Após registrar as primeiras mortes por febre oropouche do mundo no ano passado, o Brasil voltou a confirmar óbitos pela doença neste ano. Até agora, ao menos quatro vítimas fatais foram relatadas, três pela Secretaria de Estado de Saúde do Rio de Janeiro (SES- RJ) e uma pela Secretaria Estadual de Saúde do Espírito Santo (SES-ES).
De acordo com o último informe do Centro de Operações de Emergências (COE) para Dengue e outras Arboviroses, do Ministério da Saúde, há ainda uma morte suspeita em análise em São Paulo.
Além disso, o país acumulava 10.072 casos de febre oropouche até o último dia 10. O total representa um aumento de 56,4% quando comparado aos 6.440 pacientes registrados no mesmo período do ano passado. Ao todo, 2024 teve quase 14 mil casos da infecção, enquanto em 2023 foram somente 833, de acordo com os dados da pasta da Saúde.
A febre oropouche é uma infecção causada pelo vírus Orthobunyavirus oropoucheense (OROV) e transmitida principalmente pelo mosquito Culicoides paraenses, conhecido como maruim ou mosquito-pólvora, na região amazônica, embora tenha se expandido nos últimos dois anos.
Nos locais silvestres, outros insetos que podem disseminar o patógeno são o Coquilletti diavenezuelensis e o Aedes serratus. Já em áreas urbanas, onde a circulação do vírus é menos comum, o mosquito Culex quinquefasciatus também atua como um vetor.
De acordo com o boletim mais recente do Ministério da Saúde, o Espírito Santo concentra a maior parte dos casos (6.118), com um aumento observado desde o segundo semestre de 2024. Em seguida, estão o Rio de Janeiro, com 1,9 mil; a Paraíba, com 640 e o Ceará, com 573.
“Transmissão ativa também foi registrada em Roraima, Rondônia, Amapá, Tocantins, Bahia, Minas Gerais, São Paulo, Mato Grosso do Sul, Santa Catarina e Paraná”, diz o documento. As faixas etárias entre 20 e 59 anos concentram 70,5% dos casos.
Um fator que pode estar por trás do avanço da febre oropouche é uma nova versão do vírus. No ano passado, pesquisadores da Fiocruz publicaram na revista científica Nature Medicine a descoberta de uma nova linhagem viral, chamada de ‘OROV BR-2015-2024′, que causou o maior surto já observado na região amazônica.
Considerando as características genéticas do patógeno, os cientistas avaliaram que a cepa emergiu, provavelmente, entre os anos de 2010 e 2014 no estado do Amazonas, espalhando-se silenciosamente até provocar a epidemia. De acordo com a pesquisa, a linhagem resultou de um “rearranjo genético” entre uma versão do vírus que circulava no Brasil com outra presente no Peru, Colômbia e Equador.
Além disso, a nova cepa apresenta alterações na superfície da partícula viral que podem facilitar o escape de anticorpos, reduzindo a proteção de pessoas previamente infectadas com o OROV. Outro trabalho sugeriu ainda que a linhagem se replica mais rapidamente nas células humanas.
Em outras ocasiões, o Ministério da Saúde já afirmou que, além da expansão do vírus, o crescimento dos registros no país também está atrelado à disponibilização inédita de testes diagnósticos para toda a rede nacional de Laboratórios Centrais de Saúde Pública (Lacen), a partir de 2023.
Os casos suspeitos para dengue com resultado negativo também passaram a ser testados para febre oropouche. “Com isso, os casos, até então concentrados na região Norte, passaram a ser identificados também em outras regiões do país”, disse a pasta.
Outros fatores para a alta do oropouche na região das Américas, citados pela Organização Pan-Americana da Saúde (Opas), são mudanças climáticas, desmatamento e urbanização não planejada.
Mortes pela primeira vez
Em julho do ano passado, o Brasil confirmou duas mortes por febre oropouche, as primeiras no mundo pela doença. As vítimas foram duas mulheres, de 21 e 24 anos, de cidades diferentes na Bahia, que não tinham comorbidades.
Ao longo de 2024, foram registrados ainda mais três óbitos, um no Paraná, de um homem de 59 anos, um no Espírito Santo, de uma mulher de 61 anos, e um em Pernambuco, de uma idosa de 71 anos, mas que teve a confirmação do vírus apenas em abril deste ano.
Além disso, casos de transmissão vertical do vírus para o feto em mulheres grávidas foram confirmados no ano passado, também de forma inédita. Quatro óbitos fetais foram registrados em Pernambuco, e um no Ceará, além de uma malformação congênita no Acre.
Já em 2025, o primeiro óbito por febre oropouche foi informado no último dia 16 de um morador de 64 anos de Cachoeiras de Macacu, no Rio de Janeiro, que foi hospitalizado em fevereiro na região metropolitana fluminense e morreu quase um mês depois.
Na última quarta-feira, a SES-RJ confirmou mais duas mortes: uma moradora de Macaé, com 34 anos de idade, e outra de Paraty, com 23 anos. Ambas tiveram os primeiros sintomas em março deste ano, foram internadas, mas faleceram dias depois. Segundo a pasta, são “episódios isolados”.
A quarta morte de 2025 foi confirmada no Espírito Santo, na última segunda-feira. O óbito ocorreu na cidade de Colatina ainda em janeiro e, segundo a SES-ES, a vítima, um homem de 52 anos, tinha histórico de hipertensão e cardiopatia.
Quais são os sintomas da febre oropouche?
Os sintomas, muito similares aos da dengue e da chikungunya, duram entre dois e sete dias e incluem:
- Febre de início súbito;
- Dor de cabeça intensa;
- Dor nas costas e na lombar;
- Dor articular;
- Tosse;
- Tontura;
- Dor atrás dos olhos;
- Erupções cutâneas;
- Calafrios;
- Fotofobia;
- Náuseas;
- Vômitos.
De acordo com a SES-RJ, o período de incubação, tempo entre a picada e o início dos sintomas, dura entre quatro e oito dias. O início geralmente é marcado por febre, dor de cabeça, dor nas articulações, dor muscular, calafrios e, às vezes, náuseas e vômitos persistentes por até cinco a sete dias.
Na maioria dos casos, o paciente se recupera em uma semana. Porém, a doença pode se agravar em grupos de risco, entre crianças e idosos a partir de 60 anos.
Qual é o tratamento para a febre oropouche?
Não existe tratamento específico para a doença. Com o acompanhamento médico, são indicados medicamentos para aliviar os sintomas enquanto o sistema imunológico do paciente combate a infecção.
Como prevenir a febre oropouche?
A principal forma é evitando a picada do mosquito transmissor da doença, explica o subsecretário de Vigilância e Atenção Primária à Saúde do Rio de Janeiro, Mário Sergio Ribeiro:
— O maruim é bem pequeno e corriqueiro em locais silvestres e áreas de mata. Por isso, a recomendação é usar roupas que cubram a maior parte do corpo, passar repelente nas áreas expostas da pele, limpar terrenos e locais de criação de animais, recolher folhas e frutos que caem no solo, e instalar telas de malha fina em portas e janelas.
Além disso, diante das evidências de transmissão vertical do vírus, as autoridades recomendam a gestantes:
- Evitar áreas onde há muitos insetos (maruins e mosquitos), se possível, e usar telas de malha fina em portas e janelas;
- Usar roupas que cubram a maior parte do corpo e aplicar repelente nas áreas expostas da pele;
- Manter a casa limpa, incluindo a limpeza de terrenos e de locais de criação de animais, e o recolhimento de folhas e frutos que caem no solo;
- Se houver casos confirmados na sua região, seguir as orientações das autoridades de saúde locais para reduzir o risco de transmissão.
Fonte: O Globo – confira aqui