GSTDH: Painel Conasems debate acesso à Telemedicina na Região Sul do País

Na última quinta-feira, 6 de outubro, dia de encerramento da 4ª edição do Global Summit Telemedicine & Digital Health, maior evento de Telemedicina e Saúde Digital da América Latina, o Conselho Nacional de Secretarias Municipais de Saúde (Conasems) apresentou painel sobre as ações voltadas para o acesso da Telemedicina na Região Sul do País.

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Na última quinta-feira, 6 de outubro, dia de encerramento da 4ª edição do Global Summit Telemedicine & Digital Health, maior evento de Telemedicina e Saúde Digital da América Latina, o Conselho Nacional de Secretarias Municipais de Saúde (Conasems) apresentou painel sobre as ações voltadas para o acesso da Telemedicina na Região Sul do País. O espaço, moderado por Diogo Demarchi, assessor técnico do Conasems, contou com palestras ministradas por Simone Aparecida de Souza, diretora de Assistência à Saúde de Joinville (SC); e Karen Patrícia Wilke Ferreira Rocha, coordenadora do AME CIS de Ivaiporã (PR).

Antes das apresentações, o moderador explicou que, durante o painel, seriam abordadas questões voltadas a atividades, ações, inovações e preposições relacionadas à Telemedicina por parte dos municípios. “Hoje, serão apresentadas algumas experiências exitosas das várias realizadas em todo o País. Nosso intuito é fazer com que os participantes possam ter conhecimento máximo sobre experiências dentro da Saúde Digital em diferentes municípios do Brasil.”

De acordo com Demarchi, em um País grande e heterogêneo como o Brasil, é preciso colocar em prática determinadas políticas públicas, de maneira que consigam dialogar com as realidades de diferentes territórios. “Ao longo dos três dias do evento, pudemos entender sobre a estratégia da Saúde Digital para o Brasil dentro do Sistema Único de Saúde (SUS). Ela aborda aspectos não só de saúde suplementar, mas também do setor público, pois a saúde da população é única”, pontou o moderador.

Dentro do SUS, a pactuação de documentos para expansão da prática é uma visão do Conasems diante do conceito de planejamento – monitorado do ano de 2020 até 2028, sobre como será necessário lidar com todos esses aspectos. Segundo o especialista, também há ações prioritárias, que vão desde aspectos de governança até o ecossistema de inovação, passando por padrões, capacidade de pessoal e engajamento.

“Temos iniciativas como a famosa Rede Nacional de Dados em Saúde, que é uma plataforma de integralidade que possibilita o acesso de profissionais e cidadãos a informações qualificadas. A pandemia acabou alterando a prioridade de implementação de determinadas estratégias, diante disso, invertemos a ordem acordada em conjunto com o Ministério da Saúde e empresas estaduais, sempre priorizando aspectos em combate ao coronavírus. Desta forma, o cidadão pode enxergar resultados de exames, certificado de vacinas e outros aspectos”, destacou o assessor.

Concluindo, Demarchi ressaltou que o Conasems – enquanto representante dos municípios – tem o papel de pautar o Ministério da Saúde e outras autoridades municipais sobre iniciativas relacionadas a problemas e avanços no setor. “Com a apresentação das palestrantes, será possível perceber que os próprios municípios acabam liderando muitas iniciativas. Outros querem avançar, mas muitas vezes necessitam de estrutura adequada para isso. Em um País como o nosso, precisamos pensar em conectividade para entender todas essas informações em relação à Saúde Digital, compreender vertentes sobre a capacitação para o uso das tecnologias e garantir um planejamento que visa ações futuras”, acrescentou.

Ampliação de acesso

Simone de Souza deu início às apresentações abordando o tema “A teleconsulta como ampliação de acesso aos serviços públicos da Saúde do município de Joinville (SC)”. Enfermeira de formação e mestre em Gestão de Tecnologia em Inovação da Saúde, contou que sempre gostou de trabalhar nesta área e, aos poucos, foi implementando a tecnologia do atendimento à Saúde para a população da região.

“Parece clichê, mas a pandemia nos ensinou muita coisa, suas lições nos impulsionam a mudar posições e olhares. Devido à crise, em 2020, os municípios sofreram com a falta de informação e isolamento social. Diante disso, foi instaurado o Ligue Web Saúde, iniciativa que conta com uma equipe multiprofissional, prestando informações à comunidade em todos os seus níveis, locais de atendimento, sintomas e testagem”, explicou a diretora.

Ela enfatizou que, com o tempo, foi possível perceber que o serviço deveria seguir e ser ampliado, para trazer outros olhares e oportunidades de acesso. Em 2021, o projeto começou a inserir dentro da plataforma outros modelos de atendimento, que propiciavam apoio do próprio enfermeiro por meio da Telenfermagem, com orientações para profissionais e pacientes, porém ainda de uma maneira muito desordenada devido às ondas da pandemia.

“Seguindo para 2022, começamos a acalmar funções e processos voltados para a pandemia, optando e criando ideias para manter e estruturar ainda mais o setor e, a partir daí, inserimos em julho deste ano a teleconsulta por chamada de vídeo. Em conjunto com o Ligue Web Saúde, nasceu também a teleconsulta Ligue Web Saúde da Prefeitura de Joinville”, contou a palestrante.

Ainda enalteceu o trabalho da equipe: “Não somos muitos, mas me alegra e emociona falar dos profissionais envolvidos neste projeto. Se não fossem por eles, não estaríamos levando acesso à Saúde para tantas pessoas de nossa região, e muito menos participando de um dos mais relevantes eventos relacionados à Telemedicina em âmbito internacional”.

Hoje, o projeto trabalha com teleconsulta e teleinformação, a partir de gestão clínica baseada em linhas de cuidado. “Não houve nenhum investimento, não tínhamos recursos financeiros para ampliar a iniciativa, porém, isso não poderia ser um empecilho para desperdiçar uma equipe tão habilitada e que conhecia tão bem uma rede de Saúde, sem ao menos tentarmos melhorar o que já tínhamos, podendo propiciar melhor acesso também aos usuários.”

Com os fatores apresentados, um setor já existente foi reestruturado e, hoje, é chamado de Núcleo de Gestão Assistencial, projeto que conta com equipes multidisciplinares, compostas por psicólogos, nutricionistas e enfermeiros. O núcleo em si trabalha com gestão territorial, por meio do mapeamento e identificação das vulnerabilidades locais, cadastramento e monitoramento das equipes de estratégia de saúde da família e gestão das condições de cada região.

“Podemos dizer que é um meio que atua com atenção primária e média, fazendo a ponte para que a linha de cuidado realmente seja implantada. Percebemos que muitos médicos se sentiam inseguros por não terem experiências na área da Saúde Digital e, através do Núcleo e do Ligue Web Saúde, estabelecemos uma teleconsultoria síncrona e assíncrona voltada exclusivamente para profissionais da atenção primária. Ou seja, quando estão com dúvida, temos enfermeiros respondendo possíveis dúvidas digitalmente”, complementou.

Concluindo, Simone destacou que os principais avanços e serviços realizados pelo projeto são a renovação de receitas, retorno de exames, ambulatório de anticoagulação, ajustes de medicação e telenfermagem. “Quero finalizar com uma mensagem que muito nos define. Visualizamos na Telemedicina a certeza de que novas vivências e experiências podem ser criadas e recriadas a todo o momento, limitando-se apenas ao comprometimento e imaginação de cada um que se integra ao propósito de se desenvolver, aprender junto com o outro e acreditar.”

Estratégias de intervenção

Dando continuidade as apresentações, Karen Rocha ficou responsável por debater o tema “A ação matricial como estratégia de intervenção educacional-terapêutica para a APS: experiência do ambulatório multiprofissional especializado na 22ª região de Saúde do Paraná”. Ela explicou que o projeto desenvolvido está diretamente relacionado aos médicos e profissionais da Saúde entre dois níveis de atenção, de um lado, profissionais de ambulatórios e, do outro, profissionais que receberão ações matriciais de atenção primária.

“Por ser uma região pequena, não se torna atrativa para especialistas, temos essa dificuldade há algum tempo e, segundo estudos, a região foi notificada como baixa oferta econômica e de serviço para a Saúde, a única do Sul. Quando pensamos nisso, é preciso falar de equidade. Na maioria das vezes, quando o estado desenvolve um projeto, trata todas as regiões da mesma forma, e a nossa precisava de um olhar diferenciado”, pontuou a especialista.

Com o tempo e ajuda governamental, foi possível conseguir criar oportunidades estratégicas, sendo uma delas o ambulatório multiprofissional especializado, mantido e custeado com recursos do estado do Paraná por meio de um convênio, para exames e consultas multiprofissionais. “Atendemos seis linhas de cuidado, sendo elas de gestantes, crianças, idosos, saúde mental, diabetes e hipertensão, por isso, trabalhamos incansavelmente para que todas as equipes de atenção primária das 71 unidades de Saúde entendam os critérios de risco e façam o encaminhamento do paciente para atendimento especializado. Quando o caso é encaminhado, o ambulatório está equipado com uma equipe multiprofissional conforme a linha de cuidado, sendo compostas por um médico especialista, enfermeiros, nutricionistas, assistentes sociais, psicólogos e farmacêuticos.”

Segundo estudos, por mais que muitos médicos quisessem prestar atendimento na região, se sentiam inseguros durante a realização de consultas em pequenos municípios, muitas vezes por se sentirem sozinhos diante das necessidades da população para tomar decisões e por serem profissionais recém-formados. Dados também apontam que a rotatividade por parte destes profissionais ocorria com mais frequência nas regiões Sul e Sudeste e em municípios de pequeno porte.

“É importante pensar que há diferenças irreconciliáveis entre o modelo de centro de especialidades médicas e um ponto de atenção secundária desde o planejamento inicial, que deve ser baseado nas necessidades de Saúde. Quero ressaltar que um Centro de Especialidades Médicas atua com função meramente assistencial, e um Ponto de Atenção Secundária precisa executar a função assistencial, educacional e de pesquisa. Foram essas vertentes que pensamos para a evolução de nossa região, atendimentos não só como consultas. A partir do momento que pensamos que estes profissionais podem fazer outros tipos de atendimento, conseguimos pensar em novas soluções, no intuito de conseguir fixar profissionais no projeto”, finalizou Karen.

Fotos: Marina Bustos