Ensino de ética e bioética médica são temas da Tertúlia de abril

A palestra foi apresentada por Clóvis Francisco Constantino, bioeticista, pediatra e diretor de Previdência e Mutualismo Adjunto da APM

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A Academia de Medicina de São Paulo (AMSP) realizou mais uma edição de sua tradicional Tertúlia Acadêmica na última quarta-feira, 10 de abril. O palestrante, Clóvis Francisco Constantino – bioeticista, pediatra e diretor de Previdência e Mutualismo Adjunto da APM –, abordou o tema “Ensino de ética e bioética na graduação de Medicina”.

O presidente da Academia de Medicina de São Paulo, Helio Begliomini, abriu o encontro saudando os convidados e apresentando o palestrante. “Clóvis é natural de Campinas, se graduou na Escola Paulista de Medicina em 1972. Ele tem uma forte ligação com a Academia, tendo sido coordenador e preceptor da Residência Médica em Pediatria no Conjunto Hospitalar do Mandaqui, hospital no qual foi um dos fundadores da comissão de ética”.

Fundamentos

Clóvis Constantino iniciou sua palestra apresentando o Código de Ética Médica e o Código de Ética do Estudante de Medicina, ambos do Conselho Federal de Medicina (CFM). Ele destacou que esses livros são compostos por textos interativos para que os alunos possam interpretá-los, pois um dos problemas enfrentados nas faculdades de Medicina é a compreensão dos artigos que compõem a obra.

“No primeiro contato dos alunos com o ensino médico, é essencial apresentar o oncologista norte-americano Van Renssealer Potter. No início dos anos 70, ele escreveu vários artigos sobre a sobrevivência humana, em função do importante avanço tecnológico que o mundo estava vivenciando”, comentou. Potter acreditava que nem tudo que é cientificamente possível é eticamente aceitável, pensamento que culminou na criação do livro “Ciência da sobrevivência humana, uma ponte para o futuro”, ainda reverenciado hoje.

Segundo Constantino, antes mesmo das publicações fundamentais para a bioética da década de 1970, o médico alemão Paul Max Fritz Jahr, em 1927, publicou no Cosmo (periódico alemão) um artigo que mencionou pela primeira vez o termo “bioética”.

O palestrante explicou que o campo da ética e bioética é transdisciplinar, pois pode se modificar por meio de fundamentos, ou seja, há pluralidade. Para ele, essa pluralidade é transcendida por meio de debates, soma de conhecimentos de áreas variadas, inter-relações e a possibilidade de levar as pessoas a outros pontos de vista, fazendo-as, muitas vezes, mudar de opinião sobre o que consideram certo ou errado.

“Em 1978, o Relatório Belmont publicou os três princípios básicos para o relacionamento inter-humano e interprofissional na área de Saúde: respeito pelas pessoas, beneficência e justiça. Já aqui no Brasil, nos anos 90, tivemos a bioética com motivação política, social e ambiental, sendo discutida muito a questão da equidade. Nesta mesma época foi fundada a Sociedade Brasileira de Bioética”, destacou o especialista.

Clóvis Francisco Constantino durante apresentação.

Ética e educação

Na opinião do especialista, hoje um dos desafios no ensino médico, segundo ele, é mostrar a responsabilidade em relação à profissão médica. “Vivemos em uma época de desconfiança, a diferença incomoda, todos somos culpados de algo até que se prove o contrário. Isso é uma característica de toda a sociedade atual”.

Clóvis Constantino elucidou o conceito de individualismo baseado em uma citação do filósofo Emmanuel Lévinas (1996), que diz: “A essência do ser humano está fundada no princípio da alteridade, a capacidade de sairmos de nós mesmos por meio do encontro com o outro”. Levando em conta este argumento, ele afirma que os profissionais da Medicina devem e precisam ter isso em mente.

“No processo de formação dos médicos, nos preocupamos com o aprimoramento ético-moral, pois eles [os alunos] têm bastante conteúdo durante toda a graduação e depois na residência. Então buscamos mostrar que não importa o volume e a qualidade do currículo se isso não for posto em benefício das pessoas”, salientou.

Finalizando a apresentação, o conferencista usou uma alusão do bioeticista estadunidense Edmund Pellegrino, que afirma que “a Medicina é a mais humana das ciências, a mais empírica das artes e a mais científica das humanidades”.

Helio Begliomini, presidente da AMSP.

Texto: Ryan Felix (sob supervisão de Alessandra Sales e Julia Rohrer)

Fotos: Alexandre Diniz