Após o Estadão Verifica mostrar como médicos antivacina têm faturado com o que chamam de “síndrome pós-spike” ou “spikeopatia”, a Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm) publicou uma nota em que expressa preocupação e afirma acompanhar com atenção as denúncias feitas pela reportagem. A síndrome divulgada pelos médicos seria uma condição que estaria relacionada à proteína spike induzida pelas vacinas de RNA mensageiro (mRNA) contra a covid-19, mas não há comprovação científica de que essa doença de fato exista.
O posicionamento da entidade, intitulado “Divulgação de fake news em redes sociais de médicos preocupa SBIm”, faz referência às duas reportagens publicadas pelo Estadão na última sexta-feira, 14. A primeira revela como médicos que boicotaram a vacinação contra a covid-19 encontraram um novo nicho de influência nas redes sociais, e a segunda apresenta o que a ciência sabe, até o momento, sobre os efeitos da proteína spike no organismo.
No texto, a SBIm afirma que “não há qualquer evidência de que a proteína spike do SARS-CoV-2 produzida pelo organismo após a administração das vacinas covid-19 de mRNA cause prejuízo à saúde”. A entidade afirma ainda que as vacinas de mRNA não alteram o DNA, não permanecem no organismo e têm segurança confirmada por estudos robustos, avaliações de agências regulatórias e monitoramento contínuo após bilhões de doses terem sido aplicadas em todo o mundo.
A nota destaca ainda que o Brasil concentra 40% de todo o conteúdo antivacina que circula na América Latina, segundo levantamento da Fundação Getúlio Vargas (FGV). Esse dado também foi mostrado pelo Verifica em reportagem que destacou outras informações da pesquisa, inclusive a de que a desinformação contribuiu para a queda da cobertura vacinal no País.
Na terça-feira, 18, a Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), a Academia Brasileira de Ciências (ABC) e o Ministério da Saúde divulgaram nota conjunta contra o que chamaram de “farsa anticiência”. A nota manifesta “preocupação” e “firme repúdio” à atuação de médicos antivacina revelada pela reportagem do Verifica.
Reportagem mostrou que estudo foi retirado de publicação
O Estadão Verifica mostrou como os médicos Francisco Cardoso, Roberto Zeballos e Paulo Porto de Melo faturam com conteúdos, cursos e consultas particulares para tratar uma suposta síndrome sobre a qual não existe comprovação científica.
Eles publicaram um estudo na revista IDCases com um protocolo para tratar o que chamam de “síndrome pós-spike” ou “spikeopatia”, condição que seria causada pela proteína spike, produzida no corpo pelas vacinas de RNA mensageiro, e que teria sintomas semelhantes aos da covid longa.
A existência da “spikeopatia”, porém, não é comprovada pela comunidade científica. O estudo publicado pelos médicos foi retirado de publicação pela editora Elsevier devido ao risco da disseminação de protocolos de tratamento não validados e por não haver comprovação de relação entre a suposta doença e vacinas.
A investigação motivou posicionamento do ministro da Saúde, Alexandre Padilha, que fez uma postagem na rede social X sobre o assunto. Ele afirmou que o governo não seria tolerante com o negacionismo e que o órgão, junto com a Advocacia-Geral da União (AGU), adotaria “medidas cabíveis”.
Ao Estadão, Padilha afirmou que o ministério prepara medidas em quatro frentes contra os médicos envolvidos. Dentre as medidas está a representação criminal na Justiça contra esses profissionais.
Na nota conjunta de terça-feira, o Ministério da Saúde reafirmou que, em parceria com a Advocacia-Geral da União (AGU), “será feito tudo o que for possível, do ponto de vista jurídico, para impedir que esses profissionais continuem espalhando mentiras sobre vacinas e ainda lucrando com isso”.
A AGU disse ao Verifica que “aguarda a conclusão de análises técnicas e o envio de subsídios por parte do Ministério da Saúde para iniciar a adoção das medidas judiciais e extrajudiciais cabíveis”.
O Conselho Federal de Medicina (CFM) disse que “não se manifestará sobre o assunto por se tratar de casos concretos”. Já o Conselho Regional de Medicina de São Paulo (Cremesp) – órgão no qual Zeballos, Cardoso e Paulo Porto têm registro – informou que “todas as denúncias encaminhadas ao conselho são devidamente apuradas e tramitam sob absoluto sigilo”.
Fonte: Estadão – acesse aqui