CQH inicia Congresso com foco em hospitais sustentáveis

As conferências foram realizadas de forma on-line, via plataforma Zoom, e trataram do tema central do evento “Hospitais Sustentáveis: a discussão sobre ESG na área da Saúde”

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Nesta quarta-feira, 20 de setembro, teve início o XXIII Congresso Brasileiro de Qualidade em Serviços de Saúde e VI Congresso Brasileiro de Medicina Preventiva e Social e Administração em Saúde – organizados pelo Programa Compromisso com a Qualidade Hospitalar (CQH), da Associação Paulista de Medicina. As conferências foram realizadas de forma on-line, via plataforma Zoom, e trataram do tema central do evento “Hospitais Sustentáveis: a discussão sobre ESG na área da Saúde”.

O presidente da APM, José Luiz Gomes do Amaral, participou da cerimônia de abertura, cumprimentando os participantes e salientando a importância do assunto. “Houve um tempo, não tão distante, em que a preocupação das instituições hospitalares era simplesmente trazer uma solução ao problema de saúde do paciente. Hoje, esta preocupação continua e é objeto central das instituições médico-hospitalares, mas a responsabilidade sobre outros fatores tão importantes quanto, como sustentabilidade e meio ambiente, é absolutamente fundamental e é o que procuraremos discutir neste evento.”

Wófsi Yuri Guimarães de Souza, coordenador-geral da Agência Brasileira de Cooperação do Ministério das Relações Exteriores (ABC), deu início às apresentações, relatando os “Projetos de Cooperação na Área da Saúde junto ao Governo Brasileiro”. De acordo com ele, o Ministério parte de uma missão constitucional relacionada aos princípios que regem o Brasil e as suas relações internacionais, sendo muito importantes para orientar ações de longo prazo não baseadas em administrações governamentais, mas em uma visão de Estado, possibilitando a cooperação entre os povos em prol do progresso da humanidade.

O coordenador da ABC explicou que o papel da Agência é também o de criar parcerias, levando as experiências brasileiras e os esforços de desenvolvimento, de acordo com as necessidades das diferentes nações. “Na Saúde do Brasil, temos a grande satisfação de ter um setor público muito bem estruturado, que apesar de todos os desafios e dificuldades cotidianas, atende toda a sua população. Dois pontos fundamentais são o investimento em profissionais capacitados e a disponibilidade de conhecimento. Temos a possibilidade de ter uma riqueza de experiências em um País de dimensões continentais, e a integração de diferentes vivências das regiões enriquece muito o potencial do País em levar respostas para as diversas situações encontradas ao redor do mundo.”

O palestrante também salientou que é preciso haver compromisso em apoio às mudanças que estão sendo propostas. É importante dizer que a Cooperação Brasileira recebeu um reconhecimento expressivo na Saúde nas últimas décadas, como o modelo de prevenção e tratamento de infecções sexualmente transmissíveis e a saúde materno-infantil. Para a ABC, é motivo de muito orgulho ter a capacidade de contribuir com outros países em desenvolvimento e que têm recebido a assistência do Brasil na Saúde.

“A nossa experiência mais recente de cooperação conjunta foi com Moçambique, envolvendo o tema de qualidade na gestão hospitalar. Estamos em um momento muito importante de ampliação da nossa presença na África, que reconhecemos como um continente do futuro, que tem grandes soluções que podem ser compartilhadas. Essa relação tem que ser cada vez mais ampliada e fortalecida. Certamente, o projeto com Moçambique é apenas o início de uma nova fase que vai integrar a cooperação técnica entre pessoas na melhoria de iniciativas públicas para outros países”, concluiu.

Ações

Em seguida, a assessora de gabinete da Secretaria de Estado da Saúde de São Paulo, Maria Cristina Coimbra, assumiu a apresentação para falar sobre “Ações do Estado de São Paulo para a sustentabilidade na Saúde”. Neste sentido, destacou que o capital humano vem se tornando cada vez mais importante para que organizações alcancem o seu objetivo, e que vai delas enxergar as pessoas apenas como recursos – desconsiderando necessidades e não trazendo estímulos – ou como parceiras – possibilitando maior comprometimento, reconhecimento e sendo uma fonte de inspiração.

Maria Cristina relembrou que, atualmente, a transformação tem muita força e a velocidade em que os conhecimentos são incorporados é avassaladora. “Vivemos em um mundo em que somos expostos a uma gama muito grande de informações e consumimos o conteúdo de forma muito rápida e distinta. As pessoas querem aprender de forma diferente e existe uma quantidade enorme de materiais disponíveis, mas é importante que as lideranças entendam essas mudanças de comportamento para que possam oferecer mais oportunidades de aprendizado.”

Além disso, a assessora também comentou que as possibilidades de carreira vão muito além do modelo tradicional e que as organizações corporativas devem aproveitar a multiplicidade de capacidades que cada pessoa tem – já que isso gerará impactos positivos e agregará valor. Outro ponto está relacionado ao envelhecimento da população, ocasionando o chamado lifelong learning, que consiste em uma busca contínua por conhecimento, habilidades e desenvolvimento pessoal ao longo de toda a vida.

“Ao envelhecer, temos a questão da convivência intergeracional, que representa desafios e traz benefícios muito importantes. Hoje, temos quatro gerações atuando juntas no mercado de trabalho, os baby boomers, geração X, Y e Z, cada uma com perfis completamente diferentes e a riqueza está exatamente nisso, na convivência e no quanto é possível aproveitar as melhores características de todas essas pessoas, que têm anseios e histórias tão distintas. A única coisa na vida que é realmente constante é a mudança, e precisamos compreendê-la para poder fazer cada vez mais e melhor”, complementou.

Cooperação  

Encerrando o bloco de apresentações, esteve presente Chiaki Kobayashi, especialista em cooperação internacional da Jica (Agência de Cooperação Internacional do Japão), falando sobre o tema “Projetos de Cooperação na Área da Saúde junto ao Governo Japonês”. O especialista dividiu a apresentação em três partes: Moçambique e contextualização; Sistema de Saúde em Moçambique; e Cooperação Trilateral de Melhoria de Gestão Hospitalar.

Ele relembrou que o setor de Saúde moçambicano é liderado por um Ministério da Saúde. Em 2021, a pasta solicitou um projeto de cooperação técnica de gestão hospitalar ao Brasil e ao Japão. Moçambique, que atualmente possui mais de 32,4 milhões de habitantes, é um país que conta com uma larga taxa de fecundidade (5,2 filhos/mulher), acompanhado de uma expectativa de vida muito baixa (53,7 anos) e problemas relacionados à desnutrição crônica e hipertensão arterial – fazendo com que o projeto de reestruturação do sistema contribua para amenizar tais estatísticas.

O sistema de Saúde é dividido entre o setor quaternário, que conta com hospitais centrais e especializados; terciário, com hospitais provinciais e gerais; secundário, hospitais distritais e rurais; e primário, em que estão localizados os centros de Saúde. Em média, esses hospitais atendem entre 19% e 36% da população.

Neste sentido, o país vem realizando um projeto de cooperação trilateral com o Brasil e o Japão, no intuito de possibilitar melhorias na gestão hospitalar. Dentre as expectativas, estão a gestão da rede hospitalar no contexto da descentralização; transformação de um sistema de referência; formação da gestão hospitalar, modalidade de gestão e instrumento da avaliação do desempenho dos gestores; entre outros. Esta cooperação possibilita o desenvolvimento da política de capacitação de recursos humanos, fornece apoio para mãe e crianças e traz fortalecimento às redes hospitalares e às instalações de treinamento.

“O objetivo do projeto é fortalecer a capacidade de gestão hospitalar para a melhoria dos serviços prestados nos hospitais modelos para a população. No Brasil, temos alguns parceiros que nos apoiam, como o Hospital das Clínicas e o Hospital Santa Cruz. Também temos um projeto muito parecido na Guatemala. O nosso desafio é também mudar um pouco a mentalidade dos gestores nos hospitais para a aplicação de novos modelos. São questões básicas, mas fundamentais para a melhoria”, constatou.

Texto: Julia Rohrer

Fotos: Reprodução Congresso CQH