A importância de ouvir o paciente é tema da abertura da V Jornada de Dor na Mulher

Promovendo debate sobre temas atuais e enriquecedoras discussões, o Comitê Científico de Dor da Associação Paulista de Medicina realizou, no último sábado (3), a V Jornada de Dor na Mulher.

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Promovendo debate sobre temas atuais e enriquecedoras discussões, o Comitê Científico de Dor da Associação Paulista de Medicina realizou, no último sábado (3), a V Jornada de Dor na Mulher. Telma Zakka, presidente do Comitê, fez as honras e apresentou a palestra inicial do evento, que ocorreu de forma presencial na sede da APM.

“É com muita alegria que recebemos todos os participantes nesta quinta edição da jornada. Em nome da APM e do Comitê Científico de Dor, garanto que preparamos um evento repleto de especialistas em diversos assuntos, que irão proporcionar não só uma troca de conhecimentos, mas também discussões interessantes sobre todos os temas escolhidos”, introduziu Telma.

Ouvir e escutar

A especialista iniciou sua apresentação explicando a diferença entre escutar e ouvir, e a importância de estar atento a tudo o que o paciente relata, sua história e o que possivelmente ocasionou sua dor. “A intenção é que possamos refletir para depois recebermos as informações, por isso, gostaria de tratar das particularidades da dor feminina. É comum ouvir que é direito da mulher sofrer e exprimir seus sentimentos e as coisas que a aflige. Ouvir é perceber pelo sentido da atenção, e escutar é ouvir com a intenção de entender. Dentro das particularidades da ocorrência da dor, podemos citar alguns dos principais fatores, sendo eles relacionados a questões biológicas, hormônios sexuais, emocionais, sociais, crenças, atitudes e comportamento.”

Dentro do painel de dor crônica em homens e mulheres, nota-se que nas regiões Centro-Oeste e Nordeste do País, homens sentem mais dores do que as mulheres. Em relação à idade, na maioria das vezes dores crônicas ocorrem depois dos 40 anos, quando se inicia o climatério. Sobre a prevalência, as mulheres também são as que mais se queixam de dor e apresentam maior nível de intensidade, duração e tolerância aos estímulos dolorosos.

“Em relação às investigações clínicas, a mulher sempre é subcolocada. Sendo assim, a maior parte de pesquisas clínicas sobre dor é realizada em homens, e um dos motivos podem ser as alterações hormonais. Estudos mostram que mulheres são descritas como sensíveis e histéricas no controle da dor, mas precisamos rever estes conceitos, já que artigos demonstram claramente a desvalorização das dores femininas do contexto clínico”, refletiu a palestrante.

Telma Zakka também salientou que há perguntas que não são feitas por medo das possíveis respostas – principalmente as que se referem a abusos, violência doméstica, física, sexual, moral, patrimonial etc. “Não precisamos lidar com os problemas, mas precisamos ouvir e encontrar o melhor jeito de tratar as consequências desses abusos. Sabemos que relatos de

dor de mulheres que passam por essas situações aumentam e, entre os sintomas mais comuns, podemos citar enxaqueca, infecções genitais, disfunção de sono e alimentação. Os problemas são bem mais extensos, levando muitas pacientes a desencadearem quadros de ansiedade e depressão e, nos piores casos, podem chegar a cometer suicídio ou até mesmo homicídio”, enfatizou a especialista.

Casos clínicos

Voltando às particularidades, a presidente do Comitê explicou sobre a forma de atendimento médico às mulheres com dor, e reforçou que tudo piora na mudança de ciclos, momento em que ocorrem índices elevados de testosterona devido às variações nas respostas dolorosas com o ciclo menstrual. “Além disso, muitos estudos mostram que o estrogênio e a testosterona modulam a sensibilidade à dor. Já outras pesquisas mostram que o processo ocorre por variações na ativação cerebral (áreas cognitivas e motora) relacionadas à dor.”

A especialista acentuou que na maioria de seus atendimentos, costuma ouvir, observar suas pacientes e fazer a seguinte pergunta: “O que você nunca conta em outros atendimentos e realmente sente que precisa falar?” – que resulta em uma série de relatos sobre traumas passados que continuam presentes ao longo dos anos.

“Vemos que os problemas persistem, entretanto, quando são contados, tendem a melhorar muito, pois um peso foi tirado. Em todo o contexto, meu papel é apenas escutá-las. Quando as pessoas tomam determinadas atitudes, é preciso entender o outro lado, já que às vezes existe violência e trauma por trás de todo o histórico da doença”, ressaltou.

Telma Zakka ainda citou o Paradoxo de Hoffman, que se baseia na ideia de que mulheres sentem mais dor pois estão autorizadas a queixar-se, sendo também menos protegidas pelo sistema de Saúde. Além disso, recebem mais diagnósticos de síndromes dolorosas crônicas, têm seus relatos de dor pouco valorizados e sendo considerados de cunho psicológico ou inexistente, gerando, desta forma, subdiagnóstico e subtratamentos.

“Termino dizendo que quando tratamos da dor, é fundamental fazer todos os exames, diagnósticos e procurar o melhor tratamento, mas também precisamos levar em consideração o acolhimento ao pacientes, é preciso vê-lo, observá-lo durante a consulta e, principalmente, escutar com compassividade para entender tudo o que está relacionado à sua queixa. Somente desta forma prestaremos o melhor serviço e entenderemos seu caso”, concluiu.

Programação

A segunda palestra da jornada foi ministrada por Andrea Toscanini, sobre “O uso de opioides interfere no sono?”. Em seguida, falaram Malebranche Berardo C. Cunha Neto, sobre Dor e hormônios; Rogério Adas, a respeito de Déficit cognitivo e climatério; e Gabriel Kubota, sobre Dor pós-covid: estado da arte.

No horário de almoço, houve simpósio satélite da Supera Farma, com Telma Zakka, sobre Climatério, dor e osteoporose. A programação da tarde contou com aulas de Perola G. Papler (Sarcopenia), Diego Toledo (Exercícios físicos na reabilitação da dor feminina), Carolina Kobayashi (Dor articular no climatério), Cláudia Palmeira (Cannabis e dor na mulher), Caio Simione (Enxaqueca e Ciclo Menstrual) e Hélio Plapler (As pétalas do consultório).

Fotos: BBustos Fotografia