Última tertúlia de 2025 aborda a literatura como um instrumento terapêutico

A palestra foi conduzida pelo acadêmico e ginecologista Jesus Paula Carvalho

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Na última quarta-feira, 10 de dezembro, a Academia de Medicina de São Paulo realizou a última tertúlia do ano, realizada de forma híbrida a partir da sede da Associação Paulista de Medicina. O convidado especial foi o ginecologista Jesus Paula Carvalho, que apresentou um tema que integra Cultura e Saúde: a literatura como instrumento terapêutico.

A apresentação do acadêmico foi introduzida por Edmund Chada Baracat, vice-presidente da AMSP, que fez uma breve apresentação do convidado. Formado pela Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP), onde também realizou seu doutorado e livre-docência, Jesus é professor associado de Ginecologia e chefe do setor de Ginecologia Oncológica, com atuação no Instituto do Câncer do Estado de São Paulo. Ele possui uma vasta produção acadêmica, incluindo 136 trabalhos em periódicos internacionais, dois livros e 36 capítulos de livros.

Jesus iniciou a palestra destacando que, apesar do conhecimento médico ser imenso, ainda não é possível curar todas as doenças ou eliminar todos os sofrimentos. Ele argumenta que, para certas situações, é necessário abordar o paciente de maneira diferente, que vá além de pílulas ou bisturis, reconhecendo que a doença não é apenas física. Ele explicou que existem ferramentas milenares, como a literatura, que podem ajudar na cura sem serem consideradas charlatanismo. “A biblioterapia, ou seja, o uso de literatura com fins terapêuticos, é um instrumento que está nos livros e pode ser utilizado junto com o nosso arsenal médico.”

Segundo Carvalho, quase todos os tipos de obras como ficção, romances, biografias, contos, poesias e até letras de músicas podem ser usados como complemento da prescrição médica. Ele ressaltou que, muitas vezes, após o atendimento, sugere uma leitura junto com a medicação. E mantém um arquivo de textos curtos que imprime na hora para suas pacientes, com o retorno muito positivo.

O acadêmico apresentou estudos que comprovam a eficácia da prática, como um realizado na Escócia com pacientes diagnosticados com depressão. Um grupo usou medicamentos antidepressivos, e o outro foi orientado a ler o livro “Overcoming Depression” (Superando a depressão), seguido de discussão. Após quatro meses, o grupo da leitura teve o dobro de resultados positivos em comparação com o grupo medicado. Outro estudo, feito no Brasil, em Ribeirão Preto, com adultos que tinham ansiedade e problemas de sono, mostrou que escutar textos poéticos, música e literatura selecionada por 30 dias resultou em uma redução significativa nos níveis de ansiedade e distúrbios do sono, comparável ao uso de medicações.

Para o especialista, a biblioterapia é extremamente útil para grupos específicos, como dependentes químicos, idosos e adolescentes. “Ela serve também para os médicos, porque vamos aprender não só sobre a doença física, mas o que está em torno, como a doença mental, social e os distúrbios que a estão causando. Muitas vezes, nosso diagnóstico focado no físico é apenas um pedacinho do problema. A biblioterapia é ótima, e é melhor ainda quando é compartilhada”, completou.

Jesus Carvalho exemplificou essa prática contando que, durante a pandemia de Covid-19, quando as pacientes buscavam ajuda por não saberem o que estava acontecendo, ele realizava rodas de conversas por videoconferência com cerca de 40 mulheres. Além de alertar e informar sobre a Covid-19, ele as ajudava a lidar com as emoções usando textos como “Congresso internacional do Medo”, de Carlos Drummond de Andrade; “Maldição”, de Olavo Bilac; e “Murar o Medo”, de Mia Colton.

Ao final da apresentação, o médico indicou algumas obras, como “Como se fosse um monstro”, de Fabiane Guimarães; “A Gorda”, de Isabela Figueiredo; “Vou perder meus cabelos”, de Laetitia Colombani; e “O perigo de estar lúcida”, de Rosa Monteiro. “Ler obras literárias faz bem para a saúde, pois o paciente associa os problemas dos personagens com aquilo que vive”, concluiu.

Confira os textos publicados pelo médico neste link.

Fotos e Texto: Maria Lima (sob supervisão de Giovanna Rodrigues)