Com o objetivo de ampliar o debate sobre o panorama da Residência Médica, especialmente da Cirurgia Geral, a Associação Paulista de Medicina realizou nos dias 29 e 30 de agosto a primeira edição do Fórum Paulista de Residência Médica em Cirurgia Geral. O evento contou com a presença de diversos especialistas na área e simboliza o início de uma parceria frutífera entre a APM e o Colégio Brasileiro de Cirurgiões – Capítulo São Paulo, com outras atividades já previstas.
O presidente e o vice-presidente da Associação, Antonio José Gonçalves e José Luiz Gomes do Amaral, respectivamente, prestigiaram a ocasião. “Acho que não precisamos nem falar da importância da Residência Médica na formação do médico. Ela é um dos poucos programas de formação do médico que ainda detém alguma qualidade. e temos que manter isto a todo custo. Nós precisamos de especialistas, só que especialistas de qualidade e acho que nós, a Associação Paulista de Medicina e as demais federadas da Associação Médica Brasileira, temos responsabilidade nisso e temos que participar de uma maneira construtiva, ajudando no que for possível.”, afirmou Gonçalves.
Para o responsável técnico do fórum, Ramiro Colleoni, os anos para a especialização de um médico no Brasil não são suficientes. “Uma queixa muito comum é de que o cirurgião do último ano se dedica mais a estudar e se preparar para uma prova de especialidade do que realmente se engajar à atividade cotidiana […]. Não são, necessariamente, três anos para você conseguir formar um cirurgião geral. Ele tem que ser um cirurgião brilhante, que em três anos está perfeito.”
Respondendo ao questionamento de uma das participantes da plateia, referente à diminuição na procura por determinadas especialidades, Colleoni relembrou que o número de residentes cursando Cirurgia Geral atualmente já é quase 30% menor do que nos anos anteriores. “Isso é grave e daqui para frente a queda será brutal. Há um esforço em relação a isso, mas tomam-se medidas de acesso que parecem não ser muito pensadas e precisamos tomar cuidado, porque qualquer resolução deveria pensar quais são as saídas.”
O especialista também avaliou se o aluno recém-egresso de uma faculdade de Medicina tem competência para iniciar a sua prática, principalmente em uma comunidade distante. “Ele deveria ter, mas será que todos têm? É sobre isso que o Ministério da Educação está assertivamente, porém tardiamente, tomando atitudes.”
Para Paulo Fernando Constancio de Souza, presidente da Comissão Estadual de Residência Médica do Estado de São Paulo (Cerem-SP), atualmente o estado tem uma gestão apropriada e democrática. “Eu vislumbro um caminho que me faz pensar para poder discutir com outros pares nesse processo, resguardando, sempre, o papel da Comissão Nacional de Residência Médica. Este é o papel que nós precisamos saber administrar e cuidar.”
Posteriormente, Mário César Scheffer, coordenador do estudo Demografia Médica no Brasil, apresentou o seu ponto de vista a respeito do assunto. “Nós temos um imenso desafio. O Brasil conta com um modelo longevo e sólido de formação de especialistas, que precisa ser preservado, fortalecido e ter suas vagas corrigidas. Eu me refiro ao protagonismo da residência médica e o imprescindível papel das sociedades de especialidades.”
De acordo com Scheffer, não será possível formar um número de especialistas que acompanhe a expansão das vagas de graduação de Medicina. “Teremos que cuidar melhor dessa formação e, quem sabe, as novas diretrizes curriculares permitam um pouco desse debate de como formar melhor os médicos que não entrarão na residência médica e não se aproximarão das sociedades de especialidades, indo imediatamente para o mercado de trabalho.”
Para o pesquisador, ainda será preciso muitos avanços, especialmente na definição de quantos e quais especialistas o Brasil mais precisa. “No diagnóstico, os especialistas não estão onde a população mais precisa e não sabemos exatamente quais especialidades são deficitárias. Temos números sobre a dificuldade de contratação de anestesistas, psiquiatras e médicos de família e comunidade, mas será que isso é suficiente? E aqui, eu me refiro à continuidade de produção de evidências que possam contribuir para o debate”, concluiu.
Fotos: Divulgação

