Residência Médica é tema de reflexões no 3º Congresso de Medicina Geral da AMB

Fernando Tallo e Ana Maria Zuccaro relembraram o papel da especialização e as perspectivas para o futuro

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O diretor de Eventos da Associação Paulista de Medicina e 2º tesoureiro da Associação Médica Brasileira, Fernando Sabia Tallo, foi um dos palestrantes da tarde da última quinta (24), no 3º Congresso de Medicina Geral da AMB. Ao lado da gastroenterologista Ana Maria Zuccaro, ele participou da mesa redonda “Residência Médica. Como chegamos aqui?”, coordenada por Luciana Rodrigues Silva, 1ª vice-presidente da AMB e que também teve Marcela Carneiro Vasconcelos Pavani, diretora Social da Comissão Especial de Médicos Jovens da APM, como representante da Comissão Nacional de Médico Jovem da AMB.

Segundo Tallo, cujo tema da palestra foi “A situação da Residência Médica no Brasil. Onde estamos? Para onde iremos?”, o País não possui um sistema de dados profundo e confiável, que colabore para análise e tomada de decisões. “Quando pensamos em alguém que possa ter esses dados, pensamos em gestão e política, para conseguir prever o que vai acontecer no futuro. Um bom gestor tem que antecipar acontecimentos e estou falando isso porque eu acho que quando pensamos na graduação, precisávamos ter pensado no futuro da residência, mas não pensamos e isso criou uma tragédia brasileira.”

O especialista relembrou a abertura desenfreada de escolas médicas no Brasil, comparando o número exacerbado de 230 novas escolas com a realidade de outros países, em um cenário em que os Estados Unidos abriram 30 faculdades na última década; Espanha, 25; Reino Unido, nove; Japão, uma; e Coreia do Sul, que está há décadas sem abrir novos cursos e, quando o país recentemente tentou fazer isso, houve uma notável paralisação por parte dos médicos.

“A política expansionista foi privada, injetando dinheiro na veia do ensino superior em grandes grupos econômicos. Não existe modelo generalista no resto do mundo. Nos países da OCDE, nem 5% dos médicos não são especialistas. Estamos criando um excesso de pessoas sem especialização”, argumentou.

Para o diretor da APM e da AMB, a residência médica é a principal salvação do processo formativo brasileiro e precisa ser defendida, já que é a maneira mais adequada de formar bons profissionais, por conta de sua carga horária ser mais de 80% prática e focada no treinamento especializado dos futuros especialistas.

“A palavra mágica em Medicina é ‘resolutividade’, resolver o problema do doente e do sistema. Sem residência, não há um sistema de Saúde resolutivo e sem planejamento, não há futuro. Se não mudarmos, o crescimento da Medicina levará à precarização, à desconexão com os princípios do SUS, evasão de talentos, desilusão precoce do jovem e colapso. O SUS precisa de especialistas por região e perfil epidemiológico, quando isso não acontece, a consequência é a desigualdade regional, subespecialização urbana e falta de resolutividade do cuidado”, complementou. 

Novos tempos
Em seguida, Ana Maria Zuccaro falou sobre “Novos tempos e desafios da Medicina no Brasil”. Ela recordou que o século XX se consolidou como o auge da Medicina e da Ciência no Brasil e no mundo, englobando grandes progressos, respeito pela sabedoria dos profissionais e remuneração digna.

No entanto, como resultado da falta de visão estratégica e ética, imediatismo e desconhecimento de regras de mercado, vem se observando a destruição do trabalho amplamente elaborado pela Associação Médica Brasileira junto às sociedades de especialidades.

“Não existe mais tempo de escuta com o paciente, é preciso entender que ele tem uma história de vida e familiar, predisposição genética, alergias. Ele é um ser único e nem gêmeos univitelinos são idênticos geneticamente. A ausência do exame físico resulta em solicitações absurdas e desnecessárias, que levam a resultados errados e desvalorizam a relação médico-paciente. Se presta uma Medicina de baixa qualidade e sem segurança no Ato Médico”, descreveu.

Segundo a médica, editorial do periódico The New England Journal of Medicine demonstra que este não é um problema unicamente brasileiro e se reflete na indústria da Saúde por meio de um controle elevado e rígido do médico e de sua autonomia, a fim de consolidar o lucro financeiro.

“O resultado disso é que a Medicina deixou de ser uma Ciência centrada no melhor para o paciente, baseada na melhor evidência científica para cada caso, e passou a ser focada no maior lucro e no maior custo. Desapareceram os empregos, a meritocracia, o respeito trabalhista. Os contratos são temporários, voláteis e ocorre a desvalorização contínua do saber”, explicou.

Para Ana Maria, uma maneira para resolver esta situação seria seguir o ditado que diz que a arte muda a vida. “Eu acho que deveríamos imitar a arte. Construir a carreira como uma trajetória de herói de ficção, baseada no conhecimento acumulado, no saber científico, princípio ético, equidade, valor, virtude, respeito a si mesmo, aos colegas e às expectativas e decisões do paciente. Ter uma relação médico-paciente de confiança mútua – isso é fundamental. Nós temos que ter responsabilidade médica e social”, finalizou.

Fotos: Divulgação