Fibrilação Arterial é tema apresentado em Webinar APM

A Associação Paulista de Medicina promoveu, na última quarta-feira (17) mais uma edição de seu tradicional webinar, desta vez em parceria com a Regional de São José do Rio Preto.

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A Associação Paulista de Medicina promoveu, na última quarta-feira (17) mais uma edição de seu tradicional webinar, desta vez em parceria com a Regional de São José do Rio Preto. Com a participação de importantes especialistas, o evento foi transmitido ao vivo pelo canal da instituição no YouTube, com abordagem do tema “Como lidar com a FA (fibrilação arterial) assintomática ou subclínica.”

Desta vez, o diretor de Economia Médica e Saúde Baseada em Evidências da APM, Álvaro Atallah, foi o responsável por apresentar o encontro, que também contou com os moderadores Leandro Freitas Colturato, presidente da Regional, e Eduardo Palmegiani, cardiologista e eletrofisiologista.

O palestrante convidado da edição foi Adalberto Menezes Lorga Filho, responsável pelo setor de Eletrofisiologia do Instituto de Moléstias Cardiovasculares (IMC) da Faculdade de Medicina de São José do Rio Preto. “Vamos tratar de um tema palpitante, a fibrilação atrial é uma arritmia que parece ser muito simples em seu diagnóstico, mas, com o passar dos anos, podemos perceber que quanto mais estudamos sobre este problema, mais dúvidas e dificuldades vão surgindo.”

O especialista destaca que o estudo da FA está em constante evolução, e que a especialidade a todo momento se depara com novas tecnologias e inovações, sendo preciso saber lidar com todo o progresso e diferentes métodos criados. Segundo ele, o maior desafio hoje são os pacientes que sofrem de fibrilação arterial assintomática e/ou subclínica, o que ocorre pela falta de evidência diante de estudos com este grupo.

“Dimensionar a situação da fibrilação arterial no mundo é uma questão importante. Além disso, a projeção de como a quantidade de pacientes diagnosticados deve aumentar nos próximos anos, incluindo as faixas etárias mais avançadas, requer preocupação por parte da especialidade. É uma arritmia global, com maior prevalência em determinados países, mas presente no mundo inteiro. Estima-se que na Europa, pelo menos um a cada três pacientes acima de 55 anos de idade irá apresentar um episódio de FA. Realmente é um problema muito prevalente, e que estará sempre presente na prática clínica, cada ano com mais frequência”, ressalta o palestrante.

FA clínica e subclínica

De acordo com o cardiologista, uma FA pode ser considerada clínica quando há uma documentação eletrocardiográfica, devendo ser um ECG de 12 canais ou registro de derivação única, em que se pode identificar ritmo cardíaco sem ondas P discerníveis e RP irregular, com duração maior que 30 segundos.

Já na FA subclínica/assintomática, o palestrante enfatiza que com o avanço da tecnologia e modernidade em que vivemos, recebemos uma série de alertas em nosso dia a dia, por meio dos dispositivos implantados ou fibrilares, sendo eles marcapassos ou monitores. “É possível ter um monitoramento muito preciso do ritmo cardíaco destes pacientes. Se em algum momento registrarem um ritmo atrial rápido, a programação do aparelho consegue salvar estes dados e, uma vez salvo, quando o médico faz a análise a partir dos dispositivos, pode-se flagrar e documentar episódios de FA. Isso é chamado de FA subclínica, quando não há documentação radiográfica deste paciente”, complementa.

Lorga Filho afirma que a FA assintomática é um braço da FA clínica, e que clínicos gerais e cardiologistas frequentemente se deparam com pacientes que sofrem de episódios de FA e não apresentam sintomas – o que os deixa mais expostos às complicações, principalmente em decorrência de edemas tromboembólicos, pois, não apresentando sintomas, não é possível fazer o diagnóstico e tratamento.

“São situações distintas. Na FA subclínica, é possível ter um registro de ritmo atrial rápido e acelerado por meio dos dispositivos, mas ainda sem o registro eletrocardiográfico. Já na assintomática, tem-se o registro eletrocardiográfico e a documentação necessária, mas não há sintomas relacionados à doença”, pontua.

No que se refere à fibrilação atrial, o especialista informa que são episódios detectados por dispositivos implantáveis ou eletrônicos em pacientes sem diagnóstico prévio de FA, sendo encontrada em cerca de 30% a 50% dos pacientes que possuem dispositivos implantáveis. Também destaca que alguns estudos tentaram usar dispositivos para prevenir e avaliar os pacientes e entender quando aconteceriam os episódios e quando os médicos poderiam começar a intervir no tratamento.

“Em um dos primeiros estudos realizados sobre o tema, pôde-se perceber que pacientes que tiveram FA subclínica detectada em seus dispositivos apresentaram maiores episódios de FA clínica em sua evolução. Isso nos mostrou um resultado muito interessante, já que apesar de ser possível detectar pessoas com maior risco de forma precoce, ainda não se sabe se tratando esses pacientes será realmente possível resolver os problemas. Outra questão é que estamos falando de pacientes cardiopatas, atendidos em nosso dia a dia, que já têm fatores de risco envolvidos, não a população geral, o que é preciso ser levado em consideração”, acrescenta.

Dispositivos

Com o passar dos anos, relógios inteligentes e ferramentas de celulares que buscam auxiliar o cuidado com a Saúde se tornaram febre entre a população. Além de funções básicas como contagem de calorias, quantidade de passos e avaliação de exercícios físicos, hoje, médicos e pacientes podem contar com tecnologias e dispositivos conectados para possíveis diagnósticos e detecção de diversas doenças.

“Temos uma gama gigantesca de dispositivos nos ajudando na prática médica em todos os aspectos, áreas e subáreas na Medicina, e na Cardiologia, isso não é diferente. No caso da arritmia cardíaca, a evolução de diversos exames e dispositivos tem auxiliado os especialistas da área e se tornado cada vez mais acessível aos pacientes. Com estes aparelhos, podemos identificar os sintomas na palma de nossas mãos, com o celular, smartwatches e até mesmo pulseiras, o que torna mais fácil a identificação de possíveis fibrilações arteriais”, enfatiza o palestrante.

Para ele, os dados registrados pelos dispositivos geram uma facilidade muito grande, pois apresentam traçados perfeitos de fibrilação atrial, permitindo o diagnóstico clínico para a população cardiológica. “Os equipamentos são fantásticos, e conseguimos claramente definir o que está acontecendo. Por outro lado, os dispositivos são usados por milhares de pessoas que sofrem com os mais diversos sintomas, que podem receber avisos e, eventualmente, ter arritmias. O problema é que não se tem certeza de que o tratamento instituído para a população de consultório vá servir para os usuários desses dispositivos.”

Em relação à FA subclínica, o professor explica que mesmo sendo possível sua detecção nos dispositivos implantáveis, ainda não há um eletro documentado a uma população com suspeitas de FA. “O que quero dizer com isso é que nossa população cresce muito, consequentemente o número de usuários destes dispositivos também irá crescer. Com isso, iremos precisar aprender a lidar com o tratamento destes pacientes. A partir deste momento, conseguimos nortear e notar resultados, e buscar os melhores tratamentos.”

Para o palestrante, os aparelhos que gravam o período de ritmo atrial acelerado foram vistos pelos cardiologistas como uma ferramenta muito interessante, pois quando se detecta o problema de forma precoce, é possível conseguir anticoagular o paciente, trazendo, desta forma, muitos benefícios à vida do indivíduo. “É um raciocínio lógico, detectar, prevenir e evitar acidentes isquêmicos. Aos longos dos anos, todos começaram a observar estes dispositivos como uma forma de evitar eventuais complicações tromboembólicas em pacientes que ainda não tiveram sua FA detectada”, comenta.

Tratamento

Na maioria dos casos, a base para o tratamento da fibrilação atrial é a cardioversão (elétrica ou química) e a anticoagulação. Porém, alguns pacientes podem se submeter à ablação ou crioablação, cirurgia minimamente invasiva que cauteriza ou congela a parte do coração responsável pela arritmia cardíaca.

De acordo com Adalberto Lorga, o guia mais usado para o tratamento da doença está baseado nas diretrizes de países da Europa, conhecido como CC to ABC. “Neste guia, cada letra corresponde a uma denominação para o diagnóstico e possível tratamento, sendo elas: Confirmação de FA, Características e tratamento com Anticoagulantes e melhora dos Sintomas e Comorbidades.”

Concluindo e dando suas recomendações, o médico de São José do Rio Preto pontuou que para pacientes adultos acima de 50 anos ou mais assintomáticos, não há evidência de balanço favorável para a estratificação de risco de FA. “A diretriz europeia nos coloca como recomendação, por consenso de especialistas, a anticoagulação destes pacientes com a doença em sua forma subclínica. Ainda é algo que precisa ser estudado, não é uma recomendação formal, são conselhos de especialistas embasados nestas atividades.”

Ele finalizou a apresentação dizendo que as conclusões dos estudos mais recentes apresentam a necessidade de se discutir os benefícios do controle do ritmo a despeito da presença de sintomas de pacientes com fibrilação atrial. “Realmente estamos olhando para estes pacientes com outros olhos e com um olhar muito mais lógico, pois há amplos processos a serem seguidos e, com isso, também podemos oferecer um tratamento melhor.”

O especialista ainda respondeu questionamentos sobre a preocupação e o uso de dispositivos eletrônicos. “A palestra e as perguntas respondidas pelo palestrante nos mostram que os pacientes precisam ter bons clínicos gerais à sua disposição, pois irão promover o melhor tratamento e os principais alertas em relação à fibrilação atrial”, complementou Atallah.

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Fotos: Reprodução Webinar APM