Para 87% dos brasileiros, é fundamental a atualização dos médicos no País, revela pesquisa da AMB

Foram realizadas 2002 entrevistas em todo o Brasil pelo Instituto DataFolha, distribuídas em 113 municípios. A margem de erro máxima para o total da amostra é de 2 pontos percentuais para mais ou para menos, dentro de um nível de confiança de 95%

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A Associação Médica Brasileira (AMB) acaba de lançar uma pesquisa inédita para conhecer a opinião dos brasileiros sobre a importância da Certificação Médica no País. O levantamento foi feito pelo Instituto Datafolha. Para 87% da população brasileira, os médicos são os profissionais que mais precisam ter comprovação de atualização profissional.

A pesquisa avaliou a percepção da população sobre a importância dessa comprovação para seis profissões, com base em uma escala de 0 a 10. Considerando as atribuições de notas 9 e 10, a classe médica ficou em primeiro lugar. Pilotos de avião (82%) ficaram em segundo lugar, seguidos por jornalistas (75%), engenheiros (74%) e advogados (71%), com uma avaliação semelhante. A atualização profissional de arquitetos (68%) foi percebida como menos importante.

Outro dado relevante é que 76% dos entrevistados consideram que, no Brasil, deveria ser obrigatória a atualização do certificado para médico especialista, 16% consideram que deveria ser opcional, ficando a critério de cada médico, 5% acham desnecessária, porque o médico já é especialista, e 2% não souberam responder. Os índices são semelhantes entre as cinco regiões do País e entre região metropolitana e interior.

O presidente da AMB, César Eduardo Fernandes, destaca a importância da pesquisa da entidade, que revelou a grande preocupação da população brasileira com a qualificação dos médicos no País, bandeira defendida pela Associação. Segundo Fernandes, no Brasil hoje há aproximadamente 600 mil médicos e 40 mil novos médicos se formando todos os anos. Dentro de poucos anos, teremos mais de um milhão de médicos. Por habitante, o País tem mais médicos que os Estados Unidos e França, Inglaterra e Canadá, por exemplo. 

“Mas e a qualificação e certificação desses médicos? Temos médicos que estão saindo com muitas deficiências das escolas. Não por culpa deles, claro, mas por culpa do aparelho formador. Por isso, somos favoráveis à criação da realização de um exame de proficiência para os graduados e formados em Medicina, nos moldes do exame da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), a chamada “OAB dos médicos”, que está sendo discutida em projetos de lei”, explica o presidente da AMB.

“Do jeito que está hoje, a pessoa sai da faculdade com o certificado de conclusão de curso e já ganha seu registro profissional, e está, portanto, habilitado legalmente a atender pacientes. Mas não sabemos a qualidade desta formação e a população identificou isso na pesquisa”, relata.

Segundo o presidente, há 440 escolas de Medicina, mais 95 escolas autorizadas a abrir, em municípios pequenos, e cerca de 190 com processo judicial com ganho de causa. “Ou seja, chegaremos em breve a mais de 700 escolas de Medicina, o que é um descalabro total. O Brasil já é o segundo país com mais escolas médicas do mundo, só perde para a Índia, que tem 600, mas com uma população seis vezes maior que a nossa. Isso começou com uma ideia provavelmente boa, de aumentar a disponibilidade de médicos no País, mas se perdeu com o tempo e muitas destas instituições viraram grandes negócios. É preciso haver regras mais rígidas”, conclui.

A AMB lançou, em junho, a Campanha de Valorização do Título de Especialista com o objetivo de divulgar a importância da especialização dos médicos para a sociedade brasileira, incentivar os médicos a buscarem a certificação e o aprimoramento contínuo e, por fim, destacar os rigorosos critérios exigidos para a obtenção do título de especialista da AMB.

RISCOS AOS PACIENTES
O secretário geral da AMB, Florisval Meinão, afirma que o profissional malformado pode ter muito mais dificuldades reais para estabelecer diagnósticos corretos, e atrasar tratamentos que poderiam oferecer mais qualidade de vida ao paciente. “Ao fazer diagnóstico equivocados, ele irá oferecer tratamentos equivocados, pedir mais exames, onerar o sistema público e privado de saúde. Então, certamente a má formação médica e a falta de atualização e certificação podem oferecer riscos à população.” 

E completa: “Preocupa a velocidade e a fúria na formação de novos profissionais. Em breve, teremos um número excessivo de médicos — e muito mal preparados. São médicos que estudam em escolas onde faltam docentes e campo de ensino, e que também cresceram significativamente. E o médico não se forma assistindo vídeos ou fazendo provas, mas sim atendendo pacientes, tendo contato constante com os professores. E isso falta nas escolas”.

Outra informação importante do levantamento é se o paciente procuraria informações sobre a qualificação do médico especialista, como onde se formou, se participou de congressos, cursos ou outras atualizações, antes de marcar uma consulta. 64% dos entrevistados procurariam informações sobre a qualificação do médico especialista antes de marcar uma consulta, caso estejam disponíveis, sendo que 31% deles buscariam para todas as consultas e 33% para algumas especialidades. Comparando o total com cada região, o Centro-Oeste é o que tem o menor índice de intenção de buscar de informações (56%).

“É necessário ter uma política de provisionamento de médicos, o profissional precisa ser qualificado e sobretudo determinante nas unidades básicas de saúde.  A nossa resolutividade é muito baixa por conta da desqualificação de médicos no nosso País. Precisamos, efetivamente, de uma carreira de Estado. Entendemos que o problema do Brasil não é falta de médicos. O ponto é: qualidade”, finaliza César Fernandes.

PERFIL DOS ENTREVISTADOS
 
O estudo foi realizado no final de março de 2025, com a população de 16 anos ou mais de todas as classes econômicas. Ao todo, foram feitas 2002 entrevistas em 113 municípios brasileiros, sendo 40% em regiões metropolitanas das capitais e 60% no interior (Esta amostra é representativa da população brasileira com 16 anos ou mais: 166,485 mi habitantes – população estimada 16 anos ou mais – PNAD 2023/ Estimativa IBGE 2024). A margem de erro máxima para o total da amostra é de 2 pontos percentuais para mais ou para menos, dentro de um nível de confiança de 95%.

A amostra é composta por 52% de mulheres e 48% de homens, com média de idade de 43 anos. Quanto à escolaridade, 22% cursaram o nível superior, 45% chegaram ao ensino médio e 34% ao ensino fundamental. Em relação à classe econômica, 25% pertencem às classes AB, 47% à classe C e 29% às classes DE. Observa-se que os índices das questões abordadas no estudo, importância da comprovação da atualização profissional, obrigatoriedade da atualização do certificado médico para especialista e a busca de informações sobre a qualificação dos médicos antes das consultas, são mais altos entre os entrevistados com maior escolaridade e renda, entre os economicamente ativos e os que têm plano ou seguro de saúde.