Empreendedorismo e liderança feminina foram alguns dos temas abordados na tarde da última terça-feira, 21 de novembro, no Global Summit Telemedicine & Digital Health APM. O encontro reuniu cinco personalidades femininas que atuam como líderes no setor da Saúde e compartilharam experiências pessoais e profissionais, além de contarem como é ser mulher em posição de liderança em uma área majoritariamente composta por homens.
Isabela Abreu, CEO e fundadora da RedFox Digital, foi quem apresentou o debate; no palco, também estavam Denise Eloi, CEO do Instituto Coalizão Saúde; Jihan Zoghbi, fundadora e CEO da Dr. Tis; Daniella Bahia, diretora médica do Grupo Fleury; e Isabela Santana, psiquiatra e diretora técnica em Psiquiatria na Telavita.
Trajetórias
Jihan Zoghbi contou que vivia com sete irmãos em sua casa no Líbano. Segundo ela, na cultura do país, era comum que meninas se casassem com 15 e 16 anos, mas os sonhos de Jihan eram outros; ela preferiu sair da aldeia na qual vivia para estudar fora, pois lá não havia possibilidade de cursar uma graduação.
“Eu consegui uma bolsa e fui estudar Medicina, mas sempre odiei Biologia, gostava mesmo era de Matemática. No segundo ano, depois de estudar muito, consegui uma bolsa na American University of Beirut e fui estudar Matemática. O que mais me deu motivação para fazer essa troca era saber que na minha aldeia somente os homens ensinavam e aprendiam Matemática, e eu queria mostrar que nós mulheres somos tão capazes quanto e queria ensinar as meninas”, relatou Jihan.
Denise Eloi, por sua vez, iniciou sua carreira no setor financeiro na década de 1980, período em que o único cargo oferecido no setor para as mulheres era em datilografia ou atendimento. Foi então que surgiu o conceito de capitalismo sustentável e ela viu uma oportunidade de construir sua carreira e se destacar.
“Eu amo a minha trajetória, mas não dá para romantizar. Fui mãe solo por 28 anos, não foi fácil. Acredito que atualmente deveria haver uma mobilização da sociedade pedindo por políticas públicas que apoiem as mulheres, e uma dessas ações deve ser a criação de boas creches”, pontuou.
Mulheres líderes
Ao ser indagada sobre a implementação da inteligência artificial na Saúde, Daniella Bahia afirma que ainda há uma aversão a isso, porque pode representar um risco se usada de forma inadequada. “Nos últimos 10 anos, temos trabalhado todos os dias fazendo ajustes. Na Medicina, precisamos testar e ver se funciona para nós. Estamos seguindo neste ritmo de análise. É importante falar que temos que escolher onde e como vamos aplicar a IA, e descartar o que não serve. Precisamos de muita mentoria e ferramentas de apoio. Como mulheres, creio que temos consciência e paciência com esses processos”, respondeu.
Como líder, ela orienta que para garantir que novas tecnologias se implementem na instituição na qual atua, é necessário gerar engajamento de toda a equipe e o estímulo da empatia. Além disso, o desejo de inovação, a estrutura organizacional e a ritualização são pilares que a líder também considera imprescindíveis para o sucesso na Saúde Digital. Em sua opinião, o fato de ser mulher ajuda na conexão com a equipe, no companheirismo e, acima de tudo, agir com resiliência.
De acordo com Isabela Santana, ao longo do curso de Medicina, ela queria se lembrar de que, acima de psiquiatra, ela também seria paciente, pois entendia que se algum dia chegasse a ocupar algum cargo de liderança, por ser mulher, já teria suas habilidades questionadas e haveria momentos difíceis. “Até hoje, infelizmente, as mulheres ainda são subjugadas a um modelo de trabalho inferior.”
Ela considera que é cobrado o dobro de responsabilidades das mulheres, que se sobrecarregam com duplas ou até triplas jornadas de trabalho. “Esse fenômeno reflete mais em mulheres. Isso fica muito visível, pois essa sobrecarga leva ao adoecimento, ao burnout, as mulheres chegam no limite do limite”, alertou.
Ao finalizar a dinâmica, as profissionais deixaram mensagens de apoio e motivacionais para que outras mulheres se inspirassem. A moderadora do encontro, por exemplo, lembrou da falta de instruções e de ajuda no campo do planejamento profissional que acomete a população feminina, principalmente a periférica. “Elas se veem muito perdidas. São pessoas que têm talento. Então, como mulheres, podemos abrir caminho para essas companheiras”, concluiu Isabela Abreu.
Confira os principais destaques do segundo dia do GS APM 2023 neste link e as fotos aqui.
Texto: Ryan Felix (sob supervisão de Giovanna Rodrigues)
Fotos: Marcos Mesquita Fotografia