A quarta edição do Cine Debate, realizada pela Associação Paulista de Medicina (APM) no último dia 22 de agosto, exibiu o filme “O Golpe de Mestre” (EUA, 1973), dirigido por George Roy Hill e estrelado por Paul Newman, Robert Redford e Robert Shaw. O longa conquistou sete estatuetas do Oscar e permanece, até hoje, como um clássico do cinema americano.
Na trama, que ocorre no estado de Illinois, nos Estados Unidos, na década de 1930, dois vigaristas aplicam um golpe em um dos homens de confiança de um poderoso chefão do crime. Quando um deles é assassinado, o outro decide fugir e, em busca de vingança, se une a um antigo parceiro para planejar um golpe ainda maior, com o objetivo de desestabilizar o mafioso.
Para analisar o filme, o psiquiatra e coordenador do Cine Debate, Wimer Bottura Junior, convidou a psicóloga e psicanalista Marina Ramalho Miranda, docente e membro efetivo da Sociedade Brasileira de Psicanálise de São Paulo (filiada à IPA – International Psychoanalytical Association), e o jornalista Jeffis Carvalho, editor de Cinema do jornal O Estado de S. Paulo.
“Sempre digo e repito em todos os debates que a gente vive torcendo para o bandido. E lembrei de uma frase que cabe bem nesta história de hoje que é ‘ladrão que rouba ladrão tem 100 anos de perdão’. O filme retrata uma compulsão, algo que sai da necessidade, que determina o início da coisa e faz com que a pessoa entre no vício e não consegue mais parar até perceber que não tem mais saída. É uma reflexão importante para as nossas vidas”, explicou Wimer Bottura.
Todos têm um ponto fraco
No debate, que teve como tema “Todos têm um ponto fraco”, Marina Miranda destacou a narrativa do filme e sua habilidade em capturar a atenção do espectador por meio de reviravoltas, trapaças e estratégias que desafiam a percepção do que é verdade ou mentira. “O cuidado narrativo torna esse filme atemporal e bastante contemporâneo”, destacou.
Ela também observou que os personagens parecem competir como o melhor farsante ou melhor ladrão. “Como se fossem crianças que não podem ser frustradas e que, se forem superadas, fazem retaliação, ou seja, a vingança é como se fosse uma forma de recuperar a força do ego e a honra dentro do mundo do crime”, acrescentou.
Jeffis Carvalho trouxe uma leitura complementar ao dizer que “O Golpe de Mestre” não é só um filme que tenta retratar uma época, na verdade, ele quer ser aquela época. “A obra é de 1973, portanto tem 52 anos, e eu diria que ‘O Golpe de Mestre’ é o tipo de filme americano que atingiu o que a gente pode chamar de estado da arte do cinema narrativo clássico-americano. O que eu quero dizer com isso? É que ele foi tão bem construído em termos de roteiro, de história, de desenvolvimento de personagens, assim como a fotografia, o cenário, os atores e a direção que, em conjunto, consagraram o cinema americano como referência global nos últimos 100 anos em termos de mercado.”
O jornalista também contextualizou o pano de fundo histórico do filme, lembrando que a década de 1930, nos Estados Unidos, foi marcada pela crise econômica provocada pela quebra da Bolsa de 1929 e pela consequente Grande Depressão. Com taxas de desemprego que chegaram a 30%, o país enfrentava uma situação muito difícil. “Acho que é isso que o filme faz de forma brilhante, porque ele, na verdade, fez uma crítica não só àquele momento, mas ao que o mundo vivia lá no início dos anos 1970. Acredito que o golpe de mestre é dado em nós”, comentou.
Ao relembrar sua primeira experiência com o longa, em 1974, quando tinha apenas 16 anos, Jeffis compartilhou o impacto do desfecho surpreendente. “Você não espera aquele final e, quando acontece tudo aquilo, leva um susto. O que o filme está dizendo para nós – e eu acho que a grande arte sempre vai fazer isso – é que isso é um truque. E ele trabalha esse truque de forma absolutamente genial, porque surpreende a gente”, concluiu.



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