A primeira mesa-redonda do I Fórum para Avaliação do Processo de Formação dos Médicos Residentes e Especialistas no Estado de São Paulo, realizado nos dias 31 de outubro e 1 de novembro, na sede da Associação Paulista de Medicina (APM), abordou o tema “Panorama da Residência Médica no Brasil e o Processo de Certificação de Especialistas”.
Moderada pelo presidente da APM, Antonio José Gonçalves, a atividade contou com apresentação do diretor de Eventos da APM, Fernando Tallo, que também é 2º tesoureiro da Associação Médica Brasileira (AMB) e membro da Comissão Nacional de Residência Médica (CNRM), e do presidente da Comissão Estadual de Residência Médica de São Paulo (Cerem-SP), Paulo Fernando Constâncio de Souza.
“Não há dúvida de que a Residência Médica é a melhor forma de formação do médico. É um processo intensivo, que traz muitos benefícios para o residente, para o ensino e para a assistência à população”, destacou Gonçalves.



Graduação x especialização
A primeira palestra foi conduzida por Fernando Tallo, que apresentou dados relevantes sobre a Residência Médica no Brasil, com ênfase na expansão das faculdades de Medicina nos últimos 10 anos. “É importante citar os desafios que essa política expansionista impõe ao sistema de formação médica. Nenhum país do mundo abriu 245 cursos de Medicina em apenas 10 anos, assim como o Brasil. Este é o Governo que mais abriu curso de Medicina no País e não dá para brigar com os dados”, observou.
O diretor da APM acrescentou que, segundo projeção publicada pela Folha de S.Paulo, o Brasil deve ultrapassar 50 mil concluintes até 2030. “Se a gente olhar para o País, sob o ponto de vista proporcional para 100 mil habitantes, nós já somos um dos campeões mundiais, porque teremos 18,8 concluintes para cada 100 mil habitantes, superando Estados Unidos, Reino Unido, França, Espanha e México.”
Tallo complementou que não existe país no mundo que o indivíduo se forma médico e imediatamente vai trabalhar com a população, sem supervisão e sem assistência. “Este modelo é brasileiro, temos 275 mil médicos que saíram da faculdade sem qualquer outro tipo de treinamento e que podem estar na porta do Pronto-Socorro atendendo doentes. Isso é um case mundial. O que nós temos hoje? Temos 19 mil vagas de residentes ocupadas e 38 mil egressos”, frisou.
Ele ainda compartilhou alguns dados oficiais que mostram que, atualmente, existem 7.875 programas, 1.120 inscrições e 75 mil vagas autorizadas. “Quero acrescentar que a governança é o grande problema da Residência Médica. As avaliações são superficiais e as câmaras técnicas, de atuação limitada. Existem Cerems seríssimas, como é o caso de São Paulo, mas têm outras que, às vezes, a gente olha e parece que estão advogando para instituições. Outra questão é que os conselheiros [da CNRM] recebem a pauta dois dias antes de votarem, com mais de 150 atos autorizativos, e as deliberações ocorrem em blocos, causando desequilíbrio de forças.”
Parceria
Em seguida, Paulo Fernando Constâncio de Souza agradeceu o presidente da APM pela parceria que está sendo construída, assim como a oportunidade de realizar o fórum como espaço de diálogo e construção coletiva. Ele ressaltou a importância da Cerem-SP, que tem como principal finalidade supervisionar e analisar os programas e as instituições de Residência Médica no estado.
“Precisamos fortalecer a integração entre APM, AMB e sociedades de especialidades, ampliando nossa capilaridade, o olhar para a formação de especialistas e aprimorando a gestão administrativa. Estamos aqui não para ser contra ou a favor de nada, mas para colocar as cartas na mesa e buscar melhorias para os programas de Residência Médica”, pontuou.
De acordo com ele, as especialidades com maior número de R1 em 2025 são Clínica Médica, Pediatria, Cirurgia Geral, Ginecologia e Obstetrícia, Anestesiologia e Medicina de Família e Comunidade.
“O estado de São Paulo é responsável por quase 50% do financiamento das vagas de Residência Médica. A Secretaria Estadual da Saúde vem, há muitos anos, investindo na formação médica no estado, assim como a Secretaria Municipal”, concluiu.

Fotos: Alexandre Diniz