A Associação Paulista de Medicina realizou, na última quarta-feira, 8 de outubro, webinar sobre Hipertensão, apresentado e mediado pelos diretores Científicos Paulo Manuel Pêgo Fernandes e Marianne Yumi Nakai. “Quero aproveitar o momento para registrar meu agradecimento especial aos palestrantes por terem aceitado o convite da APM e estarem conosco hoje”, destacou Pêgo.
Para discutir o tema, o cardiologista Fernando Nobre, doutor em Medicina pela Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP) e especialista em hipertensão arterial, ministrou a palestra “Diagnóstico e Estratificação de Risco da Hipertensão Arterial”. Em seguida, o professor livre-docente do Departamento de Cardiopneumologia da FMUSP, Heno Ferreira Lopes, falou sobre “Tratamento da Hipertensão e Metas Pressóricas”.
O evento ganhou ainda mais relevância diante da recente divulgação da nova Diretriz Brasileira de Hipertensão Arterial 2025 – elaborada pela Sociedade Brasileira de Cardiologia (SBC), em parceria com a Sociedade Brasileira de Nefrologia (SBN) e a Sociedade Brasileira de Hipertensão (SBH) -, que atualizou a classificação da pressão arterial.
Diagnóstico e Estratificação de Risco
A hipertensão arterial permanece como um dos principais desafios de Saúde pública no Brasil e no mundo. Fernando Nobre se mostrou honrado pelo convite da APM, sobretudo, por se tratar de uma atividade que representa tudo aquilo que tem feito ao longo das últimas décadas sobre este assunto. “Nesta apresentação, vou falar sobre diagnósticos, tomando como base a nova Diretriz Brasileira de Hipertensão Arterial, recentemente publicada, que tanto eu quanto o colega Heno Lopes estivemos envolvidos em sua confecção.”
A hipertensão é uma doença crônica não transmissível, diagnosticada com base em números. “É considerado hipertenso o indivíduo que apresenta pressão arterial sistólica e diastólica igual ou superior a 140×90 mmHg, com aferições tecnicamente corretas em pelo menos duas ocasiões, e na ausência de uso de medicação anti-hipertensiva. A partir do início do tratamento, a preocupação passa a ser com a eficácia e o controle da pressão arterial”, explicou.
Para explicar melhor, Nobre citou um roteiro baseado em quatro pilares: anamnese com exame clínico, aferição da pressão arterial no consultório, aferição fora do consultório – com as técnicas disponíveis atualmente – e, por fim, estratificação do risco do indivíduo com hipertensão.
Em relação à anamnese, o médico recomendou atenção aos sintomas relatados, ao histórico familiar e aos hábitos do paciente, como alimentação, prática de atividade física, consumo de álcool, sal e outras substâncias. Também devem ser avaliadas possíveis lesões em órgãos-alvo, como o coração, rins e cérebro. Além disso, é necessário avaliar o nível de estresse e as características psicossociais do paciente.
Os fatores de risco aumentam a probabilidade de desenvolvimento da doença, incluindo obesidade, sedentarismo, ingestão excessiva de sódio, distúrbios do sono, fatores ambientais e genéticos, entre outros. Segundo o palestrante, as mulheres estão relativamente protegidas de doenças cardiovasculares – hipertensão incluída – até a menopausa. A partir desse período, o risco se equipara ao dos homens.
“Após o exame físico, precisamos avaliar principalmente os rins, o coração e o cérebro, para identificarmos possíveis lesões nessas estruturas. Mas o mais importante, de fato, é a medida realizada no consultório, uma vez que alguns aspectos básicos devem ser observados, como a colocação adequada do manguito e a estimativa correta da pressão sistólica”, acrescentou.
Nova Diretriz
“Há algum tempo, reconhecemos que uma pressão arterial abaixo de 120x 80 mmHg é considerada normal. Esse é o padrão desejável. Quando um indivíduo apresenta valores iguais ou superiores a 140/90 mmHg, ele é classificado como hipertenso, desde que as aferições sejam realizadas em condições adequadas, como uso de equipamento validado, posicionamento correto do braço e repouso prévio, entre outros cuidados técnicos.
Valores entre 120X80 mmHg e 139X89 mmHg correspondem ao que anteriormente era chamado de pré-hipertensão. Este termo continua sendo válido e visa alertar para o risco aumentado de evolução para hipertensão, especialmente na presença de outros fatores de risco cardiovascular.
“A hipertensão arterial continua sendo definida como pressão arterial maior ou igual a 140/90 mmHg, considerando sempre as condições adequadas do exame físico e complementares. A partir disso, é possível fazer a estratificação de risco do paciente. Um avanço importante no diagnóstico e acompanhamento da hipertensão foi a introdução de medições fora do consultório médico. O MAPA (Monitorização Ambulatorial da Pressão Arterial) é um aparelho automático, quase sempre oscilométrico, que registra a pressão arterial em intervalos regulares durante 24 horas ou mais, incluindo períodos de vigília e sono”, complementou.
Tratamento da Hipertensão e Metas Pressóricas
Na segunda apresentação do webinar, o professor Heno Lopes abordou as estratégias terapêuticas para o controle da hipertensão. “É um grande prazer estar aqui para falar sobre um tema de extrema relevância. Como já foi bem ressaltado pelo professor Fernando Nobre, estamos diante de novos aspectos e diretrizes que vêm sendo discutidos não só no Brasil, mas internacionalmente. Os Estados Unidos, por exemplo, também publicaram recentemente uma nova diretriz, o que reforça a importância global do tema”, afirmou.
Lopes explicou que a hipertensão arterial é uma condição de altíssima prevalência em todo o mundo, atingindo atualmente aproximadamente 1,28 bilhão de pessoas. “Desde que comecei a atuar nessa área, ainda na década de 1980, infelizmente alguns números não melhoraram. Em muitos países, especialmente os em desenvolvimento, observamos que apenas cerca de 50% das pessoas hipertensas sabem que têm a doença, e menos da metade está em tratamento. O mais alarmante é que apenas 21% têm a pressão efetivamente controlada. Isso mostra o tamanho do desafio de Saúde pública que enfrentamos”, revelou.
O médico também chamou a atenção para os fatores que contribuem para a baixa adesão ao tratamento. De acordo com ele, os pacientes esquecem de tomar a medicação por questões de rotina, sofrem com efeitos adversos, lidam com esquemas terapêuticos complexos com múltiplas doses diárias ou enfrentam dificuldades financeiras.
Além disso, por ser uma doença silenciosa, a hipertensão acaba sendo negligenciada por muitos. “Precisamos reforçar constantemente a importância do diagnóstico precoce e do tratamento adequado. Muitos indivíduos que sabem que são hipertensos sequer estão em tratamento, o que é extremamente preocupante.”
Lopes comentou ainda que a diretriz anterior utilizava o termo “mudança no estilo de vida” e a expressão, segundo ele, é muito ampla. “A nossa diretriz fez uma restrição de bebida alcoólica e recomenda limitar o consumo de até duas doses para homem e uma dose para mulher.Já a diretriz americana adotou uma abordagem mais restritiva, sugerindo a eliminação completa do álcool, com base em estudos que mostram aumento da pressão arterial mesmo com a ingestão de pequenas quantidades diárias, como um ou dois aperitivos.
Nos casos de pré-hipertensão, o médico reforça que o tratamento inicial deve ser baseado exclusivamente em medidas não medicamentosas por um período de três meses. “No caso da hipertensão já estabelecida, a recomendação é, na maioria dos casos, iniciar o tratamento com a associação de dois fármacos de classes diferentes. Essa abordagem é mais eficaz no controle da pressão arterial desde o início. As exceções ficam para idosos frágeis ou para pacientes com hipertensão em estágio 1 e risco cardiovascular baixo, podendo considerar o início com monoterapia”, concluiu.
Fotos: Reprodução Webinar APM