Emília Inoue Sato – É preciso integrar o conhecimento à prática profissional

Emília Inoue Sato é diretora da Escola Paulista de Medicina da Universidade Federal de São Paulo (EPM/Unifesp) desde maio do último ano.

Entrevistas

Emília Inoue Sato é diretora da Escola Paulista de Medicina da Universidade Federal de São Paulo (EPM/Unifesp) desde maio do último ano. É, inclusive, médica formada e doutorada em Reumatologia pela instituição, onde também já ocupou os cargos de professora e chefe de departamento. Membro do comitê editorial de diversas publicações científicas, a acadêmica contou um pouco sobre o trabalho que a EPM desenvolve em sua graduação e deu seu parecer sobre alguns pontos centrais da formação do médico brasileiro, como a qualidade do ensino e a avaliação progressiva de seus estudantes.

MÁ DISTRIBUIÇÃO DE PROFISSIONAIS

Não concordamos que a falta de médicos se resolve com o aumento de escolas médicas. Pois, mais do que a falta de médicos, há uma má distribuição deles nas diferentes regiões do País. Sendo uma nação de proporções continentais, com diferentes níveis de desenvolvimento e de infraestrutura, reconhecemos a dificuldade de se ter melhor distribuição de profissionais, incluindo os médicos. O simples aumento do número de médicos não vai resolver este problema. Insistimos na necessidade de uma política de melhoria de condições de trabalho e de estímulo à presença do médico em locais mais distantes dos grandes centros urbanos.

AUMENTO DE CURSOS

É motivo de muita preocupação a qualidade do ensino médico no País. Houve um grande aumento do número de escolas médicas, principalmente privadas, sem que existisse controle das condições de infraestrutura e de recursos humanos para se oferecer um curso com mínima qualidade. Diferente da formação de outros profissionais, um bom curso de Medicina requer locais para a prática da atividade, isto é, hospitais, prontos-socorros, ambulatórios e unidades básicas de saúde, além de bons professores, com formação sólida e experiência tanto na prática da profissão quanto no ensino médico. Esperamos que a avaliação do Enade 2016 possa trazer mais informações sobre a qualidade do ensino médico no País, mas fica faltando a avaliação prática desses estudantes.

AVALIAÇÃO PROGRESSIVA

Temos expectativa que a avaliação proposta pelo MEC, que ficou a cargo do INEP, seja uma avaliação bem-feita, com qualidade e que consiga medir conhecimento, habilidade e competências dos alunos de Medicina. Sua devolutiva deverá orientar os responsáveis pelos cursos médicos a melhorarem as áreas com deficiência e permitirá acompanhar de perto a progressão do conhecimento dos alunos em diferentes séries. A Escola Paulista de Medicina foi pioneira em aplicar a Prova do Progresso, avaliação única aos alunos de Medicina de todas as séries e que mede a aquisição de conhecimento ao longo do curso. Há vários anos, a prova deixou de ser apenas de uma instituição e conta com a participação de diversas escolas médicas do estado de São Paulo e de outros, e tem sido muito bem avaliada em seu conjunto. A Prova do Progresso tem finalidade formativa e não reprobatória.

EXAME FINAL REPROBATÓRIO

A princípio, fica contraditório se permitir a abertura de tantos cursos de Medicina, sem o devido controle de qualidade e, posteriormente, se fazer exames que impeçam o exercício profissional. Muitos estudantes terão investido bastante recurso para se graduarem e, se reprovados, não terão direito ao exercício da Medicina. Por outro lado, também não é correto termos profissionais sem o mínimo conhecimento necessário para o bom exercício da Medicina. Pessoalmente, sou favorável que a prova do INEP, sendo bem-feita, tenha caráter reprobatório no 6º ano, e que os estudantes não aprovados tenham a oportunidade de refazer disciplinas/estágios e se submeterem a novo exame no ano seguinte. Outra alternativa proposta é termos avaliação periódica de todas as escolas médicas, e as que tiverem mau posicionamento deverão ter seus cursos sob vigilância, até que se consiga melhorar o desempenho. Entretanto, será necessário que isto seja realizado de forma bastante rigorosa.

RESIDÊNCIA E PRECEPTORIA

Somos favoráveis à convivência hierarquizada entre estudante e residente, mas acreditamos que o ensino do graduando deve ser feito por preceptor que já tenha concluído a residência médica e tenha mais experiência tanto profissional quanto no ensino. Também acreditamos que o objetivo da residência é permitir a prática médica sob supervisão e, portanto, a capacitação para ser supervisor deveria, idealmente, ser feita após o término dela, e não de forma concomitante como prevê o Programa Mais Médicos com a Medicina de Família e Comunidade.

ESTÍMULOS AOS ALUNOS

A EPM trabalha na graduação em consonância com as novas diretrizes curriculares, para formar um médico com bom conhecimento geral e humanitário, sem deixar de se preocupar em dar um sólido conhecimento em ciências básicas, assim como em propedêutica, fisiopatologia, diagnóstico e tratamento das doenças mais prevalentes em nosso meio. Estimulamos a participação do aluno em diferentes cenários de atuação do médico desde o início da graduação. Conquanto ainda não seja o ideal, há um grande esforço para termos uma integração entre ciências básicas e a utilização desses conhecimentos na prática profissional.

Há também grande interesse na conscientização do estudante de graduação no trabalho em equipe, com ética e comprometido com o melhor atendimento ao paciente. Frisamos ainda a necessidade de utilizar de forma adequada os recursos finitos da Saúde, com terapias/intervenções com as melhores evidências científicas. Apesar das grandes dificuldades pelas quais passam os hospitais universitários, com a falta de recursos financeiros, a Escola Paulista de Medicina está muito orgulhosa de ter sido classificada como a melhor escola médica do Brasil no ranking da Folha de São Paulo.