Brasil registra mais de seis mil suicídios em adolescentes em cinco anos

O relatório “Preventig Suicide: a global imperative”, elaborado pela Organização Mundial da Saúde no ano de 2014, aponta que o suicídio é um grave problema de saúde pública, alcançando níveis preocupantes para as autoridades

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O relatório “Preventig Suicide: a global imperative”, elaborado pela Organização Mundial da Saúde no ano de 2014, aponta que o suicídio é um grave problema de saúde pública, alcançando níveis preocupantes para as autoridades – principalmente no que diz respeito às populações mais jovens, que são as mais acometidas e têm esta como uma das principais causas de morte.

Desta maneira, a Secretaria de Vigilância em Saúde, do Ministério da Saúde, divulgou dados de análise, em seu novo Boletim Epidemiológico, sobre a situação entre os anos de 2016 e 2021, englobando o período de pandemia de Covid-19 no País. O intuito do relatório é divulgar informações e contribuir para o direcionamento de ações efetivas de enfrentamento e prevenção às ocorrências.

De acordo com os resultados obtidos, o número de suicídios por adolescentes registrados durante o período de análise totalizou 6.588. As principais vítimas acometidas foram adolescentes entre 15 a 19 anos, totalizando 84,4% dos casos, do sexo masculino (67,9%), e em maior parte, pretos e partos (56,1%).

Houve um aumento na taxa de mortalidade por suicídio entre os anos de 2016 a 2019, passando de 2,74 a cada 100 mil adolescentes, para 3,90/100 mil. Em 2020, ano da ascensão da pandemia, houve uma leve redução no índice, indo para 3,82/100 mil, enquanto em 2021 os registros voltaram a subir, alcançando a taxa de 4,02 óbitos a cada 100 mil adolescentes.

Características

De 2016 a 2021, foi observado um aumento de 49,3% nas taxas de mortalidade de adolescentes entre os 15 e 19 anos, alcançado o valor de 6,6 por 100 mil. Entre jovens de 10 a 14 anos, a taxa foi de 45%, ou seja, 1,33 a cada 100 mil deles. Conforme já mencionado, o risco de suicídio é maior para indivíduos do sexo masculino comparado com o sexo feminino, de modo que o aumento nos índices de morte passou de 3,8 para 5,1/100 mil no sexo masculino e 1,6 para 2,9/100 mil no feminino.

Sobre as taxas elevadas para o sexo masculino, há alguns fatores de risco como transtornos ocasionados por condutas agressivas, maior acesso a armas de fogo, uso de métodos de maior letalidade à vida, além de transtornos de comportamento, sentimentos de desesperança e separação paternal. Para o sexo feminino, por sua vez, os fatores estão diretamente interligados aos transtornos alimentares, transtornos mentais, exposição à violência, estresse pós-traumático, depressão e problemas de relacionamento interpessoais. Para ambos os sexos, o histórico de abuso de substâncias e exposição à violência são fatores comuns.

A análise da taxa de mortalidade registrada por atentados à própria vida demonstra que Roraima foi o estado com mais notificações (12,7 por 100 mil), seguido pelo Mato Grosso do Sul (10,7 por 100 mil) e Amazonas (7,6 por 100 mil). Em contrapartida, Rio de Janeiro, Bahia e Alagoas tiveram as menores notificações de óbitos por suicídio, variando de 1,7 a 2,04 mortes a cada 100 mil adolescentes.

Em relação aos registros globais, foi observado um declínio no suicídio de jovens na Europa, ao passo que as taxas vêm aumentando consideravelmente no Leste Asiático, América Central e América do Sul. Houve redução das taxas de suicídio de adolescentes de 10 a 19 anos na Europa, enquanto Coreia do Sul e Japão apresentaram aumento nos registros. Em comparação com os demais países, a notificação por suicídio no Brasil é baixa e inferior à média mundial, de modo que o País configura o 155º lugar em uma lista de 204 diferentes países.

Suicídio e pandemia

Apesar de o período de isolamento social ter trazido sentimentos de solidão, acompanhado por todas as incertezas ocasionadas pela pandemia de coronavírus, houve um decréscimo nas notificações por suicídio em adolescentes após o primeiro semestre de 2020 no Brasil. Os dados se assemelham às notificações da Alemanha, Inglaterra e Japão, que também não registraram aumento no número de óbitos ocasionados por esta situação.

Todavia, o cenário passa a se modificar após o quarto semestre do mesmo ano, de modo que pesquisas europeias apontam que o impacto percebido na saúde mental e psicopatológica de crianças e adolescentes foi de “médio” para “forte” ou “extremo” em 2021, elevando as tendências de crises suicidas, transtornos de ansiedade e alimentares, e mais quadros depressivos.

O Ministério da Saúde destaca que é fundamental continuar com os monitoramentos acerca do tema, principalmente no intuito de promover políticas que possibilitem diferentes ações preventivas. Além disso, é necessário entender o perfil do suicídio nas diversas localidades, contribuindo para auxiliar indivíduos em situação de vulnerabilidade.

O cuidado com a saúde mental é multidimensional e transversal, por isso, a Rede de Atenção em Saúde precisa estar articulada e qualificada em diferentes níveis de complexidade para, assim, fornecer o atendimento adequado.