Ministério apresenta dados sobre doenças tropicais negligenciadas

Dengue, chikungunya e esquistossomose estão entre as mais comuns

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Na última semana, o Ministério da Saúde, por meio da Secretaria de Vigilância em Saúde e Ambiente, divulgou um novo Boletim Epidemiológico sobre doenças tropicais negligenciadas (DTN), com foco no impacto dessas enfermidades na morbimortalidade infantil no Brasil. Os dados apresentados abrangem o período de 2010 a 2023.

Entre os casos registrados, as doenças com maior número de ocorrências foram dengue (81,6%), chikungunya (6,0%), esquistossomose (3,7%), acidente ofídico (2,7%), hanseníase (2,7%), leishmaniose tegumentar (1,7%) e tracoma (1,2%).

Segundo o documento, as maiores taxas de detecção ocorreram nas regiões Centro-Oeste, Sudeste e Norte, com destaque para os estados do Acre, Goiás e Tocantins, principalmente em municípios de médio e de grande porte. Nestas áreas, a sobreposição de três doenças tropicais negligenciadas foi mais evidente no Centro-Oeste, especialmente no caso dos acidentes ofídicos e da dengue.

Em relação à mortalidade, os índices mais elevados foram observados no Norte, Nordeste e Centro-Oeste, com destaque para os estados de Roraima, Tocantins e Maranhão, especialmente em municípios de médio e de pequeno porte. As taxas de mortalidade também foram mais altas entre crianças residentes em localidades com Índice Brasileiro de Privação (IBP) muito alto.

Características populacionais

No total, considerando dengue e chikungunya, foram registrados 14.322.156 casos. Destes, 11,5% (1.644.521) ocorreram em crianças de 0 a 11 anos, com uma taxa média de detecção de 312,57 casos por 100 mil habitantes. As doenças mais frequentes nesse grupo foram dengue, tracoma, chikungunya e acidente ofídico.

Excluindo dengue e chikungunya, foram notificados 1.764.747 casos de DTN, dos quais 12,6% (222.048) ocorreram em crianças de 0 a 11 anos. Isso equivale a uma média anual de 15.861 casos e a uma taxa de detecção de 42,20 casos por 100 mil habitantes, com tendência de redução ao longo do tempo. As principais doenças nesse cenário foram tracoma, acidente ofídico, leishmaniose tegumentar e hanseníase.

De modo geral, o levantamento aponta que a maioria dos casos ocorreu em crianças de 7 a 11 anos, sendo mais frequente entre crianças negras, seguidas por indígenas. Além disso, os registros foram mais comuns em municípios com IBP médio ou alto.

Mortalidade

No total, foram contabilizados 126.503 óbitos por DTN na população geral. Entre crianças de 0 a 11 anos, foram 1.890 mortes (1,5% do total), com uma média anual de 135 óbitos. A maioria dos casos fatais foi causada por leishmaniose, dengue e acidentes ofídicos, afetando, sobretudo, crianças na primeira infância. A mortalidade também foi mais expressiva entre crianças negras, enquanto as taxas foram mais frequentes entre crianças indígenas.

Considerando os casos de dengue e de chikungunya, o total de crianças de 0 a 11 anos afetadas foi de 16.037.087 (28,3%), com maior incidência nas regiões Centro-Oeste e Sudeste. Sem essas duas doenças, o número de crianças sob risco foi de 2.167.174 (5,8%), concentrando-se principalmente no Norte e no Nordeste.

Estimativas e projeções

O Boletim estima que mais de 17 mil crianças de 0 a 11 anos no Brasil estão sob risco de contrair doenças tropicais negligenciadas, incluindo dengue e chikungunya, o que reforça a necessidade de inserir esse grupo em agendas prioritárias de saúde pública.

Na faixa etária de 0 a 14 anos, o documento aponta que cerca de 20 milhões de pessoas (mais de 40% do total) já foram acometidas por DTN, considerando as arboviroses, e 3,2 milhões (6,5%) quando essas doenças são excluídas da análise.

Até 2028, o Ministério da Saúde projeta um aumento na taxa de detecção para 424,54 casos por 100 mil habitantes. O objetivo é reduzir a taxa de mortalidade para 0,241 óbito por 100 mil habitantes, número ainda considerado elevado.