Desigualdade racial e de gênero são debatidos no APMCast

Neurocirurgiã e diretora de Serviços aos Associados da APM, Diana Santana foi a entrevistada

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Na última quinta-feira, 22 de maio, a Associação Paulista de Medicina divulgou mais um episódio da segunda temporada do APMCast. Na ocasião, a entrevistada foi a neurocirurgiã e diretora de Serviços aos Associados da entidade, Diana Lara Pinto de Santana, falando sobre mulheres na Medicina, questão de gênero e desigualdades raciais nos ambientes acadêmico e profissional.

Segundo Diana, a Medicina vem contando com uma ascensão expressiva de mulheres médicas e a expectativa é de que essa curva continue crescente no decorrer dos próximos anos. No entanto, tal progresso não é acompanhado pela população negra. “Sabe-se que aproximadamente 3% dos médicos no Brasil são pretos. É uma quantidade ainda muito insignificante. Além disso, apesar de estarmos crescendo na Medicina [as mulheres], existe ainda uma discrepância muito grande no que diz respeito à liderança.”

Em relação às desigualdades, a médica também contou que o seu pós-doutorado analisa a diferença de tratamento e desfecho clínico entre pacientes negros e brancos submetidos a neurocirurgias. “No meu estudo, eu verifiquei os subgrupos de pessoas brancas e negras, homens e mulheres. Vi diferenças como desfecho e a forma como eles chegavam aos nossos serviços. Assim, observei que, realmente, existia uma diferença, pacientes negros tinham um desfecho pior em relação aos brancos e os que tiveram os piores resultados, infelizmente, foram as mulheres negras.”

Ambiente acadêmico e hospitalar

Para a diretora da APM, o número de estudantes negros nas universidades ainda é baixo. “Óbvio que tem que ter uma política da universidade, e que se façam mais ações afirmativas dentro da docência, porque a gente sabe que dentro dos cursos, apesar de existir uma nota diferenciada, muitas vezes não é o suficiente para colocar mais docentes negros na universidade. Apesar de existir a tentativa, acho que falta um empenho maior para que isso aconteça”, opinou.

Seguindo o tema, Diana afirmou que a Neurocirurgia sempre foi a sua primeira opção, mesmo antes de entrar na faculdade, por conta de uma grande curiosidade em relação ao funcionamento do cérebro e de suas habilidades manuais. Para ela, o professor Jamary Oliveira foi uma grande inspiração, contribuindo para que o amor pela especialidade crescesse ainda mais.

Questionada sobre racismo no ambiente acadêmico e profissional, a entrevistada salientou que os preceptores sempre foram muito acolhedores. Todavia, quando estava no hospital, a realidade enfrentada era diferente. “Tinha muita ‘confusão’ das pessoas acharem que eu era da limpeza ou uma profissional de outra área da Saúde, e isso vem até hoje. Em relação a vir do Nordeste também. Já tive que ouvir durante a residência que eu, sendo mulher, teria que ser pelo menos duas a três vezes melhor que meus colegas homens. São coisas que nos marcam e dão uma dor no coração, mas espero que isso mude.”

Realização

Diana, que acumula mais de 20 mil seguidores em seu Instagram, revelou que começou a utilizar a plataforma como uma provocação a uma postagem que parabenizava o Dia do Neurocirurgião utilizando apenas a foto de um homem. Desde então, seu crescimento foi orgânico e atualmente ela utiliza a rede social para falar sobre diferentes temas, sem o objetivo de atrair uma clientela específica.

A neurocirurgiã, que é mãe de gêmeos, salientou que ter uma rede de apoio é fundamental para conseguir seguir uma carreira tão agitada e cheia de imprevistos como a Medicina. Para ela, a felicidade precisa estar na constância ao longo de toda a trajetória – seja pessoal ou profissional.

“Não dá para fazer uma escolha de uma especialidade baseada apenas no retorno financeiro, no que está na moda ou no que se julga que dará menos trabalho naquele momento. Espero que muitas pessoas ouçam esse podcast e se inspirem, que isso, de certa forma, abra caminhos para outras pessoas”, complementou.