Entre os dias 10 e 21 de novembro, o Brasil sediou a 30ª Conferência das Partes (COP30) da Organização das Nações Unidas (ONU). O evento aconteceu na cidade de Belém, capital do Pará, reunindo mais de 190 países e aproximadamente 42 mil participantes, entre eles, o médico, ambientalista e delegado da Associação Paulista de Medicina, Gilberto Natalini.
Para apresentar o panorama da COP30 e comentar sobre os resultados, Natalini participou da última reunião de Diretoria da APM, realizada na sexta-feira, 28 de novembro. “Eu acho que a COP30 foi grandiosa, com uma diversidade social enorme e uma efusão de eventos. Foram incontáveis conversas, debates, articulações, negociações e pessoas com vontade de produzir.”
O médico relembrou que apesar de todas as dificuldades – como o calor, incêndio e problemas com alimentação – a recepção de Belém foi extremamente acolhedora. No entanto, para ele, os resultados do evento foram aquém das expectativas.
“Queiramos ou não, o Brasil fez muita força para os debates sobre as questões climáticas avançarem. Mas os países produtores de petróleo, apoiados pela China, que é uma grande consumidora de carvão; pela Índia, que é uma grande consumidora de petróleo; e pela Rússia, que é uma grande produtora de petróleo e gás; não estavam lá, nenhum dos dirigentes do BRICS veio para a COP30. Além dos americanos, que também não compareceram, mas ficaram o tempo inteiro jogando contra nos bastidores”, destacou.
De acordo com Natalini, de todas as COPs que já esteve presente, esta foi a que apresentou os maiores retrocessos. Ele também comparou as ações que têm que ser realizadas em prol do meio ambiente às medidas que os médicos precisam tomar ao lidar com pacientes enfermos.
“Existe a adaptação, que é quando você trata uma febre e dá um medicamento para baixar a temperatura, e existe a mitigação, em que você vai combater a bactéria. A COP30 tratou da adaptação, ou seja, combateu a febre, mas a mitigação, que é a causa do problema, ficou um pouco fora do resultado, por conta da pressão dos países produtores de petróleo, que se juntaram com esses outros que eu falei”, comentou.
Na opinião do ambientalista, os resultados da conferência foram insatisfatórios. Além disso, ele também salientou que houve a participação de outros médicos, mas no papel de ambientalistas e não de representantes da Saúde. “Os médicos como classe, como categoria, foram poucos. Na próxima, quem sabe, a gente vai, leva ambulâncias e faz barulho, para mostrar que a Saúde também está aí na conversa.”
Atuação da APM
A diretoria de Responsabilidade Social da Associação Paulista de Medicina, em parceria com Gilberto Natalini, criou o grupo de trabalho Médicos pelo Meio Ambiente e pelo Clima. O foco está na elaboração de medidas que contribuam para diminuir os impactos climáticos, principalmente na Saúde da população.
Os resultados obtidos até o momento foram positivos e, entre eles, está a elaboração de uma carta aberta sobre o tema. Em um dos trechos, os médicos destacam que “os impactos na Saúde envolvem os desastres naturais, as doenças relacionadas ao calor, as doenças infecciosas, a poluição e qualidade do ar, a poluição dos oceanos pelos microplásticos, a poluição ambiental por resíduos sólidos, a segurança alimentar, a qualidade e a escassez da água e a saúde mental. Cabe aos médicos e aos serviços de Saúde, no fim das contas, atender e se encarregar das vítimas e das pessoas afetadas na forma de doenças causadas pelas emergências climáticas e pela degradação ambiental.”
Fotos: Divulgação

