“Avaliação Durante o Período de Treinamento”, foi o terceiro tema do I Fórum para Avaliação do Processo dos Médicos Residentes e Especialistas no Estado de São Paulo, evento promovido pela Associação Paulista de Medicina, com o apoio da Comissão Estadual de Residência Médica (Cerem-SP), nos dias 31 de outubro e 1º de novembro.
O painel de debates foi moderado pelo presidente da Comissão de Residência Médica do CBC, Ramiro Colleoni Neto. Participaram também o membro da Comissão de Ensino e Traumatologia da Sociedade Brasileira de Ortopedia e Traumatologia (SBOT), Fábio Teruo Matsunaga; o presidente do Comitê de Residência da Associação Europeia de Educação Médica (AMEE) e de Residência Médica da Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia (Febrasgo), via videoconferência, Gustavo Salata Romão; e o diretor de Eventos da APM, 2º tesoureiro da Associação Médica Brasileira e membro da Comissão Nacional de Residência Médica, Fernando Sabia Tallo.

Romão iniciou sua apresentação destacando a relevância da Resolução CNRM nº 4, de 25 de outubro de 2023, centrada especificamente nos procedimentos de avaliação do médico-residente e nas competências. De acordo com ele, um ponto crucial da legislação é a exigência de um conjunto de avaliações formativas e somativas, realizadas em ambientes de prática com validade e confiabilidade, e com frequência mínima quadrimestral.
O representante da Febrasgo também fez uma crítica ao modelo de residência médica brasileiro, que é orientado pelo tempo e pressupõe um desenvolvimento linear das competências, culminando na progressão automática do residente (de R1 para R2, por exemplo) sem que suas competências tenham sido devidamente avaliadas, resultando em profissionais com diferentes níveis de preparo, mas que recebem a mesma certificação.

Teste do progresso
Fábio Matsunaga apresentou as iniciativas da SBOT para a transição dos programas de Residência Médica para um modelo orientado por competências, alinhado às novas diretrizes. O ponto central é o TEPOT (Teste de Progresso em Ortopedia e Traumatologia), uma avaliação centralizada, seriada e semelhante a R1, R2 e R3, que funciona como uma prova diagnóstica e formativa – em oposição à somativa final – para medir a evolução do conhecimento.
Conforme apresentado, esse teste permite à SBOT mapear o desempenho dos residentes e dos próprios programas em subáreas específicas, identificando lacunas de ensino, como em Ortopedia Infantil e Oncologia Ortopédica. “O resultado é crucial, pois oferece feedback individualizado ao residente para autoaperfeiçoamento e dados valiosos aos serviços formadores, permitindo-lhes planejar melhorias estratégicas no ensino, além de atestar a progressão no conhecimento e garantir a qualidade da formação nacionalmente”, complementou.

Fernando Tallo encerrou as apresentações abordando a experiência da Sociedade Brasileira de Clínica Médica (SBCM) desde 2023, reconhecendo que o Brasil carece de uma avaliação adequada da residência médica, sendo um desafio avaliar conhecimento e prática de forma longínqua.
No mesmo ano, a SBCM aderiu à Prova de Progresso, inicialmente focada apenas no aspecto teórico, dada a complexa logística e o alto custo das provas de habilidade. Tallo explica que os primeiros resultados foram decepcionantes, com uma média baixa que sinalizou grandes lacunas teóricas nos centros de ensino, acendendo um “alerta vermelho” para a necessidade de ajustes curriculares e capacitação.

A discussão ficou por conta do membro da Diretoria da Associação Nacional dos Médicos Residentes (ANMR), Leopoldo Pompeo Weber, que destacou que o desempenho diferenciado dos residentes é o foco inicial, enfatizando a importância do sistema de feedback, tendo assim todos os residentes avaliados. Para ele, é essencial a presença do preceptor-monitor, geralmente um residente que, após os três anos de formação (R3), permanece na instituição com bolsa para auxiliar os residentes mais novos.


Fotos: Alexandre Diniz