Live da Sogesp sobre coqueluche tem participação de médicas da APM

Especialistas falaram sobre prevenção e dados epidemiológicos

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A Associação de Obstetrícia e Ginecologia do Estado de São Paulo (Sogesp), em parceria com a Secretaria Municipal de Saúde, realizou na última quarta-feira, 12 de fevereiro, a live “Coqueluche: a morte infantil que você tem que evitar”. A exibição foi moderada por Maria Rita de Souza Mesquita, presidente da entidade e secretária geral adjunta da Associação Paulista de Medicina, e Roseane Mattar, diretora Científica da Sogesp.

A membro da Comissão Especial de Médicos Jovens da APM e assessora técnica da Coordenadoria de Vigilância em Saúde da Secretaria Municipal, Melissa Palmieri, foi uma das palestrantes da ocasião, abordando os dados epidemiológicos no município de São Paulo. Ela salientou que a live foi motivada por conta do falecimento de um recém-nascido e de um bebê de um mês de vida, por decorrência da coqueluche.

“Sendo uma doença respiratória, ela tem os seus ciclos hiperendêmicos a cada três e cinco anos. Tivemos o protagonismo do SARS-CoV-2, que deu um silenciamento de vários agentes, mas é importante estar alerta, entendendo o que está acontecendo no cenário epidemiológico”, explicou a médica.

Assim, ela recordou que 2014 foi um ano emblemático para a coqueluche no Brasil, por conta da alta no número de casos. Em números absolutos, 2014 registrou 659 casos confirmados de coqueluche, enquanto em 2024 houve a confirmação de 768, elevando o coeficiente de incidência. Palmieri reforçou que quando se analisa as semanas epidemiológicas do último ano, nota-se que a incidência ocorreu em todas elas, principalmente a partir de abril.

Em relação aos distritos administrativos com maior número de casos, destacam-se Jardim Ângela e Jardim São Luís como alguns dos mais afetados. “Aqui a gente pode até fazer algumas críticas. Existem locais favorecidos na questão da solicitação de PCR e no serviço privado, enquanto outros locais são desfavorecidos. Infelizmente, pode ser também que o profissional de Saúde não suspeitou, o que torna isso muito complicado e facilita muito a disseminação da doença.”

Sobre sexo e faixa etária, a especialista especificou que não há grandes distinções entre homens e mulheres, mas que o impacto da doença vai acontecer na Pediatria, em que se observa a maior taxa de desfechos de hospitalização e mortalidade – porém, o percentual de casos vem aumentando em adolescentes entre 10 e 14 anos, devido ao fato de a imunização perder a força após alguns anos, havendo a necessidade de reforços. Neste sentido, Melissa Palmieri enfatizou que é importante que profissionais da Saúde suspeitem da coqueluche em todas as idades.

A palestrante pontuou que a coqueluche é uma doença de notificação compulsória, ou seja, que requer notificação imediata em até 24 horas, e explicou o passo a passo para preencher a ficha de notificação da enfermidade. “Profissionais da Saúde podem e devem notificar. Isso é uma legislação. É só jogar no Google ‘ficha de notificação compulsória da coqueluche’, tem no site da Secretaria Municipal também, e aí você faz um preenchimento rápido das principais informações. Isso deflagra ações de controle”, complementou.

O que é a coqueluche

O consultor técnico do Ministério da Saúde, Paulo Roberto Abrão Ferreira, também participou da apresentação, falando sobre “Coqueluche: o que é? Qual sua importância para o GO?”. Segundo Ferreira, a doença é caracterizada pela tosse paroxística, com acessos sucedidos de vômitos e, em alguns casos, síncopes. Ele frisou que não é uma doença exclusiva de crianças e que cada vez mais, dentro da epidemiologia, adolescentes e adultos têm sido importantes neste cenário, em função da perda da imunidade vacinal.

“É uma doença com alta contaminação respiratória – cada doente pode contaminar até 17 pessoas. Ela deixa de ser transmissível cinco dias após o uso de antimicrobianos e, em 50% dos casos, é assintomática. Porém, mesmo assintomático o doente transmite. Ao contrário do que muita gente acredita, a coqueluche não dá imunidade eterna e perene, então mesmo pós-doença e pós-vacina, ela é transitória e existe uma perda depois de alguns anos, sendo necessário, no caso da vacinação, reforços”, expôs.

O médico indicou que este é o principal motivo pelo qual o número de casos em adolescentes e adultos vem aumentando em relação ao número de casos em crianças. “Essa população, hoje, é alvo de análise epidemiológica para a vacinação adequada e dos reforços para tentar reduzir a transmissão da doença na comunidade.”

Esquema vacinal

Finalizando as apresentações, a coordenadora Científica de Obstetrícia da Sogesp, Silvana Maria Quintana, discorreu sobre “Como evitar? Lembrando esquema vacinal da mulher”. A ginecologista explicou que os casos trazidos por Melissa Palmieri sobre as crianças que morreram por coqueluche refletem a indispensabilidade da vacinação em gestantes, que protegerão os seus bebês por meio dos anticorpos transmitidos de um para o outro durante a gravidez.

“A vacina dtPa vai proteger o recém-nascido no seu primeiro ano de vida, em uma taxa de proteção extremamente elevada. No entanto, os dados da Secretaria mostram que, até 2020, a cobertura era de menos de 40% das gestantes. Se o obstetra não orientar e não empenhar nessa indicação, a gestante não vai vacinar. Temos uma obrigação, um papel fundamental para isso”, expressou.

A ginecologista reforça que, mesmo se uma mulher engravidar de mais de uma criança no decorrer da vida, ela precisará sempre, em todas as gravidezes, tomar a dtPa para garantir a segurança do feto, além das outras vacinas – disponibilizadas pelo sistema público – que protegem e beneficiam mãe e bebê, como a imunização contra Hepatite B, Covid-19 e Influenza. “Essas vacinas, em conjunto com a dtPa, fazem um quarteto extremamente importante para proteger as nossas pacientes, mas, principalmente, os seus recém-nascidos. Grávidas vacinadas são ainda mais poderosas.”

Encerrando as apresentações, Maria Rita Mesquita exaltou o nível das apresentações. “Este assunto é de fundamental importância e nos deixaram algumas mensagens. Eu espero que os ginecologistas e obstetras façam a captação dessas informações para melhorar a incidência da doença, as complicações e, principalmente, a morte infantil, que é o nosso objetivo.”

Fotos: Reprodução live