De vitaminas e produtos anabolizantes: o uso de suplementos e seus potenciais riscos à saúde – por Carmino de Souza, Pitsiqui Carvalho e Clarissa Vasconcellos de Souza

No mundo dos suplementos alimentares, encontramos uma vasta gama de produtos com diferentes funções e públicos-alvo

O que diz a mídia

No mundo dos suplementos alimentares, encontramos uma vasta gama de produtos com diferentes funções e públicos-alvo. A obsessão pela saúde, desempenho e beleza, faz com que a indústria de suplementos se apresenta como um “oásis” de promessas milagrosas. Mas, por trás da publicidade chamativa e das ofertas tentadoras, esconde-se um universo de riscos que podem comprometer a saúde da população. O uso indiscriminado de suplementos, muitas vezes impulsionado por informações distorcidas dos meios de comunicação, configura um problema de saúde pública que demanda atenção e medidas urgentes.

Muitos consumidores são atraídos pela promessa de resultados rápidos e fáceis. Em uma sociedade que valoriza a aparência física e a eficiência, os suplementos são frequentemente vistos como uma solução mágica, que explora o desejo incessante por efeitos milagrosos e encapsulados. No entanto, essa busca pode levar a um uso imprudente e potencialmente perigoso desses produtos.

Nos últimos anos, a indústria de suplementos alimentares tem experimentado um crescimento exponencial, impulsionada pela crescente preocupação com a saúde, a estética e a performance física. Segundo a Abramark, a Globalpraxis, a pedido da Nestlé Health Science, realizou um estudo global sobre suplementos que evidenciou que o segmento movimenta R$ 11 bilhões em vendas no Brasil e o consumo impacta a vida de 34% dos brasileiros.

Com promessas que vão desde a perda de peso rápida até o aumento significativo da massa muscular, esses produtos ganharam popularidade em todo o mundo. Desde proteínas em pó e multivitamínicos até “queimadores” de gordura e probiótico. A variedade de produtos disponíveis é vasta. A imprensa desempenha um papel crucial na formação da percepção pública sobre suplementos alimentares e as estratégias de marketing são frequentemente agressivas, utilizando celebridades e influencers para promover benefícios que nem sempre são suportados por evidências científicas robustas.

Propagandas enganosas e a promoção por influenciadores podem criar uma falsa sensação de segurança e eficácia apresentados benefícios dos suplementos de forma exagerada enquanto os riscos são minimizados com completamente ignorados.

Desvendar esse universo de opções pode ser um desafio, mas com conhecimento e orientação profissional, é possível encontrar o suplemento ideal para suas necessidades, sempre com foco na saúde e no bem-estar.

É essencial que a população desenvolva uma postura crítica em relação às informações recebidas e busque fontes confiáveis e baseadas em evidências científicas. São várias as categorias destes suplementos:

  1. suplementos proteicos;
  2. suplementos vitamínicos e minerais;
  3. suplementos para ganho de peso e massa muscular;
  4. suplementos para “queima de gordura”;
  5. suplementos para saúde das articulações;
  6. suplementos para saúde digestiva; suplementos “para imunidade”;
  7. suplementos para saúde óssea;
  8. suplementos para saúde da pele, cabelos e unhas.

O uso indiscriminado de suplementos pode acarretar uma série de riscos à saúde.

Abaixo, discutimos alguns dos principais problemas associados ao uso excessivo e sem supervisão de suplementos alimentares.

  • Interações medicamentosas: podem interagir com medicamentos prescritos, resultando em efeitos adversos imprevisíveis. Por exemplo, o ginkgo biloba pode aumentar o risco de sangramentos quando tomado com anticoagulantes. Sem orientação médica adequada, essas interações podem ter consequências graves.
  • Toxicidade por excesso de nutrientes: a crença de que “mais é melhor” pode levar ao consumo excessivo de vitaminas e minerais. No entanto, muitos nutrientes podem ser tóxicos em doses altas. A Hipervitaminose A, por exemplo, pode causar sintomas como náuseas, vômitos, dores de cabeça e até danos hepáticos. O excesso de ferro pode levar a condições graves e que pode danificar órgãos vitais tais como o coração.
  • Mascaramento de problemas de saúde: o uso de suplementos pode mascarar sintomas de doenças subjacentes, atrasando o diagnóstico e o tratamento adequado. Por exemplo, uma pessoa pode usar suplementos para aliviar dores nas articulações sem perceber que está sofrendo de artrite reumatoide, uma condição que requer tratamento médico específico.
  • Dependência psicológica: a dependência psicológica é outro risco significativo. Alguns indivíduos podem começar a acreditar que não podem atingir seus objetivos de saúde ou fitness sem o uso constante de suplementos. Essa dependência pode impedir a adoção de hábitos alimentares saudáveis e a busca por orientação médica especializada.
  • Qualidade e contaminação dos produtos: nem todos os suplementos disponíveis no mercado são regulados de forma rigorosa. Isso pode resultar na presença de produtos de baixa qualidade ou até contaminados com substâncias nocivas. A falta de regulamentação também pode levar à inclusão de ingredientes não listados no rótulo, que podem ser perigosos para a saúde.
  • Uso contínuo e prolongado de suplementos: muitas substâncias devem ser utilizadas temporariamente ou para tratar uma condição (por exemplo, hipovitaminose D). Revertido distúrbio ou mesmo para evitar efeitos adversos, a substância deve ser suspensa, mas muitos pacientes continuam utilizando por não terem conhecimento dos seus efeitos a longo prazo ou por falta de seguimento por profissional especializado.

Por que os suplementos não requerem prescrição médica ou de profissionais da saúde e diante da avalanche de informações, torna-se crucial que o indivíduo assuma uma postura crítica e responsável ao decidir fazer uso dos mesmos.

Buscar informações confiáveis em fontes científicas e consultar um médico ou nutricionista antes de iniciar qualquer suplementação são medidas essenciais para garantir a segurança e a efetividade do consumo. Eles devem possuir conhecimento necessário para avaliar as necessidades individuais e recomendar suplementos de forma segura e eficaz.

Nutricionistas: são treinados para avaliar a dieta e o estado nutricional de seus pacientes. Eles seguem legislações e resoluções profissionais específicas, como a Lei nº 8.234/1991, que regulamenta a profissão e permite a prescrição de suplementos alimentares no âmbito da sua atuação. A Resolução CFN nº390/2006 define as atribuições do nutricionista, incluindo a prescrição de suplementos alimentares “isolados ou associados entre si”.

Médicos: possuem uma formação abrangente em diagnóstico e tratamento de doenças, o que lhes permite avaliar a necessidade de suplementação no contexto individual de cada paciente. O Código de Ética Médica permite aos médicos prescrever qualquer tipo de medicamento, incluindo suplementos alimentares, quando necessário para o tratamento de doenças ou promoção da saúde.

O uso de suplementos alimentares pode ser benéfico quando realizado de forma consciente e sob orientação profissional. Abaixo, algumas recomendações para o uso seguro de suplementos:

  • Consulta profissional: sempre consulte um nutricionista ou médico antes de iniciar qualquer suplementação.
  • Avaliação individual: a prescrição de suplementos deve ser feita de forma individualizada, levando em consideração o histórico de saúde, dieta e estilo de vida do paciente.
  • Evitar automedicação: não usar suplementos sem orientação profissional, pois o uso inadequado pode trazer riscos à saúde.
  • Qualidade e procedência: optar por suplementos de marcas confiáveis e com boa procedência para garantir a qualidade e segurança.
  • Educação e informação: buscar informações confiáveis e baseadas em evidências científicas. Desenvolver uma postura crítica em relação às propagandas e informações dos meios de comunicação.

É fundamental que a população se conscientize dos perigos dessa prática e busque orientação profissional qualificada antes de consumir qualquer suplemento alimentar.

Adotar uma dieta equilibrada, praticar atividade física regularmente e procurar acompanhamento médico quando necessário, são pilares fundamentais para alcançar o verdadeiro bem-estar, sem cair nas armadilhas da publicidade enganosa e dos mitos.

Carmino Antônio De Souza é professor titular da Unicamp. Foi secretário de saúde do estado de São Paulo na década de 1990 (1993-1994) e da cidade de Campinas entre 2013 e 2020. Secretário-executivo da secretaria extraordinária de ciência, pesquisa e desenvolvimento em saúde do governo do estado de São Paulo em 2022 e atual Presidente do Conselho de Curadores da Fundação Butantan. Diretor científico da Associação Brasileira de Hematologia, Hemoterapia e Terapia Celular (ABHH) e Pesquisador Responsável pelo CEPID-CancerThera-Fapesp.

Pitsiqui Carvalho é médica cirurgiã plástica atuando na Santa Casa e na rede de atenção básica de Santos – SP.

Clarissa Vasconcellos De Souza é médica e fisioterapeuta com residência médica em saúde da família e comunidade bem como mestrado e doutorado em Clínica Médica pela Unicamp. Atua na rede de atenção básica.

Fonte: Hora Campinas