O Cine Debate da Associação Paulista de Medicina realizou, na última sexta-feira, 19 de setembro, a quinta sessão deste ano com a exibição do clássico “A Dama de Shangai (1947), dirigido e estrelado por Orson Welles, ao lado de Rita Hayworth e Everett Sloane.
A trama gira em torno de Michael O’Hara, um marinheiro impulsivo que se envolve com a enigmática Elsa Bannister, após salvá-la de um assalto em um parque. Atraído por Elsa, Michael aceita um convite do marido dela, o renomado advogado criminalista Arthur Bannister, para trabalhar em seu iate durante uma viagem. O que parecia apenas uma aventura se transforma em muitas intrigas, manipulações e traições, especialmente após a chegada do sócio de Arthur, que faz uma proposta a Michael para receber US$ 5 mil para forjar um assassinato.
Para analisar o filme, o psiquiatra Wimer Bottura Júnior, coordenador do Cine Debate, convidou Yuri Teixeira, especialista no Desenvolvimento de Produtos Audiovisuais, e Ana Luisa Meirelles, CEO da Universidade de Pais e especialista em Comunicação para Parentalidade e Filhos.
Bottura iniciou a conversa falando da satisfação de realizar mais uma edição do Cine Debate com um clássico da década de 1940. “A Dama de Shangai trata de temas profundos como ambição, vaidade, poder, manipulação, conflito de valores, impulsividade e ingenuidade. Há uma frase de um samba de Paulinho da Viola, de autoria do Candeia, que gosto muito e se encaixa bem nesse contexto: ‘a razão serve a todos os senhores’. Isso porque o personagem Arthur Bannister, por exemplo, é um advogado brilhante, que nunca perdeu uma causa, mas que manipula a razão conforme seus próprios interesses. Já Michael O’Hara é quase o oposto, um cara ingênuo, impulsivo e facilmente envolvido por aparências”, destacou.

Tema do Debate: “Nem tudo é o que parece”
Teixeira analisou a linguagem e o impacto cinematográfico da obra. “A Dama de Shangai é um filme à frente de seu tempo. Orson Welles gostava de provocar desconforto tanto em seus personagens quanto no público. A tensão em cena é palpável e, para a época, o nível de violência foi considerado ousado. Por isso mesmo, o filme não teve boa recepção quando foi lançado. Além disso, é um enredo que traz desconfianças entre os personagens”, comentou.
O especialista acrescentou que, só depois de décadas, o longa passou a ser valorizado, especialmente nas escolas de cinema e no cinema europeu. “A Dama de Shangai” virou referência por sua estética inovadora e pela quebra de expectativas.”
Ana Luisa, por sua vez, trouxe uma leitura voltada para os aspectos humanos e emocionais dos personagens. “A obra fala de uma beleza feminina fatal e, ao mesmo, de uma fragilidade. Elsa parece estar entre dois mundos: o da segurança e o da liberdade. Não sabemos se ela busca proteção ou se, no fundo, deseja escapar. É uma personagem que reflete o quanto nem tudo é o que aparenta ser. Ao mesmo tempo, Michael O’Hara tem a leveza de dizer que o mais importante é a liberdade, sem se preocupar com dinheiro, porque o valor dele já era muito diferente”, revelou.
Para ela, o centro da trama traz algumas dinâmicas conjugais e uma máscara social, representando a ilusão das aparências.
Com quase três décadas de história, o Cine Debate tem como proposta promover sessões de cinema seguidas de conversas com especialistas de diversas áreas, como psiquiatras, psicólogos, cineastas, jornalistas e outros profissionais.
O próximo encontro será realizado no dia 10 de outubro, e o filme escolhido é Green Book – O Guia (EUA – 2018), com o tema para debate “Quando dois extremos se atraem”.


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