Aprovações da Anvisa em setembro: novas terapias avançadas

O mês de outubro de 2025 consolidou um movimento de diversificação e sofisticação do portfólio farmacêutico brasileiro. A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) publicou uma série de novos registros e ampliações de uso que abrangem desde terapias biológicas complexas e biossimilares até imunoterapias e conjugados anticorpo-fármaco para cânceres refratários.

O que diz a mídia

O mês de outubro de 2025 consolidou um movimento de diversificação e sofisticação do portfólio farmacêutico brasileiro. A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) publicou uma série de novos registros e ampliações de uso que abrangem desde terapias biológicas complexas e biossimilares até imunoterapias e conjugados anticorpo-fármaco para cânceres refratários.

Entre os destaques, o Epyztek® (ustequinumabe) amplia o acesso a terapias imunomoduladoras por meio do primeiro biossimilar do Stelara®; o Blenrep® (belantamabe mafodotina) inaugura uma nova classe de agentes direcionados ao antígeno de maturação de linfócitos B (BCMA), uma proteína expressa seletivamente em plasmócitos malignos em mieloma múltiplo; e o Rybrevant® (amivantamabe) passa a contemplar pacientes com câncer de pulmão EGFR-mutado que progrediram após inibidores de tirosina-quinase.

No campo das doenças autoimunes e inflamatórias, a expansão do arsenal terapêutico com biossimilares e inibidores de citocinas reforça a busca por custo-efetividade e equidade de acesso. Já na oncologia e na oftalmologia, a incorporação de novas moléculas e indicações reflete o alinhamento da regulação brasileira com tendências internacionais de aprovação acelerada e reposicionamento terapêutico.

Essas decisões, ancoradas em evidências de ensaios clínicos de fase 3 e diretrizes de priorização regulatória, reforçam a capacidade da Anvisa de responder com agilidade ao avanço científico global, ao mesmo tempo em que colocam no radar a necessidade de avaliações de custo-efetividade e incorporação racional ao Sistema Único de Saúde (SUS) e à saúde suplementar.

Epyztek® (ustequinumabe) 

A Anvisa aprovou o registro do Epyztek® (ustequinumabe), primeiro biossimilar do Stelara® no Brasil, indicado para o tratamento de psoríase em placas moderada a grave, artrite psoriática, doença de Crohn e colite ulcerativa. O biossimilar foi autorizado em 28 de outubro de 2025, após comprovação de comparabilidade em termos de qualidade, eficácia e segurança com o produto de referência.

O ustequinumabe é um anticorpo monoclonal humano IgG1κ que se liga com alta afinidade à subunidade p40 compartilhada das interleucinas IL-12 e IL-23, bloqueando a sinalização dessas citocinas e interrompendo a cascata inflamatória associada à ativação de linfócitos T. Essa via está implicada em diversas doenças imunomediadas, incluindo psoríase, artrite psoriática e doenças inflamatórias intestinais.

Os estudos clínicos de referência, conduzidos com o ustequinumabe original, demonstraram melhora significativa nas taxas de remissão clínica e cicatrização mucosa em doença inflamatória intestinal (ensaios UNITI-1, UNITI-2 e UNIFI) e redução sustentada da atividade de doença cutânea e articular em psoríase e artrite psoriática (ensaios PHOENIX 1/ 2 e PSUMMIT 12). O perfil de segurança foi consistente entre indicações, com eventos adversos predominantemente leves a moderados, como infecções de vias respiratórias e cefaleia. Nenhum novo sinal de toxicidade foi identificado no processo de comparabilidade.

A chegada do Epyztek® ao mercado brasileiro representa um marco de concorrência entre biológicos de alto custo, com potencial para ampliar o acesso de pacientes a terapias imunomoduladoras eficazes. Essa aprovação reforça a consolidação do ecossistema regulatório de biossimilares no país e deve favorecer estratégias de sustentabilidade tanto no SUS quanto na saúde suplementar, em linha com políticas globais de incentivo à equivalência terapêutica.

Blenrep® (belantamabe mafodotina) 

O registro do Blenrep® (belantamabe mafodotina), um novo agente para o tratamento do mieloma múltiplo recidivado ou refratário, também foi aprovado pela Anvisa nesse período. O registro concede ao Brasil uma nova classe terapêutica, com um anticorpo-droga conjugado (ADC) dirigido ao BCMA em pacientes que haviam recebido múltiplas linhas prévias de tratamento.

O belantamabe mafodotina atua unindo-se ao BCMA expressado nas células do mieloma e liberando internamente o agente citotóxico auristatina F, que interrompe a divisão celular e induz apoptose, além de engajar o sistema imune contra a célula-alvo. Essa abordagem combina especificidade de anticorpo monoclonal com o efeito citotóxico de quimioterapia incorporada, expandindo o arsenal terapêutico para pacientes com doença fortemente pré-tratada.

Os ensaios clínicos de base, sobretudo o estudo DREAMM-2 (fase 2) e os mais recentes DREAMM-7 e DREAMM-8 (fase 3), mostraram que em pacientes com múltiplas recidivas o belantamabe mafodotina alcançou taxas de resposta global (ORR) da ordem de 30% e duração de resposta ≥6 meses em 73% dos respondedores, segundo a Food and Drugs Admnistration (FDA). No estudo DREAMM-7, a combinação com bortezomibe mais dexametasona reduziu o risco de progressão ou morte (razão de risco [RR] de 0,41) comparado à combinação daratumumabe mais bortezomida mais dexametasona. 

O perfil de segurança exige atenção particular à toxicidade ocular: ceratopatias, redução da acuidade visual, alterações epiteliais da córnea foram observadas em proporções relevantes. Nesse contexto, a bula americana alerta para exame oftalmológico antes e durante cada dose. Além disso, foram relatadas trombocitopenia, neutropenia e reações relacionadas à infusão.

Na prática clínica, os hematologistas brasileiros passam a contar com mais uma opção para intervenção precoce em recaída, o que pode alterar algoritmos de tratamento, especialmente se incorporado em rede pública ou via acesso ampliado.

Dalinvi® (daratumumabe) 

O daratumumabe é um anticorpo monoclonal humano IgG1κ que se liga à glicoproteína CD38, amplamente expressa em plasmócitos neoplásicos, induzindo morte celular tumor-direta, citotoxicidade dependente de complemento, citotoxicidade mediada por células-T e modulação imune do microambiente. 

A Anvisa aprovou a nova indicação para o medicamento Dalinvi® (daratumumabe) para o tratamento de pacientes adultos com mieloma múltiplo latente de alto risco, uma condição pré-maligna com alta probabilidade de progressão para o mieloma múltiplo ativo. 

Na nova indicação, o medicamento foi estudado em monoterapia em pacientes com mieloma múltiplo latente de alto risco não tratados previamente, com o objetivo de atrasar a evolução da doença para mieloma ativo sintomático. O ensaio clínico de fase 3 identificou que a adição de daratumumabe reduziu o risco de progressão ou morte em cerca de 51% dos indivíduos comparado a observação ativa (RR de 0,49; intervalo de confiança [IC] de 95%, de 0,36 a 0,67) e elevou a taxa estimada de sobrevida livre de progressão em 5 anos para 63,1% versus 40,8% no braço de controle. O desfecho de sobrevida global também mostrou benefício (taxas 93% vs. 86,9%; RR 0,52). O perfil de segurança não apresentou novos sinais desfavoráveis para esse novo cenário de uso. 

Imfinzi® (durvalumabe) 

A Anvisa aprovou uma nova indicação para Imfinzi® (durvalumabe), anticorpo monoclonal que bloqueia o ligante PD-L1, estendendo seu uso para o tratamento de pacientes com câncer de bexiga músculo-invasivo, especificamente na combinação com quimioterapia à base de cisplatina no cenário neoadjuvante, seguida de durvalumabe em monoterapia como tratamento adjuvante após cistectomia radical. 

O durvalumabe atua por inibição da interação entre PD-L1 e o receptor PD-1 (bem como CD80/B7.1), de modo a reativar a resposta imune antitumoral. 

No ensaio clínico de base (NIAGARA, fase 3), o uso de durvalumabe mais quimioterapia seguida de durvalumabe em manutenção mostrou melhora estatística e clinicamente relevante na sobrevida livre de eventos e também na sobrevida global em comparação ao braço de controle (quimioterapia neoadjuvante seguida de cistectomia sem manutenção). 

O perfil de segurança foi consistente com o que se conhece para imunoterapias anti-PD-L1, com eventos adversos esperados e manejáveis.

Pavblu® (aflibercepte) 

O aflibercepteé uma proteína recombinante de fusão que combina porções extracelulares dos receptores humanos de VEGF-R1 e VEGF-R2 ligadas à porção Fc da IgG1 humana. Ele se liga com alta afinidade ao fator de crescimento endotelial vascular A (VEGF-A), bem como ao VEGF-B e ao fator de crescimento placentário, inibindo a angiogênese patológica e o vazamento vascular que contribuem para o edema da mácula e a perda de visão. 

Foi aprovado pela Anvisa o registro do Pavblu® (aflibercepte), como nova opção terapêutica para tratamento de distúrbios da retina que causam deficiência visual, incluindo degeneração macular relacionada à idade úmida, edema macular diabético, edema macular secundário à oclusão de veia da retina e neovascularização coroidal miópica.

A nova aprovação abrange a população de adultos com esses distúrbios retinianos, especialmente nos casos em que terapias anteriores não foram suficientes ou quando se busca reduzir a carga de tratamento ocular e nos sistemas de saúde. Tal registro reflete a adoção pela Anvisa de terapias oftalmológicas inovadoras e a ampliação do portfólio retinológico no Brasil.

Os dados clínicos que sustentam o uso do aflibercepte em doenças maculares englobam múltiplos ensaiosrandomizados de fase 3 que demonstraram melhoria significativa na acuidade visual e no espessamento da mácula, com perfil de segurança aceitável. No caso do aflibercepte já comercializado sob outra marca, foi documentado que as aplicações intravítreas reduziram a progressão da perda visual e o edema macular, com menor frequência de injeções em esquemas de manutenção prolongada. 

Em termos de segurança, o perfil segue o esperado para injeções intravítreas de anti-VEGF: risco de endoftalmite, aumento da pressão intraocular, hemorragia vítrea e raramente eventos tromboembólicos arteriais. A técnica correta de administração é essencial para minimizar complicações. 

Rybrevant® (amivantamabe) 

A ampliação de uso do Rybrevant® (amivantamabe) foi aprovada recentemente pela Anvisa para o tratamento de adultos com câncer de pulmão de não-pequenas células (CPNPC) localmente avançado ou metastático com mutações de deleção no éxon 19 ou substituição L858R no éxon 21 do gene EGFR, quando a doença progrediu após ou durante tratamento com inibidor de tirosina-quinase de terceira geração (EGFR TKI). 

O amivantamabeé um anticorpo biespecífico humano que se dirige tanto ao receptor EGFR quanto ao receptor MET, com capacidade de bloqueio dos dois alvos e promoção de citotoxicidade imunomediada. Essa combinação de mecanismo permite atuar em cenários de resistência onde há ativação compensatória de MET ou persistência da sinalização de EGFR. 

Na ampliação de indicação, o registro baseou-se em ensaios clínicos de fase 3, como o estudo MARIPOSA-2 (n = 657), que avaliou amivantamabe em combinação com carboplatina mais pemetrexede vs. quimioterapia apenas. O desfecho principal, sobrevida livre de progressão, foi significativamente melhor no braço da combinação (mediana de 6,3 meses vs. 4,2 meses; RR de 0,48; IC de 95%, de 0,36 a 0,64; p < 0,0001). 

No que tange à segurança, o perfil permaneceu conforme esperado: reações relacionadas à infusão (59%), rash cutâneo, fadiga, neutropenia, trombocitopenia e alterações laboratoriais estiveram entre os efeitos adversos mais frequentes.

Para o Brasil, a aprovação representa um avanço no tratamento de CPNPC com mutações clássicas do EGFR que progrediram após inibidores de tirosina-quinase, abrindo uma alternativa de linha subsequente baseada em imunoterapia biespecífica mais quimioterapia. 

Fonte: MedScape – acesse aqui