APM sedia curso inédito sobre habilidades não-técnicas para cirurgiões e anestesistas

As aulas contaram com a participação de diversos especialistas internacionais

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A Medicina enfrenta desafio diários e estar preparado para lidar com situações adversas, que vão além da capacidade técnica, é fundamental para obter êxito na resolução de problemas e, assim, garantir qualidade no atendimento, na realização de procedimentos e na segurança dos pacientes.

Pensando nisso, a Associação Paulista de Medicina sediou nesta sexta-feira, 04 de julho, o Notts Masterclass (The Non-Technical Skills for Surgeons and Anesthetists). O curso, organizado pelo The Royal College of Surgeons of Edinburgh, foi desenvolvido em 2006 e esta foi a sua primeira edição no Brasil.

Com o objetivo de ampliar os conhecimentos de médicos de diferentes especialidades cirúrgicas por meio de habilidades que não necessariamente envolvam a técnica, mas que contribuam para o atendimento de qualidade e de segurança do paciente, as aulas contaram com a participação dos especialistas Tim Jones, Michael J. Moneypenny, Robert Riviello, Andrew C. de Beaux e Artur Zanellato. O presidente da APM, Antonio José Gonçalves, que atua profissionalmente como cirurgião de Cabeça e Pescoço, também marcou presença como um dos alunos.

Percepção da situação

Segundo Tim Jones, a percepção da situação é uma temática difícil de ser definida como “boa” ou “ruim”. Para o especialista, o que ela representa, de fato, é a dinâmica de um ambiente complexo. “É desenvolver ou manter uma dinâmica sempre checando a atualização de percepção da situação. Fazendo isso, ao coletar informações do ambiente e entendendo o que elas significam, é possível pensar no futuro e prever as coisas que acontecerão nele.”

O especialista demonstrou um exemplo prático para falar sobre a percepção da situação. Para isso, utilizou a foto de um grupo de turistas com câmeras fotográficas em um safari olhando para frente, enquanto um elefante vinha atrás deles, sem que percebessem a presença do animal – o que, para ele, simboliza um conhecimento nulo da situação. Ele questionou como aquele grupo não percebeu o perigo iminente.

“Como é possível que não o escutaram se aproximando? Só poderia ser um elefante bem silencioso – assim como coisas bem silenciosas [e adversas] também podem ocorrer em uma sala de operação”, comparou. 

De acordo com Jones, o modelo de percepção da situação consiste em três componentes fundamentais, que se dividem entre percepção dos dados e do ambiente; compreensão do significado e da relevância de determinada situação; e projeção de estados e eventos futuros.

“Juntos, eles levam à tomada de decisões e à ação que deverá ser efetuada. Assim, as pessoas que estavam tão próximas ao elefante poderiam perceber que aquele não era um ambiente adequado para estar e conseguiriam sair de lá o mais rápido possível”, explicou.

Deste modo, a percepção da situação consiste, basicamente, em saber o que está acontecendo ao redor, levando aos questionamentos “what?”, “so what” e “now what?”, que, em português, poderiam ser traduzidos como “o quê?”, “e daí?” e “e agora?”.

“A percepção da situação é uma discreta precursora da tomada de decisões e representa a sua interpretação dos estados atuais e futuros do ambiente. Se a sua percepção da situação é rasa, a sua tomada de decisões será limitada, porque não vai ter tido toda a informação disponível a fim de tomar a decisão correta. Por isso, é necessário entender o que é o ambiente ao qual está inserido, tomar a decisão e trabalhar no que será o ambiente futuro”, descreveu.

Em seguida, o professor Andrew C. De Beaux exibiu vídeo de uma equipe médica fictícia discutindo um caso antes de entrar na sala de cirurgia. Posteriormente, o especialista questionou como os participantes classificariam a abordagem dos profissionais e os alunos foram divididos em grupos para debater sobre a situação do vídeo apresentado.

Fotos: Julia Rohrer