O tema “Perspectivas do Mercado de Trabalho para os Médicos Especialistas no SUS e na Saúde Suplementar” norteou as apresentações da tarde de sábado, 1º de novembro, durante o segundo e último dia do I Fórum para Avaliação do Processo de Formação dos Médicos Residentes e Especialistas no Estado de São Paulo, organizado e realizado pela Associação Paulista de Medicina, com o apoio da Comissão Estadual de Residência Médica de São Paulo (Cerem-SP).
As palestras foram moderadas pelo presidente da entidade, Antonio José Gonçalves, e a primeira aula foi conduzida pelo cirurgião pediátrico Fábio Peterlini, que relembrou que a função principal do médico é o resultado assistencial. “O médico passa a assumir um papel cada vez mais da gerência do processo assistencial, coordenando uma equipe multiprofissional em que o resultado é conhecido pelos diversos saberes. Nós estamos falando em planejamento terapêutico, previsibilidade e melhor custo, porque isso tem consequências sobre a qualidade e segurança”, afirmou.
O especialista enxerga com bons olhos a nova geração de residentes: “Estou lidando com profissionais completamente diferentes do que eu lidava há uns anos, muito mais maduros, conscientes e mais dedicados ao paciente. São indivíduos que não estão preocupados apenas com o interior do centro cirúrgico, mas com o pré e pós-operatório também. Esse pessoal não só vem sabendo operar melhor para entrar na especialidade, mas sabem também conversar melhor, prescrever melhor e registrar melhor o dia a dia”.
Em seguida, Jorge Harada, coordenador geral da Universidade Aberta do Sistema Único de Saúde (UNA-SUS)/Unifesp, destacou que muitos dos presentes no evento vivenciaram a era da Saúde pré-SUS, salientando que era um período muito desafiador, mas que, apesar disso, atualmente ainda há muitas adversidades a serem enfrentadas.
“Indubitavelmente, hoje um dos nossos grandes desafios no mercado de trabalho é de preenchermos vagas com profissionais que tenham um perfil adequado na questão da rede de urgência e emergência. Esses são os escopos que temos que trabalhar dentro do sistema público, a partir de políticas e projetos que estão sendo implantados. Porque essas questões não vêm só de acordo com a necessidade do campo profissional ou da visão do gestor, mas a partir das necessidades da população”, descreveu.


Desigualdades
Dando continuidade, Rogério Pecchini, diretor de Operações em Saúde da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo, recordou que as desigualdades regionais acabam concentrando os médicos nos grandes centros – especialmente no Sul e Sudeste. Ele também demonstrou que o número de especialistas no País não acompanhou a expansão da formação em Medicina e relatou que, segundo demonstra a Demografia Médica 2025, o perfil profissional vem mudando consideravelmente.
“A projeção da idade médica tende a diminuir para uma média de 40 anos até 2035, o que leva a um grande desafio, porque a população mais jovem tem visão e objetivos diferentes, traz mais preocupação com qualidade de vida e com vínculos saudáveis de trabalho, então isso promove muita reflexão no sistema. Temos que discutir vinculação trabalhista, como reter esses talentos e como valorizá-los”, explicou.
Finalizando as apresentações sobre o mercado de trabalho no Sistema Único de Saúde, Corintio Mariani Neto, que atuou por 36 anos como diretor do Hospital e Maternidade Leonor Mendes de Barros, compartilhou as suas experiências à frente deste cargo e trouxe as principais particularidades sobre a história da instituição.
O médico aproveitou para descrever como funciona a residência médica no hospital e o que se espera dos interessados para atuar na entidade. “São 18 vagas por ano, em 2026 serão 14, e a gente segue a matriz de competências da Febrasgo, de conhecimentos, habilidades e atitudes. A supervisão é feita por assistentes do corpo clínico lá do hospital, os residentes fazem o teste do progresso e isso ajuda na obtenção do título de especialista.”


Saúde Suplementar
Posteriormente, foram recebidos representantes de diferentes operadoras de planos de saúde para falar sobre o sistema privado. Paulo de Conti, diretor adjunto de Economia Médica e Saúde Baseada em Evidências da Associação Paulista de Medicina e presidente da Unimed Jaú, falou sobre a distribuição dos beneficiários dos planos de Saúde no País, relembrou a história do sistema Unimed e reforçou as vantagens do cooperativismo.
“No Brasil, são 52,9 milhões de beneficiários de planos, ou seja, 24,8% da população brasileira. Dentro do mercado das cooperativas de planos de saúde, 37,5% são de participação da Unimed, com quase 20 milhões. Temos 116 mil médicos cooperados nacionalmente e fornecemos 160 mil empregos diretos. A grande vantagem do nosso sistema é ter uma capilaridade muito grande e estar presente em 91,9% do território brasileiro, atendendo 5.117 municípios”, disse.
Seguindo o gancho, Raquel Imbassahy, diretora executiva de Saúde e Gestão da SulAmérica, apresentou as particularidades da operadora e um horizonte de carreira que não costuma ser a primeira opção dos estudantes de Medicina no processo de formação. “A Saúde Suplementar é um sistema complexo e que traz muitas oportunidades para o médico em diversas áreas. Como qualquer sistema de Saúde, não existe sem o médico e nós entendemos que ele deveria participar além da assistência. O sistema de Saúde precisa de uma cabeça executiva médica, um gestor”, relatou.
Para apresentar a visão da Sociedade Paulista de Radiologia sobre o tema, o evento recebeu Kamila Seidel, que relembrou que a pandemia de Covid-19 foi um grande divisor de águas na especialidade, elevando a necessidade de adaptá-la às novas perspectivas mundiais. “É preciso mudar e se reinventar, foi isso o que a gente acabou vendo dentro da situação inusitada da pandemia, acelerar transformações que já estavam vindo e fazer uma reconfiguração do mercado de trabalho”, demonstrou, apresentando, ainda, dados sobre o perfil dos radiologistas no Brasil e o porquê de seguir nesta especialidade.
Finalizando, o cirurgião de Cabeça e Pescoço Marcos Loreto exibiu o seu ponto de vista a respeito do mercado de trabalho nos serviços diagnósticos e terapêuticos. “Falando em diagnóstico e terapia, a quantidade de estabelecimentos na Saúde Suplementar, em termos de representatividade para cada 100 mil pessoas, é extremamente desigual. Essa desproporção nos obriga a pensar na participação público e privada, é fundamental que elas se fortaleçam. Temos que pensar em sustentabilidade, quebrar o pudor que a gente tem com a tecnologia e usar a nosso favor para trazer melhores resultados e melhores desfechos”, concluiu.




Fotos: Alexandre Diniz