O último tema do primeiro dia do I Fórum para Avaliação do Processo dos Médicos Residentes e Especialistas no Estado de São Paulo – Associação Paulista de Medicina, com o apoio da Comissão Estadual de Residência Médica de São Paulo (Cerem-SP) – foi “Produção Assistencial e Acadêmica dos Serviços de RM e a Participação dos Médicos Residentes – Boas Práticas”.
A mesa foi moderada pelo orientador do Programa de Pós-graduação de Saúde baseada em evidências da UNIFESP, Gerson Alves Pereira Junior, que fez uma breve apresentação dos palestrantes.

Junji Fukuyama, membro Titular da Sociedade Brasileira de Trauma Ortopédico e coordenador do Programa Compromisso com a Qualidade Hospitalar (CQH), da APM, apresentou um estudo sobre a produção assistencial e a distribuição dos egressos da Residência Médica no estado de São Paulo, com base em uma pesquisa realizada com 1.562 profissionais em 2024.
De acordo com ele, os dados revelaram que uma grande parte dos residentes se forma entre 31 e 40 anos, sugerindo um “delay” entre a graduação e a residência, possivelmente devido à necessidade de trabalhar. Também destacou a concentração de médicos especialistas nas grandes cidades e nas próximas às principais rodovias, como Campinas e São Paulo, deixando “gaps” de assistência em regiões mais afastadas, apesar do estado de São Paulo formar profissionais para outras regiões do País.

O coordenador de Relações Institucionais do Samu de São Paulo, Domingos Guilherme Napoli, fez uma abordagem sobre a complexidade da regulação médica no SUS, essencial para garantir a assistência integral e irrestrita, direito constitucional do cidadão. Ele enalteceu que o sistema de Saúde enfrenta o desafio de manejar a demanda de urgências com a existência de vazios assistenciais e a má distribuição de médicos, especialmente nas “pontas” onde trabalham profissionais frequentemente menos experientes ou malformados, que não ingressaram na residência.
Napoli explicou que o sistema informatizado de regulação lida com uma demanda altíssima de casos diários, operando como intermediador entre o médico solicitante e o local de tratamento adequado, identificando as lacunas estruturais e de gestão. O palestrante concluiu que a regulação expõe a necessidade urgente de formar médicos melhores, mais comprometidos e responsáveis, e de investir na gestão, citando o exemplo da alta taxa de amputações por diabetes, cuja origem reside na falha da atenção básica.

Teoria e prática
Coordenador das Residências em Saúde da Secretaria Municipal da Saúde de São Paulo, Leandro Machado Dias e Silva iniciou sua apresentação focando na adaptação dos programas de Residência Médica à Resolução CNRM 4/2023, destacando a importância da produção acadêmica (TCC/TCR) como critério de certificação para integrar teoria e prática.
Para ele, o principal desafio é a obrigatoriedade do trabalho ser individual e o estímulo à pesquisa em um ambiente que não oferece tempo protegido para preceptores. Para contornar isso, a SMS-SP busca melhorar o ambiente científico – garantindo acesso a bibliotecas e periódicos – e propõe medidas como a busca por um tempo de dedicação à preceptoria (30% da carga horária), visando engajar profissionais e assegurar que a pesquisa resulte em legado para a assistência e para a população.

Por fim, a bibliotecária da Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP) Andreia Cristina Feitosa do Carmo compartilhou o desafio de conciliar a alta carga horária do residente com a necessidade de desenvolver a produção científica, ressaltando que, idealmente, seria necessário ler 50 artigos diários para se manter atualizado.
O ponto principal é a segmentação da informação e a infraestrutura metodológica, visto que muitos preceptores possuem expertise clínica, mas não acadêmica. A solução está em fortalecer a Prática Baseada em Evidências (PBE), ensinando o residente a buscar, formular e interpretar corretamente as informações, além de integrar o conceito de Ciência Aberta (Open Science).
Ela propõe um modelo estruturado de suporte metodológico para todos os residentes em Saúde, com cursos em bioestatística e mentoria longitudinal, e enfatiza a necessidade de comunicação clara e do uso responsável da Inteligência Artificial, visando não apenas formar cientistas, mas profissionais capazes de usar o método científico para resolver problemas práticos e compartilhar esse conhecimento de forma acessível.

Homenagem
Durante o evento, foi realizada uma homenagem solene ao médico cirurgião Charles J. Filipi, que recebeu o título de Membro Honorário Internacional do Colégio Brasileiro de Cirurgiões (CBC). Visivelmente emocionado, Filipi – que é fundador do Programa de Fellowship em Cirurgia Global da Universidade de Creighton, nos Estados Unidos – agradeceu a homenagem.



Fotos: Alexandre Diniz