Grandes veículos publicam artigo do presidente da APM

Antonio José Gonçalves falou sobre a criação do curso de Medicina da UFPE para membros do MST

APM na imprensa

No último final de semana, o Diário do Grande ABC, A Tribuna e o Jornal do Commercio publicaram um artigo escrito pelo presidente da Associação Paulista de Medicina, Antonio José Gonçalves, sobre a criação do novo curso de Medicina da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) para membros do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST). Confira na íntegra: 

Medicina e militância: o risco da politização nas universidades públicas

A decisão da UFPE (Universidade Federal de Pernambuco) de abrir um curso de Medicina voltado a integrantes do MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra) e beneficiários da reforma agrária reacende um debate essencial sobre os limites entre inclusão social e politização do ensino público.

O curso, aprovado pela Justiça e previsto para começar em dezembro, no campus do Agreste, em Caruaru, reservará metade das 80 vagas a assentados, quilombolas e educadores ligados ao Incra. A outra metade será de ampla concorrência. À primeira vista, a proposta parece nobre: levar formação médica a populações historicamente marginalizadas. No entanto, a iniciativa desperta preocupações legítimas sobre o uso político das universidades federais e o risco de ferir o princípio da igualdade de acesso.

O Brasil já possui leis consolidadas de cotas que garantem oportunidades a estudantes de escolas públicas e a grupos raciais historicamente excluídos. Esses mecanismos se baseiam em critérios objetivos de vulnerabilidade social e educacional – e não em filiação a movimentos ou programas governamentais. Ao reservar vagas com base em vínculos a determinados grupos sociais e políticos, o Estado abre precedente para a seletividade ideológica dentro de instituições que deveriam ser neutras e universais.

A formação médica, em especial, deve priorizar critérios técnicos e acadêmicos. O País precisa de bons médicos – sejam eles filhos de agricultores, moradores de periferias ou jovens das grandes cidades –, mas todos devem competir sob parâmetros claros e justos. A ideia de que o acesso à Medicina possa ser condicionado à militância ou à vinculação a determinado movimento é perigosa e fere o espírito republicano da universidade pública.

A verdadeira inclusão não nasce de privilégios seletivos, mas de educação básica de qualidade e oportunidades iguais desde o início da trajetória escolar. Promover justiça social não é favorecer grupos politicamente organizados; é garantir que todos os brasileiros, independentemente de origem ou ideologia, tenham chances reais de construir seu futuro.

A universidade é, por natureza, um espaço voltado para a liberdade e a pluralidade. Quando o poder público transforma salas de aula em trincheiras ideológicas, perde-se o foco do que realmente importa: formar cidadãos críticos, competentes e comprometidos com o bem comum.

A criação do curso de Medicina do Pronera pode até ter boas intenções. Mas boas intenções não bastam – especialmente quando colocam em risco os pilares da educação pública e o princípio da igualdade que deve nortear o acesso às universidades.

Antonio José Gonçalves é presidente da APM (Associação Paulista de Medicina).

Fontes: Diário do Grande ABC, A Tribuna e o Jornal do Commercio