Durante os dias 28, 29 e 30 de outubro, a 18ª edição do Seminário Hospitais Saudáveis foi realizada de forma híbrida, com transmissão a partir do Hospital Sírio Libanês. O evento teve como tema central “Clima é Saúde, Saúde é Clima”, integrando as atividades Pré-COP30 que estão sendo desenvolvidas no período que antecede a Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas, que será realizada em novembro, em Belém, no Pará.
Entre os assuntos abordados estão “Gestão de recursos hídricos em serviços de assistência à Saúde”, “Construção Passivas e eficiência operacional”, “Resiliência Urbana e Saúde”, “Risco climático para infraestrutura de Saúde”, e muito mais.
Antonio José Gonçalves, presidente da Associação Paulista de Medicina (APM), marcou presença na abertura do evento, realizada na tarde de 28 de outubro. Ele expressou grande satisfação em representar a instituição em um tema de tamanha relevância. E destacou que a entidade tem abordado o assunto ativamente nos últimos meses, mencionando o ‘Fórum Médicos pelo Meio Ambiente e pelo Clima’, que contou com a participação de Luís Manuel Barretos Campos, médico e presidente do Conselho português para a Saúde e Meio Ambiente.
“Já existem evidências de que o clima causa doenças e que podem ser prevenidas. Inclusive, na questão da segurança alimentar, com as catástrofes cada vez mais frequentes e impedindo a coleta de mantimentos, o que impacta seguramente na questão nutricional e consequentemente na Saúde das pessoas”, complementou. Ele também agradeceu o convite e deixou a APM à disposição para ajudar nessa causa importante.
A poluição na Saúde infantil
Entre os palestrantes do evento estava Clóvis Francisco Constantino, pediatra e diretor adjunto de Previdência e Mutualismo da APM. No segundo dia (29), sua apresentação focou na Anamnese ambiental, uma das ferramentas mais importantes para discernir os riscos ambientais e suas consequências para a Saúde.
Para Constantino, a Anamnese ambiental é obrigatória e deve ser realizada na primeira consulta de um paciente; quando ele tem histórico familiar de asma, alergia ou doenças autoimunes; durante o pré-natal ou pré-concepcional; quando o paciente relaciona o início dos sintomas a exposições ambientais; e quando relata sintomas intrigantes e inespecíficos.
Em relação ao clima dos últimos anos, o diretor da APM explicou que há um consenso internacional de que o calor extremo – como observado no hemisfério norte no último verão, com incêndios florestais atingindo países da América do Norte e Europa, em períodos de seca
intercalados com fortes chuvas e inundações, como as que tivemos recentemente no sul do Brasil – é um fenômeno que veio para ficar.
O pediatra ressaltou que as crianças são as mais afetadas com esses fenômenos, pois a Saúde é extremamente vulnerável às mudanças do clima e os consequentes eventos extremos, principalmente aquelas que vivem em condições de pobreza, em habitações precárias e em áreas de risco para inundações e deslizamentos de encostas.
Crianças menores de cinco anos representam a maioria das vítimas de doenças decorrentes das alterações catastróficas sobre o meio ambiente. Desde o nascimento, até a idade escolar, têm uma superfície corporal, em relação ao peso, maior que a de um adulto. Seu consumo de água e alimentos, proporcionalmente, também é maior. E o mesmo se aplica à frequência respiratória.
As crianças e os lactentes são mais suscetíveis à exposição a agentes químicos nocivos, presentes tanto na fumaça dos incêndios florestais como nas queimadas da Amazônia e nas águas contaminadas dos garimpos e das inundações. “A maior disseminação de doenças veiculadas pela água, como gastroenterites e leptospirose, ou aquelas transmitidas por vetores que se beneficiam para proliferar, como o Aedes aegypti que transmite doenças conhecidas por todos, é uma consequência inevitável de grandes inundações”, explicou.
Clóvis Constantino apresentou dados do relatório divulgado em 2024 pelo States of Global Air, mostrando que a poluição do ar contabilizou 8,1 milhões de mortes no mundo no ano de 2021, tornando-se o principal fator de risco. No mesmo ano, a exposição à poluição do ar foi associada a mais de 700 mil mortes de crianças com menos de cinco anos, tornando-se o segundo principal fator de risco de morte global para essa faixa etária, abaixo apenas da desnutrição.
“Mais de 90% dessas mortes por poluição do ar são atribuídas por PM2.5 (partículas minúsculas), incluindo o atmosférico e a poluição do ar doméstico. Essas partículas vão para o pulmão e podem atingir a corrente sanguínea, afetando muitos sistemas orgânicos e aumentando os riscos de doenças quando adultos, como doenças cardíacas, AVC, câncer de pulmão e doença pulmonar obstrutiva crônica (DPOC)”, concluiu.




Fotos: Reprodução Vídeo