Desde criança, Luciana da Cruz Noia sabia que seria médica. Formada pela Universidade de São Paulo (USP), com residência em Oftalmologia e especialização em Neuro-oftalmologia pela Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), ela construiu uma trajetória marcada por estudo, dedicação e paixão pelo que faz.
Atualmente, é chefe do pronto-socorro do Departamento de Oftalmologia da Unifesp, médica-assistente no setor de Neuro-oftalmologia do Hospital São Paulo, atende em consultórios em Taubaté/SP e em São Paulo/ SP e ainda preside a Associação Paulista de Medicina – Taubaté.
Além disso, atua na graduação de Medicina na Unifesp, bem como na turma de residentes da mesma instituição. Seu trabalho diário, que envolve cirurgias, aulas e consultas, é reflexo de uma escolha feita ainda na infância e transformada em missão de vida. A vocação para o cuidado e o bem-estar do outro sempre esteve presente. Sua convicção e força de vontade permitiram o início de uma jornada que já soma quase três décadas.
Trajetória Durante a graduação, Luciana se interessou por diversas especialidades. Entre elas, Neurocirurgia, Neurologia Clínica, Pediatria e Obstetrícia, com exceção da Ginecologia. No entanto, foi apenas no sexto ano que viveu o que define como um verdadeiro ponto de virada, ao presenciar uma cirurgia de catarata. “Quando vi aquela cirurgia, me apaixonei pela Oftalmologia e me senti completamente encantada. Achei lindíssima e um resultado maravilhoso e funcional. E foi aí que decidi seguir nesta especialidade”, relembra.
Apoiada pela família, a médica morava com os pais em São Paulo durante a faculdade. Depois da residência, chegou a fazer especialização em retina e vítreo pela Universidade de Paris XII, mas a Neuro-oftalmologia chamou sua atenção. “Com isso, fui estudando e pesquisando até perceber que não tinha mais sentido continuar atuando com retina propriamente. Esta é uma área muito apaixonante, porque precisa estudar muito, levantar cada caso de paciente, porque eles são sempre diferentes”, comenta.
Em relação à Neuro-oftalmologia, ela explica que a subespecialidade trata doenças que afetam os olhos e têm causas neurológicas, como uma neurite óptica – inflamação do nervo óptico – que pode estar relacionada à esclerose múltipla, neuromielite óptica ou até mesmo um edema do nervo óptico causado por uma hipertensão intracraniana, decorrente de um tumor ou trombose, por exemplo.
“O paciente chega ao consultório com uma queixa oftalmológica, mas é preciso esmiuçar o sintoma visual para descobrir a origem neurológica. Isso exige estudo, análise e raciocínio clínico. Aqui, no Brasil, a maioria dos profissionais que atuam na área é da Oftalmologia
Conheço um ou dois neurologistas que trabalham como neuro-oftalmologistas. Já nos Estados Unidos, a proporção é de cerca de 40% de neurologistas e 60% de oftalmologistas, porque, na prática, o exame oftalmológico é essencial para o diagnóstico de doenças neurológicas”, esclarece.
Luciana acrescenta que o maior desafio na especialidade é garantir o acesso à prevenção. “Grande parte das doenças que causam cegueira, por exemplo, vêm da retinopatia diabética, que é facilmente tratável. Os dados mostram que um melhor controle glicêmico e o tratamento precoce têm um impacto significativo na preservação da visão. Em termos de impacto na população, o que falta é uma saúde geral, que atualmente está muito ruim e isso afeta diretamente a saúde visual.”
Outro tema em destaque, segundo a presidente da APM Taubaté, é o avanço da genética, que promete tratamentos cada vez mais individualizados e personalizados. “O mapeamento genético vai permitir abordagens específicas para cada paciente e cada doença.”
Futuro da Medicina
Seu entusiasmo pelo ensino é fruto da influência de mentores que marcaram sua vida profissional, como o neurologista Eli Faria Evaristo, professor responsável por despertar seu interesse pela área. Já na Oftalmologia, ela recorda de nomes como Paulo Imamura, Mario Luiz Monteiro, Nilva Simeren e Denise de Freitas. “São pessoas que me inspiraram a buscar sempre fazer o melhor possível”, afirma.
Ao relembrar suas conquistas profissionais, ela afirma que formar novos residentes é o que mais a realiza: “Ouvir um residente repetir algo que aprendeu comigo é como ver minha contribuição se perpetuar. Acompanhar a trajetória deles, bem formados e espalhados pelo Brasil, é extremamente gratificante. Também me emociona ser reconhecida por colegas que ensinam. É como se deixássemos, juntos, uma marca no caminho de cada um. Essa é a verdadeira herança que a gente deixa”.
Ao longo de 29 anos de carreira, Luciana da Cruz Noia mantém o compromisso com a atualização constante e acompanha de perto as transformações profundas que a Medicina vem passando desde sua formação, em 1996. “Se a gente não se atualiza, acaba ficando para trás. É fundamental prezar pela formação médica de qualidade”, ressalta.
Ela também deixa um recado para os médicos jovens em relação à profissão e ao mercado de trabalho: “Não escolham a Medicina pelo dinheiro, porque ele é consequência e não a causa. Se for por isso, é melhor migrar para a área financeira. A Medicina exige vocação e é por isso que devemos fazer tudo com excelência. Afinal, a vida de uma pessoa está nas suas mãos. Quando você trabalha bem, as coisas acontecem e o mundo conspira a favor”.
Texto: Alessandra Sales
Fotos: Arquivo Pessoal
Texto publicado na edição 752 (set/out 2025) da Revista da APM