médicas é: quanto menos álcool, melhor. Aliás, o ideal seria o consumo zero.

Fonte: ProTeste – confira neste link