O verão é sinônimo de sol, calor, praia e muita vida ao ar livre. Mas também é tempo de redobrar os cuidados com a pele. E, entre os hábitos que mais precisam mudar, está a velha ideia de que o protetor solar é coisa de férias ou de quem vai à praia. A verdade é que a proteção solar é um cuidado diário, tão essencial quanto escovar os dentes.
Sol em excesso faz mal: entenda os riscos
Temos uma cultura que associa o sol à saúde e ao bem-estar, mas o excesso de exposição, sem proteção adequada, é a principal causa do câncer de pele, o tipo de tumor mais frequente no Brasil e no mundo. O Instituto Nacional de Câncer (INCA) estima que três em cada dez diagnósticos de câncer no país sejam de pele. Apesar de ser o mais comum, é também um dos mais preveníveis — basta adotar hábitos consistentes de cuidado.
O primeiro e mais importante deles é o uso diário do protetor solar, inclusive em dias nublados ou dentro de casa. A radiação solar atravessa vidros e até as luzes artificiais e as telas de computador e celular emitem a chamada luz azul, que, embora não cause câncer, acelera o envelhecimento e o surgimento de manchas. Para quem tem melasma ou se preocupa com o envelhecimento precoce, o ideal é usar um filtro com cor, que também protege contra essa radiação.
Pele negra também precisa de proteção
Outro mito que precisa cair é o de que peles negras não precisam de protetor solar. É verdade que a melanina oferece uma proteção natural maior, mas ela não é uma barreira absoluta. O cantor Bob Marley, por exemplo, morreu de melanoma. Pessoas com fototipos 4, 5 e 6 (morena moderada, morena escura e negra) também estão sujeitas ao câncer de pele e, além disso, mancham com mais facilidade. Todos devem se proteger, independentemente da cor da pele.
O verão exige uma rotina de cuidados diferente. A pele tende a ficar mais oleosa, e isso não significa que deva ser privada de hidratação. Pelo contrário: hidratar é fundamental, inclusive para ajudar a controlar a produção de sebo. O ideal é optar por fórmulas leves, como séruns ou géis. A hidratação interna também conta: beber água e manter uma alimentação rica em antioxidantes, como frutas vermelhas, cítricas e folhas verdes — o que ajuda a proteger o DNA das células da pele contra os danos da radiação solar.
É importante lembrar que 70% da radiação solar acumulada ao longo da vida é recebida na infância e na adolescência. Por isso, a proteção deve começar cedo. Bebês com menos de seis meses não devem ser expostos ao sol; acima dessa idade, é preciso usar protetores infantis, com filtros físicos, e roupas com fator de proteção UV. A infância é uma fase decisiva para reduzir o risco de câncer no futuro.
Sinais de alerta: quando procurar o dermatologista
A detecção precoce também salva vidas. O melanoma, tipo mais agressivo de câncer de pele, tem mais de 90% de chance de cura quando diagnosticado no início. Por isso, observar o próprio corpo é fundamental. Uma regra simples ajuda: A, B, C, D e E — assimetria, bordas irregulares, cores variadas, diâmetro maior que 0,5 cm e evolução (mudanças na pinta). Se notar qualquer alteração, procure um dermatologista.
A tecnologia tem sido uma aliada poderosa. Ferramentas de mapeamento digital da pele permitem registrar e comparar, com precisão milimétrica, alterações nas pintas ao longo do tempo, especialmente em pacientes com histórico familiar. Já a chamada biópsia líquida, que identifica fragmentos de DNA tumoral no sangue, vem sendo estudada como método de monitoramento para casos de melanoma. E pesquisas com vacinas de RNA mensageiro, baseadas na mesma tecnologia usada na Covid-19, apontam para um futuro promissor no tratamento personalizado do câncer de pele.
Mas nenhuma tecnologia substitui o cuidado diário, o olhar atento e a prevenção. Usar protetor solar não é vaidade; é autocuidado e responsabilidade com a própria saúde. Assim como aprendemos desde pequenos a escovar os dentes, precisamos ensinar as próximas gerações a aplicar o protetor todos os dias — no rosto, no corpo e, especialmente, nas áreas mais esquecidas, como orelhas, pescoço, pés e couro cabeludo.
O sol é essencial para a vida, para o humor e até para a síntese de vitamina D. Mas o excesso, sem proteção, cobra seu preço. Criar o hábito de proteger a pele é um gesto simples que evita cicatrizes, sofrimento e, em muitos casos, salva vidas.
Neste verão, e em todos os outros, celebre o sol com consciência. Bronze saudável é pele protegida.
Vanessa Martins Pinto, dermatologista e professora da Afya Educação Médica de Porto Alegre, especialista em procedimentos estéticos faciais pela AMB (Associação Médica Brasileira)
Fonte: Brazil Health – acesse aqui